tag:blogger.com,1999:blog-49441641979816677032023-11-15T14:59:37.767-03:00ContraevidênciasMichel NavarroLatinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-1387618750066034902012-06-18T11:33:00.001-03:002012-06-25T00:40:18.955-03:00Se eu fosse um militante marxista heterodoxo, o que eu diria da heterodoxia acadêmica.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> <span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;">É
comum na academia, marxistas ou simpatizantes do marxismo argumentarem, quando
fazemos qualquer crítica às teses centrais do marxismo ortodoxo (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">etapismo, economicismo, obrerismo,</i> etc),
que esse dogmatismo já foi há muito superado no marxismo, e que, durante o
século XX, revisões profundas foram realizadas por pensadores das mais diversas
nacionalidades. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;">Não
há dúvida que na academia muitos dos dogmas do marxismo ortodoxo sofreram
críticas sistemáticas, e, em muitos casos, se não foram abandonados por
completo, passaram por profundas revisões. Mas entre revisões realizadas no
âmbito da academia e a sua concretização em teorias e práticas abraçadas por
sindicatos, partidos e movimentos sociais, existe uma distância considerável. A
crítica à ortodoxia marxista, ortodoxia cuja expressão hegemônica ainda é o
bolchevismo, permanece ainda atualíssima quando é feita a partir da perspectiva
militante, e não nos departamentos de filosofia, sociologia, economia, ciência
política, história, etc. </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;">Em
grande parte dos movimentos sociais, partidos de esquerda e sindicatos
combativos, a maioria das teses e metodologias que fundamentaram e fundamentam
as interpretações da realidade e as práticas da militância ainda são teses e
metodologias características da ortodoxia marxista. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Quanto
ao modelo de organização, as organizações apresentam, na sua maioria,
estruturas internas rigidamente verticalizadas, com centralização das decisões
em uma pequena elite dirigente (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">centralismo
democrático).</i> Quanto às suas teses, ainda vigoram as concepções da precedência
do econômico sobre o político e cultural (sendo os dois últimos supervenientes
do primeiro), a centralidade do operário industrial como o sujeito revolucionário
e projeções teleológicas de que a cada crise do capitalismo o seu fim se
configura no horizonte, etc. Tais proposições são ainda marteladas em cursos de
formação para a militância, e orientam os rumos das organizações e as práticas
de muitos dos seus militantes, e, em especial, dos seus dirigentes. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Claro
que nem todas as teses são defendidas em todas as organizações, mas, de modo
geral, sempre há um conjunto delas hegemonizadas nos movimentos e partidos.
Afora as teses, ainda o mais danoso às organizações é, de longe, o modelo
organizacional que ainda vigora em quase todas elas, salvo poucas exceções. As
estruturas verticalizadas têm sido, recorrentemente, as principais causas
internas de burocratização dos movimentos, imprimindo, em parte, nas
organizações sociais e políticas um descolamento entre base e direção que só
contribui para a desmobilização e a inviabilização estrutural do protagonismo
dos militantes da base, tão essencial para que as organizações não percam sua
combatividade, força e perspectiva revolucionária. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Entretanto,
apesar do modelo bolchevique de organização ser muito mais danoso às
organizações de esquerda do que teses como as da centralidade do operariado
industrial e de que, necessariamente, o capitalismo nos conduzirá, em virtude
das suas contradições internas, a um modo de produção superior, ou seja, o
socialismo, não se pode negligenciar a copresença recorrente nas organizações -
ainda que não necessária - do modelo de organização verticalizada, das teses da
vanguarda revolucionária (aquela que introduz de fora a consciência
revolucionária na classe) e da centralidade do operariado industrial. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Um exemplo recente de uma
disposição caricata dessa relação ocorreu no ato, chamado pelo PSTU, em
solidariedade a Pinheirinho. O ato que saiu do centro da cidade de São José
dos Campos e terminou na prefeitura, estava disposto da seguinte maneira: na
frente, iam os dirigentes do partido (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">vanguarda
iluminada</i>); logo atrás, os militantes do partido (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">órgão que unifica a classe e a guia rumo à revolução</i>). Em um
terceiro plano, encontravam-se os militantes da central sindical do partido, a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Conlutas</b>, (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">organização dos trabalhadores submetida ao partido</i>); depois os
estudantes (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">dentre eles os futuros
dirigentes em potencial</i>). E, por fim, o resto dos movimentos sociais e
independentes (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">massa amorfa que segue
cegamente seus dirigentes e partido revolucionário, mera correia de transmissão
do partido</i>). Entre cada setor
compartimentado da “cosmovisão” bolchevique do PSTU, havia uma faixa impedindo
o desarranjo da disposição que é dada, a priori, pela “teoria revolucionária” a
cada setor.da classe A cada um a sua posição engessada previamente “na marcha
histórica rumo ao socialismo”.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">A
imensa variedade de marxismos que a academia tem produzido nada ou quase nada
influenciou, ate agora, as organizações sociais e políticas da esquerda
marxista combativa. E se isso se deve em muito à própria estrutura das grandes
instituições universitárias no capitalismo, orientadas principalmente para
formar os filhos das classes dirigentes, uma parte importante da “culpa” reside
no fato de que os intelectuais marxistas que reviram os dogmas da ortodoxia, em
especial do bolchevismo, não eram e não são “intelectuais orgânicos”, ou seja,
que dedicaram e dedicam o seu trabalho intelectual em auxiliar a classe
trabalhadora organizada na sua luta contra o capital. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">O
bolchevismo, nas suas diversas expressões (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">leninismo,
trotskismo, stalinismo, maoismo</i>), ainda é a ideologia predominante nas
organizações de esquerda tanto combativas quanto adeptas do jogo institucional
burguês. Com isso não quero dizer que
não houve fora da academia, e sistematizadas teórica e praticamente no calor das
lutas, perspectivas marxistas heterodoxas, que questionaram os postulados e métodos
bolcheviques. Rosa Luxemburgo e os conselhistas são exemplos de alternativa ao
bolchevismo. Tais correntes do marxismo, no entanto, nunca cresceram ao ponto
de pôr em risco a hegemonia bolchevique na esquerda marxista durante todo o
século XX até agora. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">A
força que o bolchevismo adquiriu internacionalmente a partir da derrota da
revolução russo, tomada do poder pelos bolcheviques, aniquilação de qualquer
oposição de esquerda, desmantelamento dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sovietes</i>
livres e conselhos de fábrica, resultando na consolidação do Estado soviético
autoritário e imperialista que durou quase oito décadas, foi um dos fatores
essenciais para o fracasso do marxismo “heterodoxo” presente nas lutas de
massa. Mas mesmo após duas décadas do
fim do “socialismo real” e do controle dos partidos comunidas pelo Partido
Comunista Russo, ainda assim o bolchevismo continua a ser a ideologia dominante
nos setores organizados da classe trabalhadora. E esse quadro geral de
dogmatismo teórico e prático na esquerda marxista não alterará nada se novas
propostas e recuperação de antigas não sairem de dentro das organizações sociais
e políticas, alimentando-se de práticas novas e antiautoritárias da própria
classe, e engendrando metodologias de prática e análise capazes de se apresentarem
como alternativas ao bolchevismo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Caso contrário, as
teses e práticas bolcheviques continuarão a confeccionar o mais do mesmo, e a
heterodoxia do marxismo permanecerá sendo gestada de intelectuais para
intelectuais, sem que, em função do seu distanciamento do “mundo da vida”, faça
o menor sentido como ferramenta que auxilie a classe trabalhadora na luta
contra o Estado e o capital.</span> </span></div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-85661335115718320662012-05-11T14:31:00.001-03:002012-05-14T12:24:22.547-03:00A Argentina como exemplo para a periferia da União Européia.<br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: large;"><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-indent: 0px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;"> <span style="font-size: large;"> A reestatização do petróleo e gás argentinos, com
ampla aprovação popular pelo governo de Cristina Kirchner, assim como no caso
da nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia em 2006, provocou na mídia
oligárquica, como esperado, uma chuva de ameaças e “supostas previsões” dos
danos que isso pode causar à economia do país. Isso para não mencionar os
argumentos recorrentes de que a reestatização violaria contratos “legalmente”
efetivados entre o governo e o setor privado. Mas esses argumentos se revelam falácias
neoliberais assim que nos detemos aos fatos.</span></span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> A onda neoliberal de privatizações, que ocorreu
em especial na década de 90 do século passado, conduziu os países
latinoamericanos a uma dependência ainda maior do capital internacional,
passando para capitais privados setores estratégicos da economia, que sempre
são fontes de receita importantíssimas para o Estado. As privatizações na
América Latina foram conduzidas à revelia de sua população, engordaram os
cofres de multinacionais que, a preços de banana, adquiriram o direito de
explorar nosso petróleo, gás, minérios, etc., e enviar os lucros para seus
países de origem. O caso boliviano é emblemático no tocante à renacionalização
de um setor estratégico que viabilizou uma fonte de divisa – antes toda enviada
para o exterior – que retorna em investimentos em políticas de saúde, educação,
moradia, etc., nunca anteriormente implementadas no país, que até então era o
mais pobre da América do Sul.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> A Argentina é, sem dúvida, um dos países que mais
sofreu os efeitos da política imperialista de privatizações, por ter seguido à
risca os imperativos do consenso de Washington. As políticas econômicas
neoliberais levaram o país a sua pior recessão entre 1998 e 2002. Mas ele vem
demonstrando o conteúdo ideológico – desde que declarou moratória da sua dívida
externa – do discurso fomentado por Washington, FMI e OMC, de que
não manter “os compromissos” com as instituições financeiras internacionais
conduz, necessariamente, à inflação galopante, escassez de divisas, e que,
somado ao fechamento do crédito internacional, provoca a falência do país.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Nos últimos 10 anos, o PIB argentino cresceu 90%
e os investimentos sociais praticamente triplicaram. A renacionalização do
petróleo e gás parece, com isso, ser mais um passo de Buenos Aires para
reverter parte dos danos causados por mais de uma década dogmatismo neoliberal.
57% da companhia de petróleo argentina, a YPF, estava em mãos da Repsol,
empresa espanhola, e já há 7 anos que a extração de petróleo do país baixou
quase 20%. Dado o fato de o país, como salientou Mark Weisbrot no artigo
replicado no </span><a href="http://www.negodito.com/a-a-argentina-como-exemplo-para-a-periferia-da-uniao-europeia/www.outraspalavras.net" target="_blank"><span style="color: blue; font-family: Times New Roman;">Outras Palavras</span></a><span style="font-family: Times New Roman;">, ter dificuldade com empréstimo no mercado
financeiro, a nacionalização do petróleo e gás será determinante para a
Argentina “acumular um volume importante de divisa”, tanto a fim de evitar uma
crise na balança de pagamento, quanto para poder investir no desenvolvimento
interno.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Reassumir o controle do setor energético é
substancial para a soberania e independência de um país. Entretanto, isso de
nada adianta caso os recursos gerados por essas fontes não forem revertidos
para a população através de investimento sistemático em políticas públicas. A
Venezuela tem mostrado métodos para que a principal fonte de receita de um país,
no caso venezuelano o petróleo, possa ser posto a serviço de sua população por
meio de programas que visam fomentar políticas sociais não meramente
assistencialistas, mas que mobilizem o povo e as organizações populares, e
incentivem sua participação como sujeitos de tais programas. No caso
venezuelano podemos citar as Missões Sociais, as Universidades Populares, os
Conselhos Comunais, as Comunas e muitos outros.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Os exemplos dos governos progressistas da
Venezuela, Bolívia e Argentina, não somente têm contido o avanço do
neoliberalismo em nosso continente, como também evidenciado que muitos dos
danos das políticas econômicas neoliberais podem ser revertidos se houver
vontade política para tal, principalmente porque qualquer decisão que sugira
fortalecimento da soberania do país continua a receber apoio da maioria da sua
população.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Olhando para o Brasil – a partir do exemplo dos
nossos hermanos – já no terceiro mandato do PT, vemos como, apesar do apoio que
sem dúvida receberia da sua população, o governo brasileiro não mostra indícios
de renacionalizar setores fundamentais privatizados durante o governo FHC, por
exemplo, o setor de mineração. Está certo que o Brasil não levou a cabo as
privatizações com tanto afinco como na Argentina, mas não nos esqueçamos que
isso se deveu em muito à pressão exercida pelos setores populares, e não por
intenções estratégicas de realizar uma política moderada de privatizações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"><br />
O país, nos últimos anos, continua a camuflar esse regime de vendas de
estatais. Por meio da estratégia de Parcerias Público-Privadas – a pele de
cordeiro, o eufemismo usado sem parcimônia – o governo usa os créditos do BNDES
para financiar grandes empresas privadas, sobretudo as empreiteiras que,
engordando seus cofres com as licitações ganhas para obras do PAC, adquirem
direitos de explorar por décadas os recursos naturais, destruindo o
meio-ambiente, superexplorando a mão-de-obra dos trabalhadores e violando o
direito dos povos originários de decidir sobre o destino dos seus territórios.
E em muitos casos com risco zero para essas empresas, com o governo arcando com
todos os prejuízos que venham a ocorrer.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Quanto à dívida pública, ao contrário do Equador,
que realizou uma auditoria à respeito e concluiu que há muito já havia pago
grande parte dela, declarando que só aceitava entre 25 e 30% do valor dos
títulos, continuamos a pagar altos juros, cortando, para manter nosso superávit
fiscal, investimentos em políticas públicas e gastos sociais dos setores mais
empobrecidos da população. Quase metade do orçamento público tem sido usado
para pagar juros e amortizações da dívida pública.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Numa conjuntura econômica como a atual, em que a
Europa e EUA continuam mergulhados na crise desde 2008, o exemplo argentino
aponta que pode haver sim alternativa aos países da periferia do euro, cujos
governos têm aceitado todas as imposições de ajustes fiscais e cortes nas
políticas públicas, obrigando, no limite do insustentável, suas populações a
pagar com desemprego ainda mais impostos e privatizações os demandes dos bancos
e de seus governos. Há, sim, uma primeira saída rumo a uma soberania: a
moratória.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> O que falta é coragem política para os governos
desses países seguirem os anseios de suas populações, que dado o seu
descontentamento expresso em manifestações e greves, apoiarão medidas que
enfrentem a voragem dos bancos credores e a pressão dos países centrais da zona
do euro, que sediam esses bancos, rompendo com a União Europeia e com sua
condição de Estados reféns do capitalismo financeiro.</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"> Em especial para os países periféricos
da zona do euro, Buenos Aires tem mais a dizer sobre radicalização da sua
soberania do que o nosso glorioso Brasil</span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></div>
</div>
</span><span style="font-size: large;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-indent: 0px;">
<span style="font-size: large;"></span></div>
<div style="color: #222222; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;">
</div>
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-81536980511327833752012-03-19T10:52:00.001-03:002012-03-19T18:36:58.673-03:00Pinheirinho: o Estado salvaguarda a propriedade.<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><b><br />
</b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">As remoções no Brasil de populações de periferias, favelas, ocupações, comunidades ribeirinhas tradicionais, etc., é um processo cuja tendência será de intensificação ainda mais nos próximos anos. A política econômica neodesenvolvimentista do Estado Brasileiro, mais as grandes obras associadas direta e indiretamente aos megaeventos que ocorrerão nos próximos anos (Olimpíadas e Copa do Mundo), aquece a especulação imobiliária e impulsiona o processo de competição pela apropriação privada do território.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Esse processo não pode ser compreendido sem se atentar para o papel central do Estado brasileiro no seu fomento. O caso de Pinheirinho é, sem dúvida, paradigmática. E não somente por ter ocorrido no estado economicamente mais forte do país, tornando mais midiático um fenômeno que já vem ocorrendo em outras regiões, impulsionado nelas principalmente pelo governo federal. Mas por ser também um exemplo bem claro de como o Estado, por meio do seu aparato jurídico e repressor foi mobilizado para defender a propriedade privada de um megaespeculador que deve milhões para o Estado em impostos não pagos e já foi preso por especular na bolsa consigo mesmo (Naji Nahas emprestava dinheiro de bancos para comprar grandes quantidades ações usando contas correntes de diversas empresas que controlava, para induzir outros investidores a fazem o mesmo, aumentando artificialmente os preços acusado de criar empresas de fachadas), o que resultou numa condenação de 24 anos, revertida, claro, em instancias jurídicas superiores. Além disso, Naji Nahas é conhecido por criar, através de laranjas, empresas que compram suas dívidas com as empresas credoras; as empresas de fachada oferecem a compra imediata da dívida, mas por um preço abaixo do valor real do débito; ou seja, Nahas reduz o valor de suas dívidas tornando-se credor de si mesmo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> Nove mil moradores, que apesar da completa ausência do Estado, construíram suas moradias e toda a infraestrutura de um bairro (rede de esgoto, ruas, rede elétrica, etc), e que por isso para ter suas casas regularizadas seria para o Estado um custo ínfimo, são removidos violentamente, com casos claros de violações de direitos humanos, para salvar a propriedade privada de um megaespeculador que responde a processos de várias ordens. Polícia e sistema jurídico de plantão para fazer valer a lei da propriedade privada independentemente de quem seja o detentor da propriedade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Pinheirinho, mais uma vez, mostra que o Estado brasileiro continua sendo condição necessária para fazer valer incondicionalmente a lei da propriedade privada, mesmo que para isso seja preciso até mesmo destruir as condições básicas para que os explorados possam reproduzir minimamente a sua força de trabalho: moradia.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> O caso de Pinheirinho não é uma violação que deve ser reduzida a uma questão de governo: teria ocorrido porque São Paulo é governado pelo PSDB . Pode ser que se o PT estivesse governando São Paulo não teria ao menos ocorrido a remoção com o grau de barbaridade que foi. Contudo, esse modelo de remoção incondicional vem sendo aplicado pelo governo federal em vários locais do país, e em alguns locais com o mesmo grau de violência. A violência, sobretudo da polícia federal, na Bahia com o povo indígena tupinambá, por exemplo, continua e a sua razão é a mesma: a questão fundiária.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A remoção de favelas, comunidades ribeirinhas, povos originários vem ocorrendo com total consentimento do governo federal, e é a expressão de um modelo de desenvolvimento econômico impulsionado e defendido pelo próprio PT, e por parte significativa da intelectualidade de esquerda. A lógica de desenvolver a todo custo, e que o desenvolvimento trará necessariamente distribuição de renda, sem que seja necessário alterar no seu fundamento as causas históricas da desigualdade social brasileira, como a questão fundiária, é o projeto posto em prática pelo governo petista.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">O que ideologicamente e na prática não se distingue muito do projeto dos militares. No caso da questão fundiária, inclusive, o projeto “de modernização conservadora” dos militares, de modernizar tecnologicamente a agricultura mantendo o latifúndio, encontrou sua consolidação definitiva no governo petista, que não somente assentou menos do que durante a ditadura, mas que fortaleceu de vez o agronegócio, tornando-o ainda mais central para a economia nacional, o que se materializa na dependência do país em relação às exportações de <i>commodities</i> agrícolas para uma balança comercial positiva. Não é por acaso que o arquiteto da “modernização conservadora”, Delfin Neto, ministro da Fazenda e depois da Agricultura durante a ditadura, tece sempre elogios à política econômica do governo petista e é colunista da principal revista governista de tiragem nacional. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> Com a aproximação dos megaeventos, as remoções aumentarão ainda mais, e a violência de Estado recrudescerá, escancarando ainda mais a centralidade da questão territorial na luta de classe no Brasil.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> A criminalização dos movimentos sociais, com a repressão sistemática e imediata de qualquer manifestação de rua, impedindo que os setores populares organizados levem as suas demandas para as ruas, ocupando o espaço público, que é um direito constitucional, não deixa dúvidas de que estamos vivendo sob um estado de exceção, e que garantias constitucionais conquistadas com muita luta e resistência dos trabalhadores são simplesmente desprezadas pela própria entidade que, no marco da democracia capitalista, deveria garanti-las.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> A política urbana nas grandes cidades tem sido de expulsão sistemática dos pobres dos espaços, de “higienização” dos centros e áreas de interesse imobiliário, elitizando e privatizando os espaços públicos. Incêndios criminosos de favelas, expulsão por elevamento dos aluguéis em uma região de interesse, remoções a força pelos aparatos de repressão aumentam a cada dia nas grandes cidades.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A violência que ocorreu em Pinheirinho está em total acordo com o projeto de desenvolvimento que vem sendo implementado, tendo no aumento do preço da terra, quer no campo quer na cidade, uma condição necessária.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">O interesse do Estado e empresas por regiões ainda não exploradas, sobretudo as periferias das grandes cidades, onde se concentra a maioria da população brasileira excluída desse desenvolvimento, é o sinal mais evidente de que esse projeto está em franca ascensão, uma vez que o aumento da disputa pela apropriação privada do espaço é indicador de uma economia capitalista aquecida e em expansão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A intervenção direta do Estado brasileiro na remoção de populações inteiras de seus lares para garantir o bom andamento da especulação imobiliária já é, sem dúvida, o principal problema posto para os movimentos populares das cidades brasileiras. E nos próximos anos será o terreno onde a luta de classes no Brasil estará mais acentuada. O impasse para os movimentos urbanos está posto. Resta saber se os movimentos serão capazes de se articular e consolidar uma frente nacional de resistência capaz de enfrentar um projeto de reprodução do capitalismo que o governo federal já definiu e para cuja realização mobilizará o que for necessário.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Por isso fica a pergunta: será Pinheirinho um anúncio claro do que está por vir? <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-23070989790421439772012-01-19T12:11:00.002-02:002012-01-19T13:06:20.427-02:00Irã: prenúncio de mais uma invasão imperialista.<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;"><div align="center" class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;"><b><br />
</b></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">A guerra não declarada contra o Irã já ultrapassou há bom tempo os limites de uma guerra retórica. Desde os governos de Bush II, que na sua política de “guerra contra o terror” enquadrou o Irã no “eixo do mal”, até o governo Obama, os Estados Unidos conseguiram que a ONU passasse 4 sanções econômicas contra o Irã. Todas as sanções são justificadas com o mesmo argumento: o governo dos aiatolás está enriquecendo urânio com o propósito de construir armas nucleares. A última resolução, de 9 de junho de 2011, <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;">ampliou o escopo de sanções já aprovadas nas três resoluções anteriores. A resolução prevê punições a entidades estrangeiras que venham a vender petróleo refinado ao Irã, ou auxiliar a sua capacidade doméstica de refinamento. Países estão proibidos também de permitir que o Irã invista em suas plantas de enriquecimento nuclear, minas de urânio e outras tecnologias nucleares relacionadas e de venderem equipamento militar pesado para o país, como tanques, aviões, sistemas de mísseis, etc. Outro alvo de impacto das resoluções é sobre negócios e transações financeiras feitas pelo corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, cujos membros possuem várias empresas no setor de energia. 40 empresas estão na lista negra e o Banco Central Iraniano foi mencionado, seguido de um pedido para que os países “exercitem vigilância” ao negociar com ele.</span></span> Agora, os Estados Unidos pressionam para que mais uma resolução seja votada, com o propósito de colocar entraves para o Banco Central do país, dificultando o pagamento de contas e <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;">estrangular as transações financeiras entre o Banco Central Iraniano e os bancos centrais dos outros países</span>, além de restringir transações internacionais com outros bancos iranianos. A ameaça se estende com a possibilidade ainda de futuras sanções direcionadas especificamente para o petróleo iraniano. Os Estados Unidos ameaçam bloquear a importação de petróleo do Irã, o que, consequentemente, dificultaria a recolha de receitas da venda do petróleo, principal fonte de receita do país. <span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Georgia, serif; font-size: 8.5pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.4pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif; text-indent: 35.4pt;">No teatro de informações e contra-informações, porta-vozes estadunidenses sustentam que o bloqueio às importações de petróleo ocorrerá caso o Irã continue com as ameaças de bloquear o estreito de Ormuz, pedaço de oceano entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, e por onde passam entre 30% e 40% de todo o petróleo consumido no mundo.</span></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: "Georgia","serif";">Mas para além da propaganda forjada na grande mídia internacional de uma suposta “ameaça iraniana” para a segurança da ordem internacional, o fato é que os Estados Unidos estão, por todos os meios, tentando forçar ações mais “ousadas” por parte do governo iraniano de forma a construir mais justificativas para uma futura invasão. Os Estados Unidos sabem que sanções econômicas nunca enfraquecem os regimes - quer ditatoriais quer não - que de alguma maneira se opõem a aceitar uma posição de governos clientelistas sob dominação estadunidense. Quanto ao enfraquecimento de um regime, sanções econômicas, de modo geral, se mostraram contra-produtivas. O que acaba por ocorrer é o fortalecimento do regime por maior apoio que passa a receber de sua população ou pelo aumento da repressão interna, que passa a justificar a repressão a qualquer movimento de oposição sob o argumento de que esses movimentos são financiados pelas forças imperialistas. Sanções sempre atacam mais a população do que o governo. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">No Iraque, por exemplo, uma década de sanções sistemáticas, e muito mais pesadas das que estão sendo impostas ao Irã, foi razão direta da morte de milhares de crianças e do empobrecimento da maioria da população, e somente contribuiu para que a ditadura de Saddam se tornasse cada vez mais violenta e repressiva. Sanções estrangulam a população e fortalecem o regime.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: "Georgia","serif";">Se sanções não vêm sendo uma estratégia eficaz de derrubar regimes não clientelistas, embora vendidas como tais, qual é então a razão real de os Estados Unidos, por meio das Nações Unidas, insistirem nessas medidas? Bom, dado os resultados, os objetivos parecem bem claros: punir diretamente a população pelo “mal” comportamento do regime. E aqui entenda-se “mal comportamento” por não servilismo e não participação na ordenação geopolítica imposta por Washington para a região. E, por meio dessa punição, levar o regime a “comportamentos” que alimentem a justificativa de uma invasão do país para “restabelecer” a suposta “estabilidade ameaçada”. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: "Georgia","serif";"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">Não somente o petróleo é a razão do imperialismo estadunidense na região, mas sem dúvida é a questão fundamental. Uma década de invasão do Iraque não trouxe estabilidade interna ao país e para a região. Muito pelo contrário. O Iraque está hoje mergulhado em conflitos sectários, com o pouco que ainda existia de infraestrutura e serviços públicos esfacelados, aumento do empobrecimento da população, aproximadamente um milhão de mortos diretamente por razão da guerra, a proliferação de organizações terroristas internacionais no país (organizações cuja presença era praticamente inexistente antes da invasão) e um governo fantoche que nem sequer consegue gerenciar os conflitos de poder entre seus quadros. Contudo, apesar do caos em que se encontra o Iraque e dos gastos exorbitantes com a guerra – em grande parte pagos com dinheiro do contribuinte estadunidense - as fontes de petróleo do Iraque, segundo maior produtor do mundo, estão quase todas sob controle das grandes corporações de petróleo ocidentais (Shell, BP, ExxonMobil). De acordo com a Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos - só para se ter uma ideia do potencial de reservas em petróleo em solo iraquiano - o Iraque possui em reservas estimadamente 112 bilhões de barris, e calcula-se ainda que 90% das reservas continuam não exploradas em decorrência das sanções econômicas e da guerra. </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">As gigantes estadunidenses do petróleo estavam fora do Iraque desde 1973 até a invasão do país em 2003. Desde a invasão, essas corporações conseguiram os principais e mais lucrativos contratos de exploração do petróleo e gás da região. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">As relações amigáveis (de tempos) entre EUA e a ditadura saudita, regime de longe o mais repressor na região, asseguram a hegemonia das corporações de petróleo estadunidenses no país, que é o maior produtor de petróleo no mundo. E, com a invasão estadunidense do Iraque e o controle do petróleo pelas corporações ocidentais, os ianques consolidam a sua hegemonia sobre a produção e comercialização do petróleo do Oriente Médio. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">Mas, apesar da crise econômica em que se encontra, com uma dívida pública imenso, aproximadamente 10% da população desempregada, ainda afogado no Afeganistão, etc., os Estados Unidos mostram, apesar do ceticismo de muitos analistas, uma disposição para, a curto ou médio prazos, invadir o terceiro maior produtor de petróleo do mundo. Se o governo Obama não fez ainda, explicitamente, ao menos na esfera da retórica dos pronunciamentos públicos, uma ameaça direta de possível invasão, a maioria dos candidatos republicanos, na sua corrida para ver quem enfrentará Obama nas eleições presidenciais de 2012, não mede palavras quando o assunto é Irã: atualmente o governo dos aiatolás é a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos e do mundo, e se preciso haverá uma incursão militar. Quem ainda pensa que uma invasão do Irã está longe de ocorrer, dado, sobretudo, o contexto da crise econômica por que passa os EUA e o mundo, subestimam o poder que o complexo industrial bélico estadunidense tem para pressionar o governo dos EUA a estar constantemente em guerra. Os Estados Unidos não sairiam do Iraque e anunciariam a saída do Afeganistão para 2014, sem que tivessem no horizonte uma nova incursão militar para um tempo não tão distante. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Georgia","serif";">Com os poços de petróleo da Arábia Saudita e Iraque assegurados, o que falta para consolidar de vez a hegemonia ocidental no controle do petróleo do Oriente Médio seria justamente o petróleo iraniano. Mas como criar as condições para que as corporações estadunidenses sejam hegemônicas no Irã? Para que isso ocorra, dado a dificuldade de ascensão de um governo clientelista no Irã, parece não haver outra alternativa que não a invasão militar. Até mesmo para aqueles que gostam de ver na política externa estadunidense para Oriente Médio sempre a sombra do sionismo, ou seja, do famoso <i>lobby</i> israelense, creio que um pouco mais de análise revela que uma futura invasão do Irã pelos EUA responde muito mais à estratégia econômica e militar do próprio EUA, do que uma suposta pressão de Israel. É muito provável que, caso se inicie os preparativos mais concretos para a invasão, principalmente com a tentativa de votação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU autorizando uma intervenção, algum país com poder de veto vote contra. Contudo, lembremos que os Estados Unidos invadiram o Iraque mesmo sendo vetada a invasão no Conselho de Segurança. Portanto, não nos surpreendamos se isso se repetir no caso do Irã. O que fica ainda por ver é se países como a China (que importa petróleo iraniano e investe fortemente na construção de infraestrutura no país) e Rússia se oporão de forma mais incisiva, ao menos no campo da diplomacia, tentando inclusive intervir para que negociações sejam estabelecidas. Contudo, mais uma vez, lembremos que no ano passado Brasil e Turquia, ainda que longe de terem o poder de barganha de uma China, realizaram um acordo com o Irã, acordo inclusive proposto pelo próprio governo dos Estados Unidos, </span><span style="font-family: Georgia, serif;">segundo o qual o Irã se comprometia a transportar parte do seu urânio de baixo enriquecimento para ser armazenado na Turquia, em troca de combustível nuclear para pesquisas na área médica. Mais detalhadamente, o acordo demandava que o Irã enviasse 1.2 toneladas de urânio, o que era aproximadamente metade do que ele possuía, para a Turquia, sob supervisão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Em troca, o Irã receberia, dentro de um ano, 120 kg de combustível altamente enriquecido de alguns países signatários do tratado de não proliferação de armas nucleares (dentre eles, EUA, Rússia e França). Todavia, assim que o acordo foi consolidado, Washington declarou ceticismo em relação a sua eficácia, e manteve a campanha por mais sanções econômicas. O que provou que os interesses estadunidenses de pressão sobre o Irã não se reduziam à questão nuclear. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;">A população iraniana parece muito ciente das ameaças pelas quais passa o seu país, e da possibilidade de num futuro próximo sofrer uma intervenção da maior potência bélica do globo, que possui o maior arsenal nuclear existente e cujos gastos militares anuais somam sozinhos entre 43% e 46% do total mundial, ou seja, quase a metade da soma dos gastos militares de todos os países do mundo juntos. Mesmo os movimentos de oposição ao regime, dentre eles o maior - o Movimento Verde - que coordenou as manifestações em massa em 2009, duramente reprimidas, de oposição ao regime – opõem-se às sanções, que visam excluir o Irã do sistema financeiro internacional. O Movimento Verde abertamente declarou que essas sanções isolam e estrangulam economicamente o país, afetando diretamente a vida da sua população e fortalecendo o regime. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Georgia, serif;">Certamente que o Irã não é o Iraque. O Irã é o país com a maior população xiita, atualmente tem uma influencia que vem crescendo na ordem geopolítica da região, e, apesar de nunca ter realizado incursões militares para além do seu território, dá suporte a grupos e movimentos de resistência nacional, como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza, e se opõe declaradamente ao estado de Israel e sua política de <i>apartheid</i> em relação ao povo palestino. Além de, que é sempre oportuno enfatizar, o regime dos aiatolás ter ascendido ao poder como decorrência de uma revolução que, em 1979, depôs o regime do Xá, que em 1953 derrubou, com apoio dos Estados Unidos, um governo nacionalista, laico e eleito democraticamente que havia nacionalizado o petróleo do país. Contudo, apesar da influência política do Irã, que em muito é gerada pela atual geopolítica da região, militarmente Teerã está longe de ser uma força preponderante. </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Georgia, serif;">O Irã é um dos países na região com o menor orçamento militar, 7 bilhões de dólares ao ano. Israel investe anualmente 12 bilhões de dólares (único país na região que possui armas nucleares, estima-se que aproximadamente 200 ogivas nucleares) e a Arábia Saudita 25 bilhões. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Georgia, serif;">Ninguém deseja que o Irã desenvolva armas nucleares, mas um raciocínio e postura, no contexto atual razoáveis, dos seus líderes, é que, com os resultados da invasão do Iraque e a ainda presença no Afeganistão - o Iraque fica a oeste da fronteira iraniana e o Afeganistão a leste – e as tentativas internacionais de isolar o Irã economicamente e a sua soberania ameaçada cada vez mais, parece que a única alternativa que restaria, para impedir uma invasão futura do país, é o desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins militares.</span><span style="font-family: Georgia, serif;"> <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;">Historicamente, a intervenção direta e indireta dos Estados Unidos na região tem sido de longe a causa principal da instabilidade no Oriente Médio. E a atual guerra retórica e econômica contra o Irã, seguida ainda mais da guerra secreta, que já levou ao assassinato de 4 cientistas iranianos (independentemente de se foi a CIA e/ou serviço secreto israelense ou quem quer que seja) é mais uma etapa da tentativa estadunidense de ingerência imperial da região. A posição mais incisiva dos EUA no último mês aponta muito no sentido de que o império, sobretudo com as revoluções e levantes em curso no norte da África e Oriente Médio, entende que sua hegemonia possa estar encontrando sérios limites. A situação interna do Egito continua instável, com uma revolução ainda em curso, e, consequentemente, não sabemos como a sua política externa ficará nos próximos anos: se continuará subserviente ao império ou se terá uma posição mais independente. O Yemen, Qatar, Síria, etc., estão longe de uma resolução, a curto prazo, para a crise política e social por que passam. Até mesmo a direita israelense, atualmente no poder, não tem dado ouvidos para alguns posicionamentos de Washington na questão palestina. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;">Tudo ainda está muito incerto. E a ordenação geopolítica da região está passando por transformações que ainda não apontam para um horizonte previsível. A OTAN, com apoio um tanto distanciado dos Estados Unidos, derrubou a ditadura de Kadafi, mas a condição política instável da Líbia pode pôr entraves à ganância das corporações do petróleo ocidentais pelo ouro negro líbio. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;"><br />
</span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Georgia, serif;">Mas mesmo nesta conjuntura de transformações impulsionadas em parte pela voz dos povos, que mais uma vez se fazem ouvir, não parece estar freando as intenções estadunidenses de invadir o Irã. Será que esta década terá de conviver com mais uma intervenção criminosa do imperialismo ianque na região? A única certeza é que uma nova incursão militar estadunidense na região deixará o mundo mais violente e inseguro, e a população do império mais vulnerável. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing"><span style="font-family: Georgia, serif;"> <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNoSpacing" style="text-indent: 35.4pt;"> </div></div></div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-86633530239973987442011-07-17T16:05:00.011-03:002011-07-17T23:33:42.809-03:00Federação independente dos trabalhadores egípcios: sinais de radicalização da luta. A Federação Egípcia de Sindicatos Independentes emitiu neste mês uma carta pública na qual constam os principais princípios da Federação. Embora já tenha tido tentativas anteriores de união de sindicatos independentes durante a ditadura militar, quando somente sindicatos associados ao Estado e ligados ao Partido Nacional-democrático (o partido do regime) eram permitidos, somente após a revolução consolidou-se uma declaração constitucional de direito da existência de sindicatos e federações independentes. Os sindicatos que formam a Federação são oriundos dos mais diversos setores: de serviços, funcionalismo público, indústria, construção civil, camponês etc. No seu documento a Federação deixa claro a sua valorização da luta por justiça social, questão central da revolução, que também exige liberdades políticas, mas cujo fermento foi e tem sido a exclusão social da maioria da população, que vive em condições terríveis de desemprego, pobreza, fome, etc. <br />
<br />
Entre os princípios da Federação destacam-se: “independência em relação a todos os partidos políticos, instituições e organizações oficiais, organizações de direitos humanos e indivíduos”; (2) “os sindicatos independentes [...] somente seguirão as vontades das assembléias gerais dos seus membros e que o princípio de independência é um princípio geral que se aplica a todos os membros sem exceção”; (3) rejeição “de todas as formas de cooperação com pessoas ou organização envolvidas em acordos”; (4) “Afirmamos também que uma das principais razões da nossa rejeição da antiga Federação dos Sindicatos Egípcios é a sua subserviência ao Estado e ao Partido Nacional-democrático”. (5) “Os sindicatos independentes dependem para o seu fundo de contribuições dos seus membros e não aceitará apoio financeiro de qualquer outra fonte, quer interna que estrangeira. As assembléias gerais têm total autoridade para supervisão financeira dos sindicatos. Afirmamos que este princípio de auto-financiamento e auto-suficiência é parte inseparável do princípio de independência sobre o qual os sindicatos estão fundados”. <br />
<br />
Importante também de destacar é a oposição da Federação aos acordos entre o Estado de Israel e o Egito, tanto no que se refere a questões centrais para a geopolítica da região, como a questão Palestina, dando completo apoio à resistência palestina, quanto o repúdio a acordos econômicos, apoiados pela Federação Egípcia de Sindicatos, como a conhecida venda de gás para Israel: (1) “acompleto apoio aos direitos do povo palestino de criar um Estado independente em toda a Palestina, e ao seu direito de usar os meios de resistência para conquistar os seus direitos”; (2) rejeição “ao fracasso [da Federação Egípcia dos Sindicatos] em se opor [...] ao acordo de fornecimento de gás e outras políticas que por seu silencio ela apoiou enquanto o movimento dos trabalhadores egípcios as rejeitaram e resistiram a elas”. <br />
<br />
Embora o foco da imprensa na sua maioria é sobre a formação de partidos políticos como possíveis expressões dos mais diversos setores da sociedade egípcia, o que também é importante, mas que não significa necessariamente que a população esteja participando verdadeiramente na formação e determinação dos programas dos partidos, a iniciativa de organização independente dos trabalhadores egípcios é sem dúvida o passo mais importante no processo revolucionário em curso no país. Sobretudo porque, ao contrário do que se veicula (com o mito das redes sociais e dos jovens bem formados e antenados), foram setores dos trabalhares egípcios, que vivem condições de trabalho extremamente precárias, com salários miseráveis, além de por décadas terem sofrido repressões sistemáticas e proibidos de se organizarem, que criaram as condições para os 18 dias de mobilizações que derrubaram Mubarak. <br />
<br />
O inconformismo dos trabalhadores com suas condições era tamanho que em 2010 não houve um dia sequer no Egito em que trabalhadores de algum setor não estivessem em greve. Mais uma vez, independentemente da existência ou não de partidos com posicionamento real ou retórico de classe, os trabalhadores, por meio das suas formas de organização de resistência e de reivindicação de direitos, procuram, de forma independente, fazer luta e radicalizar o processo democrático mediante o conteúdo claramente de classe das suas demandas. <br />
<br />
Toda solidariedade ao movimento dos trabalhadores que estão procurando consolidar uma Federação independente, que de fato seja controlada pelos próprios trabalhadores egípcios e que, por isso, expresse realmente suas demandas. Pois não há dúvida de que os caminhos que esta revolução em curso tomará dependerá em muito da capacidade de pressão da classe trabalhadora egípcia e da sua unidade na luta por uma radicalização classista do processo democrático. <br />
<br />
__________ <br />
<br />
Referência: <br />
* Declaração em inglês da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes: <br />
<a href="http://www.zcommunications.org/egyptian-independent-union-federation-statement-by-egyptian-independent-union-federation">http://www.zcommunications.org/egyptian-independent-union-federation-statement-by-egyptian-independent-union-federation</a>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-25093361547440019722011-03-02T12:20:00.007-03:002011-03-05T08:07:27.009-03:00OS JOVENS SÃO O POVO NAS REVOLUÇÕES NOS PAÍSES ÁRABES.<em><strong>OBS</strong>: Este texto foi escrito para ser lido em um debate público sobre o papel da juventude nas revoluções e insurreições populares nos países árabes, por isso há nele trechos de outros textos que escrevi sobre o que vem ocorrendo nos países árabes. Contudo, não foi possível comparecer. Mesmo assim compartilho publicamente o texto.</em><br />
<br />
A auto-imolação, na Tunísia, do jovem Mohammed Bouazzi, bacharel desempregado, após ser humilhado nas mãos de uma autoridade policial e ter sua carroça onde vendia frutas para sobreviver confiscada, desencadeou uma revolta popular que derrubou um dos regimes mais autoritários do mundo árabe e iniciou uma onda de levantes e revoluções que não ocorriam em proporções semelhantes desde a queda do Bloco Soviético. As razões que, em grande parte, levaram Mohammed Bouazzi a este ato de desespero são emblemáticas das condições sociais e políticas que, sem dúvida, vêm sendo os elementos impulsionadores das insurreições populares nos países árabes: ditaduras há décadas no poder, exclusão de qualquer possibilidade de participação política da população, ausência de liberdade, empobrecimento da maioria da população, desemprego em massa, desigualdade de salários e oportunidades, etc. Condições que se traduzem em três termos: liberdade, pão e trabalho. <br />
Mas também o fato de Bouazzi ser jovem, bacharel e desempregado, muito diz sobre a realidade desses países. Na grande maioria dos países árabes mais da metade da população tem menos de 30 anos de idade. Em todos eles é o setor da sociedade que mais sofre com o desemprego. Só na Tunísia cerca de três quartos dos desempregados tem menos de 30 anos, e os jovens com Ensino Superior, mas desempregados, somam 22%, contra 14% da média nacional. A maioria dos outros países na região exibem dados semelhantes.<br />
Por isso, a papel da juventude na organização das insurreições vitoriosas na Tunísia e Egito, e as em curso no Yemen, Argélia, Bahrain, etc., não deve surpreender. Primeiro porque a participação dos jovens nas grandes transformações políticas e sociais no mundo árabe sempre foi muito forte, e segundo porque nas atuais revoluções os jovens são os setores da população que mais têm sofrido os efeitos diretos de anos de regimes que, além de brutais e autocráticos, foram os responsáveis pela implementação violenta das políticas neoliberais nos países árabes. É sintomático da situação atual o fato de que os dois levantes populares que derrubaram seus ditadores, ocorreram nos países que primeiro institucionalizaram as políticas neoliberais no mundo árabe. <br />
Nestes países – assim como em todos, mas de modo mais forte em Estados sob regimes autocráticos – a aplicação do dogma neoliberal formou impérios em que os negócios e a política governamental estão tão entrelaçados ao ponto de ser impossível distinguir o que é público e o que é privado. No Egito os donos da maioria das empresas privatizadas nos últimos 15 anos são militares ligados à ditadura de Mubarak , muitos dos quais certamente hoje compõem o Conselho Militar que está coordenando o processo de transição. No Tunísia o setor privado em grande parte é controlado por membros da família da esposa de Bem Ali, a própria família de bem Ali e políticos e empresários beneficiados pelo antigo regime. <br />
Como consequência do estabelecimento da doutrina neoliberal nestes países, o que vemos é o fundamentalismo do mercado imposto aos pobres, supressão do trabalho organizado, privatização e sucateamento dos sistemas de saúde e educação, quedas ou estagnação dos salários referente à inflação, aumento do desemprego (ano passado, segundo dados oficiais, no Egito o desemprego estava em 9,4%), que é muito mais alto entre a juventude, etc. As ditaduras no mundo árabe cumpriram o papel de salvaguardar a santidade do mercado, mediante um aparelho repressor de estado constantemente alerta e legitimado por uma lei de emergência sempre ativa em um governo ditatorial. <br />
Assim, a participação central da juventude em revoluções que não somente depuseram regimes ditatoriais, mas nas primeiras revoluções com características claramente anti-neoliberais, tem muito a dizer a todo o mundo, e particularmente aos jovens conscientes do fracasso - ou melhor dizendo - falácia do neoliberalismo em trazer bem-estar humano para as populações. <br />
É inegável a importância das redes sociais como ferramentas descentralizadas para burlar a repressão, organizar os protestos e conectar as pessoas nos países convocando-as para atuar em solidariedade - principalmente em países onde as censuras na mídia tradicional são tão eficazes. Contudo, o que mais importa destacar é que essas novas ferramentas têm sido um meio de se articular para, em seguida, atuar nas ruas, ou seja, ir para a ação direta. <br />
O foco, a meu ver exagerado, dado às novas mídias pela imprensa, muitas vezes manufatura a idéia de que as redes sociais foram o fator determinante para o levante de 25 de janeiro no Egito. Elas foram importantes, mas não tão centrais quanto parecem. A media social ajudou a organizar o movimento que derrubou Mubarak, mas o que fundamentalmente levou milhares de pessoas para as ruas ao lado dos ativistas pró-democracia - muitas das quais sem conexão com as redes sociais – juntando forças para se sobrepor à força do aparato de segurança do Estado, foram as injustiças econômicas agravadas consideravelmente com a consolidação do neoliberalismo na região. Não tenham dúvidas que muitos dos jovens que ocuparam as ruas das principais cidades do Egito nos 18 dias que antecederam a queda de Mubarak, sobretudo os jovens trabalhadores das classes populares, não estavam nos protestos porque se articularam pela internet. <br />
Quem melhor explica a função da media social nas mobilizações é justamente um ativista blogeiro egípcio que em 2008 foi preso pelo regime, como muitos outros, em decorrência da sua atuação política: “quebramos com a idéia de se escrever e não fazer nada. Não é somente palavra, é palavra e ação. E é isso que preocupa muito". A repressão e brutalidade do governo com esses jovens escritores e documentaristas não foi somente por causa do conteúdo do que escrevem e noticiam. Mas antes de tudo porque partiam para ação direta.<br />
O que incomodava o regime é que esses jovens se articulavam via redes sociais para atuar nas ruas, ir para a ação direta junto com o restante da população. Ao noticiarem e opinarem sobre os fatos - quer estando nas ruas ou presos – e continuarem com a campanha pela liberação dos que ainda estavam presos - os ativistas mantiveram a comunidade internacional informada sobre os acontecimentos, contribuindo, com isso, para criar uma rede internacional de solidariedade à revolta popular e de repúdio à brutalidade do regime. Eles estavam com a população, e não foram, obviamente, vanguardas de um suposto ativismo digital, e que colocavam milhões nas ruas com simples mensagens rápidas no twiter e a partir de comunidades no facebook. <br />
Tanto é que o principal movimento no Egito de ativistas na rede social, o Movimento 6 de Abril, surgiu justamente em apoio às greves de trabalhadores reprimidas pelo regime em 2008, na cidade industrial de El-mahalla El-Kudra. E é a dimensão que atingiu a coordenação e articulação dessa solidariedade, iniciada sob forte repressão, dos jovens ativistas com as lutas e demandas dos trabalhadores, que deu, inegavelmente, força às manifestações que não começaram em 25 de janeira, mas que a partir desta data adquiriram as proporções que levaram à queda de Mubarak. No Egito, as manifestações iniciadas no fim de janeiro são o coroamento de no mínimo cinco anos de greves, motins, lutas locais e regionais. Por isso que a continuação da solidariedade entre as vozes dissidentes e os trabalhadores, agora, mais do que nunca, será central também, pois é nas greves e continuação dos protestos dos trabalhadores que tem se mantido com mais fervor, tanto antes quanto depois da queda de Mubarak, as reivindicações que alimentaram os protestos em massa, e das quais depende a radicalização do processo democrático em curso.<br />
Esse apoio mútuo entre os ativistas e os trabalhadores - com mais força no Egito, mas também considerável nos outros países da região em que os protestos têm abalado seus regimes - tem muito a ensinar os movimentos estudantis aqui do Brasil, que, na sua grande maioria, salvo algumas raras exceções, estão tão distantes das ruas, sem contato com os movimentos sociais e aparelhados por partidos. No Egito, o regime não autorizava a existência de organizações estudantis, sindicatos e movimentos sociais. E mesmo assim, em condições muito mais adversas do que a nossa, parte considerável da juventude se organizou junto com os trabalhadores, tentado construir, apesar da repressão, redes de apoio mútuo entre setores da sociedade que tentavam - muitos na clandestinidade - construir uma força popular capaz de fazer frente ao regime. <br />
Não há dúvida que por causa de serem essas revoluções e insurreições populares os acontecimentos mais importantes da história contemporânea desde o colapso dos países do Bloco Soviético, por causa de serem as primeiras revoluções com caráter anti-neoliberal e de ocorrerem numa região tão estratégica como o oriente Médio e Norte da África, seu impacto adquire proporções e direcionamentos ainda imprevisíveis. A ordem geopolítica da região já não será mais a mesma, e a política de apoio até então incondicional das potencias ocidentais a maioria dos ditadores árabes terá que ser revista para se adaptar às novas condições políticas e sociais que surgirão desta onda ainda inconclusa de revoluções. As revoluções que eclodem no mundo árabe indicam uma possível mudança na ordem política na região unicamente por força do poder popular das insurreições. Qualquer mudança nas relações entre os Estados no Norte da África e Oriente Médio e nas estratégias do imperialismo para região, será - não há dúvida - impulsionada pela pressão popular, e não pelas elites políticas e econômicas, para as quais o clientelismo e proximidade de interesses com as ditaduras derrubadas não deixam margens para mudanças bruscas de direção. <br />
As ditaduras da região que ainda não caíram estão abaladas, forçadas a fazer concessões, e, depois de Tunísia e Egito, ninguém consegue prever qual será a próxima tirania a cair. No Bahrain, Líbia, Argélia, Yemen e Jordânia as populações se levantam contra seus governos não apenas porque inspiradas pelos exemplos dos povos da Tunísia e Egito, mas também porque a urgência das demandas dos protestantes nestes países são as mesmas: renúncia do ditador, justiça econômica, liberdade participação política, direito de escolher seus lideres, etc. <br />
A canção do rapper tunisiano, conhecido como Él General, hino de batalha nas demonstrações populares na Tunísia, depois emprestada pelos manifestantes na Praça Tahrir, e agora na boca dos protestantes no Bahrain dão o tom destes protestos, que exigem as mesmas justiças, expressam o ódio contra a pobreza e a opressão, mostram coragem de enfrentar as tiranias, e, por isso, carregam os mesmos valores: “Senhor Presidente, seu povo está morrendo / Senhor Presidente, seu povo está comendo lixo / Olhe o que está acontecendo / Miséria em todo lutar, senhor Presidente / Eu falo sem medo / Embora eu saiba que terei só problemas com isso / Eu vejo injustiça em todo Lugar”. <br />
Mesmo que não esteja explícito, para grande parte dos manifestantes, que sua revolta é contra os efeitos nefastos da aplicação das políticas neoliberais em seus países, as demandas, que expressam as expectativas de uma maior justiça econômica e social, mostram que as classes populares dos países árabes exigem um basta de tanta desigualdade e exclusão. Se isso de fato ocorrerá, dependerá em muito da continuação da combatividade popular para além da queda de um ditador. <br />
O que é certo é que as revoluções no mundo árabe, dado a sua demonstração inspiradora de poder popular, anunciam para o mundo, nas palavras de Frank Mintz, que “o capitalismo, bem mais que o Islã, impõe o porte do véu para homens e mulheres. O véu do pensamento politicamente correto, da hierarquia benfazeja, do egoísmo redentor, do dinheiro antes de tudo”. <br />
<br />
Que o poder de revolta do povo árabe inspire os povos oprimidos de todos os continentes!Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-86704018522984696302011-02-15T16:31:00.012-02:002011-03-14T23:45:23.648-03:00Mubarak caiu: “o que vem depois?”<div style="text-align: justify;"> Depois de 18 dias de protestos ininterruptos nas principais cidades do Egito, no dia 11 de fevereiro Mubarak caiu. A população egípcia deixa a sua marca na História ao nos lembrar, mais uma vez, que quando o desejo por mudança supera o medo imposto, a sublevação popular pode, em questão de dias, derrubar governos que há décadas se mantinham no poder pelo uso indiscriminado da força. Mas uma transformação social profunda que reflita da forma mais fiel possível as demandas evocadas nas ruas não se realiza com a simples queda de uma tirania. </div><div style="text-align: justify;"> As estruturas de um aparato de Estado profundamente repressor, e administrado por uma elite burocrática formada na sua maioria por setores oriundos do alto escalão das Forças Armadas do país, como é o caso do Egito, não cai, da noite para o dia, com a remoção do tirano. As formas que a transformação social no Egito assumirá nos próximos meses serão determinadas pelas lutas emergentes entre (1) as classes populares e as classes dominantes e (2) as lutas entre os setores no interior dessas classes dominantes. </div><div style="text-align: justify;"> É por isso que somente a autonomia das classes populares egípcias, a continuação da sua luta, com uma orientação independente, numa dinâmica participativa que se fortalece a cada nova conquista, será capaz de fazer com que suas demandas por justiça econômica, liberdade, participação política e reestruturação do aparato de Estado, não sejam canalizadas, num processo de cooptação, para uma orientação que termine em uma mera transformação política: a elite burocrática militar sede espaço para os outros setores oposicionistas da classe dominante, forma-se um governo de coalizão que tenta ao máximo equilibrar os antagonismos de interesse e manter a institucionalidade e algumas políticas populares são implementadas para conter a pressão popular. </div><div style="text-align: justify;"> É inegável que "a república mais imperfeita é mil vezes melhor que a monarquia [autarquia, regime militar, etc] mais esclarecida", e que ao menos "o regime democrático eleva as massas à vida pública", como destacou Bakunin. O que deve ser perguntado, contudo, é se uma possível democracia representativa no Egito, em que as elites políticas, dissidentes e constitutivas do antigo regime, alternam-se no poder por meio do voto, mantendo, mesmo que com reformas de cunho popular, uma estrutura que preserve ao máximo as relações de dominação e exploração na sociedade, poderá responder às principais demandas que têm levado as classes populares dos países árabes a ocupar as ruas, enfrentar e derrubar seus déspotas. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>O dia seguinte</strong></div><div style="text-align: justify;"> Na noite da queda de Mubarak, a TV de jornalismo árabe Aljazeera, in loco e ao vivo, transmitia para todo o mundo a euforia e comemoração dos manifestantes ao receberem, num pronunciamento do general e então ainda vice-presidente do Egito, a noticia de que Mubarak renunciava ao cargo. Após 30 anos de despotismo, com perseguição a qualquer voz dissidente ao regime e exclusão da população de qualquer participação política, os egípcios comemoravam a vitória da coragem, espírito incansável, solidariedade e apoio mútuo de homens e mulheres, dos mais diversos setores, mas predominantemente das classes populares e médias, sobre um regime que não mais conseguia governar sobre a simples força bruta. A pergunta dos jornalistas para as pessoas na Praça da Libertação (Tahrir Square) no Cairo, epicentro das manifestações, era: "O que virá depois?". Os entrevistados, tomados pelo sentimento de vitória e libertação, claro que não poderiam fazer analises e projeções naquele momento, e apenas faziam eco a um manifestante que dias antes declarara que "o que quer que aconteça, nada será o mesmo novamente". </div><div style="text-align: justify;"> Mas para que nada seja o mesmo novamente, e o mesmo significa aqui a permanência de velhas estruturas de poder, privilégio e repressão do regime de Mubarak, embora uma democracia representativa se consolide, muito tem que ser feito. E é ai que entra duas perguntas centrais: (1) qual será a participação das classes populares, principais responsáveis pela queda de Mubarak, na forma e nos caminhos que a transformação social tomará? (2) O quanto as classes permanecerão fortes e autônomas e ditarão a agenda política de um futuro governo eleito?</div><div style="text-align: justify;"> Aos próprios militares, alicerce e beneficiados diretos do regime de Mubarak, foi entregue, pelo ex-ditador, a responsabilidade de coordenar o processo de transição que, ao que parece, culminará com eleições em setembro. Até o momento, o Conselho Supremo das Forças Armadas, parte do antigo regime, desempenha o papel de garantidor do processo de democratização e interlocutor entre o poder das elites e as forças democráticas. O fato de os militares não confrontarem a população durante os 18 dias de sublevação popular deu a eles a imagem de "neutralidade" em face dos acontecimentos. Contudo, dado o seu papel de participantes do governo de Mubarak, a situação em que agora se encontram como setor das classes dominantes que estabelecerá o processo de "diálogo" com a pluralidade das forças políticas do país, a necessidade - aos olhos das elites do país - de restabelecer a ordem, e também a luta que desempenharão para que muito da sua influência e benefícios permaneçam (e isso inclui os militares), forçará que os militares tomem, a médio e curto prazo, decisões estratégicas. E essas decisões mostrarão o quanto a cúpula que forma o Conselho militar não somente compreende a situação na qual se encontra, mas também revelará a força política com que os militares sairão disso tudo. </div><div style="text-align: justify;"> Será que os militares acreditarão que poderão subjugar as massas com uma forma de paternalismo temporário, que acalma os ânimos, controla a transição, e assegura que, aos poucos, as linhas gerais das políticas do Estado continuem direcionadas segundo os interesses das elites locais e em acordo com as expectativas das potências ocidentais? A um bem curto prazo essa estratégia de contenção pode dar certo. Mas, dado a força com que as classes populares defenderam suas aspirações, e a continuação da pressão popular para que elas se consolidem, como os militares responderão? Não sendo possível que o direito às eleições acalme as revoltas populares, os militares poderão muito bem tentar retomar a posição de pólo central do aparato de Estado?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>As medidas para a transformação</strong></div><div style="text-align: justify;"> O que é certo é que as estruturas antigas do aparato estatal egípcio, caso permaneçam, ainda que abaladas, não comportarão o escopo das demandas populares, que, em virtude da sua radicalidade democrática, forçam, necessariamente, uma reestruturação que não cabe em uma transformação política apenas no âmbito da consolidação de um Parlamento cujos membros são eleitos pela população. </div><div style="text-align: justify;"> Para de fato se iniciar políticas que atendam às demandas populares - se essas demandas não forem cooptadas por lideranças carismáticas dos setores da elite num processo de transformar as aspirações em instrumentos de novos poderes políticos – grande parte das medidas abaixo terão que ser cumpridas a médio prazo.¹ </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">1) a suspensão do estado de emergência, que já dura há 30 anos;</div><div style="text-align: justify;">2) estabelecimento de uma junta civil de transição</div><div style="text-align: justify;">3) uma nova Constituinte, com participação de forças democráticas populares;</div><div style="text-align: justify;">4) legalização dos partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais;</div><div style="text-align: justify;">5) julgamento de Mubarak;</div><div style="text-align: justify;">6) reorganização do sistema judiciário;</div><div style="text-align: justify;">7) prisão e condenação dos capangas do antigo regime;</div><div style="text-align: justify;">8) liberdade de imprensa e opinião;<br />
9) reconfiguração das forças policias, desmantelamento das forças policiais de Mubarak e tornar público as práticas operacinais dos serviços de inteligência da ditadura;</div><div style="text-align: justify;">10) investigação judicial da corrupção de estado;</div><div style="text-align: justify;">11) reconstrução da esfera econômica que contemple as demandas por justiça social, i.e, profunda redistribuição de renda;</div><div style="text-align: justify;">12) libertação dos presos políticos, etc.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Uma reestruturação profunda do Estado egípcio passa pelo cumprimento de grande parte dessas medidas. É provável que grande parte das elites, principalmente as mais ligadas ao antigo regime - e entre elas, claro, os militares -juntarão suas forças políticas para inviabilizar a efetivação de muitas delas, e, não conseguindo, ao menos adiá-las ao máximo. Somente a organização popular, que não há dúvida que aprendeu e cresceu muito com a vitória de 11 de fevereiro, será capaz de forçar a implementação dessas medidas. Tudo ainda está por fazer. O ditador caiu, mas não levou todo o regime com ele. Quanto mais as classes populares conseguirem arrancar, no jogo de forças com as elites, medidas de cunho claramente popular, mais sua força determinará a direção das transformações sociais em curso no país. Não será um caminho fácil, todos sabemos. Nunca se deve subestimas a habilidade das classes dominantes "em se manter no poder em face da luta popular e interferência do imperialismo" (http://www.anarkismo.net/article/18742 ).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Da solidariedade</strong></div><div style="text-align: justify;"> Muito dependerá, também, para a radicalização da luta democrática no Egito, do quanto as classes populares conseguirão superar diferenças étnicas, religiosas, de gênero, etc., tão agudas no país, e manter, para além de 11 de fevereiro, a unidade, apoio mútuo e solidariedade de classe tão dominantes nos dias que antecederam a queda de Mubarak. Um dos momentos emblemáticos dessa unidade, a meu ver, foi quando cristãos e mulçumanos, na praça da Libertação, rezaram juntos pela queda do regime. A continuação da solidariedade dos jovens ativistas nas redes sociais com as lutas e demandas dos trabalhadores, agora, mais do que nunca, será central também, pois é nas greves e continuação dos protestos dos trabalhadores que tem se mantido com mais fervor, tanto antes quanto depois da queda de Mubarak, as reivindicações que alimentaram os protestos em massa. Tem ocorrido, por exemplo, protestos e greves nos últimos dias na industria textíl, organizações de mídia, industrias de aço, correios, Ministério da Saúde, ferrovias, etc. <br />
Vale lembrar que essa solidariedade entre jovens ativistas e os trabalhadores começou justamente com o apoio às greves de trabalhadores, em 2008, na cidade industrial de El-Mahalla El-Kudra. E é por causa da dimensão que atingiu a coordenação e articulação desse apoio mútuo, iniciado sob forte repressão, que sua continuação e fortalecimento será determinante na radicalização do processo democrática. <br />
<br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Imperativos externos</strong></div><div style="text-align: justify;"> Somado aos grandes desafios internos postos às classes populares no Egito, não podemos jamais perder de vista que o Egito é central na dinâmica da geopolítica no Norte da África e Oriente Médio, sobretudo por causa do seu alinhamento com os Estados Unidos e Israel. Por essa razão, interferências externas, quer das potências ocidentais, quer dos países vizinhos, procurarão interferir decisivamente no futuro político e econômico do Egito. O porvir da profunda transformação social em curso no Egito - mas que iniciou na Tunísia e ameaça inspirar outros países na região - dependendo do seu grau de radicalização, terá consequências imprevisíveis na organização geopolítica da região. </div><div style="text-align: justify;"> Não é somente por motivos de estabilidade interna que, nesta segunda-feira, o Conselho dos militares novamente pediu para que os trabalhadores coloquem fim à onda de greves que se alastra pelo país, com o argumento de que os trabalhadores têm interrompido o andamento da economia. Os imperativos de por fim à instabilidade interna, e conduzir uma transição "pacífica" são exigências que autoridades estadunidenses, por exemplo, já vêm há dias pronunciando. No comunicado o Conselho diz que os "nobres egípcios vêem que essas greves, nesse momento delicado, levam a resultados negativos". Quem são esses "nobres egípcios" senão as elites políticas, industriais e financeiras do país, para as quais o que mais interessa agora é que o país tenha o mínimo de estabilidade e segurança para o livre curso das transações capitalistas. Por isso a pergunta: com o aumento de pressão interna de setores das classes dominantes, por um lado, e dos países vizinhos e potências ocidentais, por outro, as forças armadas continuarão evitando o uso da força, caso as greves e protestos continuem?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>A realidade antes da ideologia</strong></div><div style="text-align: justify;"> Os desafios que a sociedade egípcia está enfrentando, e que somente estão no seu começo, dado a sua complexidade, não permitem que os acontecimentos no país sejam observados com lentes ideológicas, que tentam simplificar a realidade para torná-la rapidamente compreensível. Estaríamos inclusive desrespeitando as classes populares do Egito se a revestíssemos, a priori, de uma missão que não sabemos se ela será capaz de cumprir. Por isso que usar, à revelia, o termo revolução para o que vem ocorrendo, presta mais um desserviço à transformação social no Egito, do que contribui para uma compreensão e apoio lúcido às classes populares de lá. Não confundamos nossas aspirações, vontades e anseios com a realidade, sempre mais complexa e irreduzível a qualquer análise por mais profunda que seja. A realidade deve ser mudada com a força de nossas aspirações, mas nunca explicada por elas. </div><div style="text-align: justify;"> Ao invés de fazer falsas imagens do que vem ocorrendo nos países árabes, todos aqueles revolucionários que se consideram internacionalistas, e que apóiam a luta de libertação, quer do jugo imperialista, quer de um regime despótico das próprias classes dominantes de um país, procuremos, se a intenção for de solidariedade, dentro de nossas limitações e com as forças que nos cabem, encontrar formas práticas de apoiar os povos árabes na sua dura luta por emancipação e de denunciar o imperialismo na região. Sem mascarar os imensos desafios que nossos irmãos e irmãs árabes estão tendo que enfrentar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">¹ Ver o artigo para Aljazeera Inglês de Adrian Crewe (http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/02/2011213134458448460.html ), de onde tirei algumas das medidas elencadas. </div><br />
---------------------------------------------------------Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-73967234989817680802011-02-06T18:19:00.019-02:002011-02-22T09:54:39.924-03:00Os levantes populares em países árabes: uma luta por valores universais.O poder da revolta popular em curso no Egito vem provocando o medo nos poderes ocidentais e em Israel de que a insurreição, que tem levado às ruas quase 2 milhões de pessoas somente no Cairo, capital do país, leve a uma nova alternativa política que abale a ordem geopolítica da região. Todos os estereótipos proferidos por autoridades ocidentais e israelenses e pela grande mídia desses países de que à queda de Mubarak sucederia um regime fundamentalista islâmico antagonista à Israel, de que as manifestações são lideradas pela Irmandade Muçulmana, maior partido de oposição à ditadura, em suma, de que a população nos países islâmicos prefere ditaduras fundamentalistas, são palavrórios ideológicas para proteger os interesses das potências ocidentais, que temem que essa onda de manifestações se estenda para toda a região. <br />
<br />
As palavras de Tony Blair de que o ocidente precisa gerenciar a situação de transição é a síntese desses slogans repetidos sem cessar. A tentativa é de construir a imagem de que o mundo islâmico não é afeito à democracia burguesa, e que, portanto, antes uma ditadura que mantenha "a estabilidade e segurança" na região a um fundamentalismo avesso "às benesses do ocidente". <br />
<br />
Ora, sabemos que todo esse teatro ideológico de cenas estereotipadas, que repetem a narrativa falsa de que as populações islâmicas são, na sua maioria, fanáticos que seguem cegamente líderes religiosos, não passa de clichês manufaturados para servir aos interesses de alguns países ocidentais e de Israel e na região. <br />
<br />
Os levantes populares no Egito e Tunísia mais uma vez desnudam a mentira desse discurso hegemônico no ocidente. Por isso a fala de Blair pode ser traduzida nos seguintes termos: "aceitamos mudanças desde que a situação global permaneça a mesma, pois democracia no oriente põe em risco nossos interesses". <br />
<br />
As revoltas populares marcham e clamam por justiça social e liberdade. Os acontecimentos no Norte da África e Oriente Médio, todos em países há décadas sob regimes ditatoriais alinhados com as potências ocidentais, resultam fundamentalmente de uma questão social. As pessoas demandam dignidade, direitos humanos e justiça econômica. Demandas que refutam os argumentos do multiculturalismo e de algumas baboseiras pós-modernas que negam a universalidade de valores como liberdade e justiça. As revoluções em curso são justamente pela realização de valores universais: justiça social, autonomia , liberdade, etc. Por isso a obrigatoriedade, por um lado, da nossa solidariedade com as revoltas, e, por outro, em procurar desmascarar as ideologias e pseudo-teorias relativistas, que somente servem para legitimar o imperialismo e desumanizam outros povos. <br />
<br />
A propaganda vigente apresenta a Irmandade Muçulmana, partido oposicionista mais popular no Egito, fundado em 1928 contra o nacionalismo secular, como estando por tras das manifestações. E isso é uma mentira. O que ocorre é justamente o oposto. Tamanha é a predominância das exigências universais da sociedade egípcia, que lideranças do partido, em pronunciamentos públicos, estão tendo que falar a linguagem da democracia, dos direitos humanos, da liberdade, etc. Não são os religiosos nem outras lideranças da oposição que estão impulsionando as massas, são as próprias massas que estão carregando a oposição com elas. <br />
<br />
Além da autonomia das manifestações em relação aos partidos oposicionistas, o fato é também que esses partidos não são um bloco monolítico, como a propaganda ocidental os apresenta. Há tendências diversas, por exemplo, dentro da Irmandade Muçulmana. Há uma tendência alinhada com a interpretação saudita do alcorão, mas há outra próxima da interpretação mais secularista hegemônica na Turquia. Pouco se fala também, por razões claras, das origens do partido e das transformações pelas quais passou nos seus mais de 80 anos de existência. Na sua origem, a Irmandade Muçulmana era um movimento ante-colonialista e contra a repressão. E muito do crescimento do setor mais radical se dever, em parte, segundo Tariq Ramadan, intelectual egípcio, ao fato de que quando Nasser subiu ao poder, numa plataforma de nacionalismo laico, muitos integrantes da Irmandade foram presos, assassinados e exilados. E, em decorrência desses exílios, a Irmandade cresceu em outros países, adquirindo características diferentes, sendo impossível concebê-la como um partido de orientação única e imutável. <br />
<br />
Todo esse acobertamento confirma a manobra das propagandas no ocidente de simplificar uma realidade política e social multifacetada, como a do Egito, a meia dúzia de estereótipos reproduzidos sistematicamente em todos os meios de informação hegemônicos, e apresentados como verdades "auto-evidentes". E tudo para justificar o apoio a ditaduras em nome da segurança e estabilidade, que não são outras senão segurança e estabilidade para o livre curso do imperialismo na região.<br />
<br />
A dissidência popular no Egito e Tunísia mostra sinais claros de que não quer nem governos fundamentalistas nem pseudo-democracias fantoches . A democracia burguesa dos países ocidentais não impediu - e não pensem que isso seja ignorado pelas populações árabes - que nesses países o poder, governo e riqueza estivessem nas mãos de uma pequena minoria, que parcelas significativas da população estão desempregadas, marginalizadas e perderam quase todos os benefícios conquistados. Sobretudo a partir da crise de 2008, os países ocidentais já não conseguem esconder do mundo que a democracia burguesa faliu, e que nunca foi além de uma democracia política, muito longe de se realizar economicamente. A xenofobia e o crescimento da direita e de orientações neofascistas nos Estados Unidos e países europeus, só podem fazer um árabe rir quando qualquer autoridade ocidental fala de Estado laico. Além disso, que fundamento e moral há em países como os Estados Unidos, onde 30% das pessoas ainda acreditam em fantasmas, e comprometimentos religiosos de políticos e seus partidos determinam eleições, para asseverar que as populações dos países árabes preferem ditaduras fundamentalistas? Não seria grande parte da população ocidental muito mais afeita a ilusões e mentiras, sobretudo as falsidades que o aparato de propagando, tão sofisticado nesses países, forja sobre os países árabes e o resto do mundo? <br />
<br />
O que guia os protestos em massa no Egito e Tunísia são demandas por direitos universais em face do desemprego em massa, pobreza, corrupção, injustiça econômica, autoritarismo, repressão, falta de liberdade, etc. E a população sinaliza saber que somente as quedas de Ben Ali e Mubarak não são o suficiente. E que só com uma política de "redistribuição de renda e rompimento com a ditadura do mercado e o imperialismo"( http://www.anarkismo.net/article/18558 ) será possível materializar a justiça social e democracia ansiadas. <br />
<br />
A insurreição na Tunísia derrubou a ditadura de Ben Ali, mas as lideranças em torno de governo transitório a ser formado por uma coalizão de partidos, inclusive com políticos ligados ao ex-ditador - que prometeram eleições para daqui 2 meses - pretendem acalmar uma revolta que é social, e solucioná-la em termos políticos. Quando autoridades ocidentais propositalmente falam em dirigir a situação de transição é por se preocuparem em, não podendo evitar o levante popular, ao menos evitar que ele se transforme em revolução social. Ou seja, não dando para manter o ditador, que seja estabelecida uma pseudo-democracia subserviente capaz de acalmar as massas. <br />
<br />
Por isso que o maior desafio colocado às populações desses países é, com a derrubada de uma ditadura, como conseguir que uma insurreição, fundamentalmente social, não termine sendo abafada por uma mudança apenas política: elege-se um novo governo, forma-se uma nova elite política – na maioria das vezes nem tão nova assim - e as condições sociais continuam as mesmas. <br />
<br />
Por essa razão que a luta por liberdade, justiça social e autonomia apenas começa com a derrubada de um tirano. As populações do Egito e Tunísia vêm demonstrando fôlego para continuarem suas demandas e manterem a luta até que de fato a democracia seja econômica e social, e, portanto, uma revolução de fato, pois somente o povo organizado será capaz de resolver os problemas que enfrentam seus países. <br />
<br />
Os levantes na Tunísia e Egito, em menor escala em outros países da região, são uma luta que fala a todos os oprimidos. Pela universalidade de suas demandas, o que se presencia no Norte da África e Oriente Médio é a força social que o poder popular pode ter, onde quer que ele surja.<br />
<br />
Toda solidariedade aos levantes populares nos países árabes! Todo poder ao povo organizado! <br />
-------------------------------------------------Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-59828505743008687432011-02-02T22:03:00.021-02:002011-02-22T09:52:43.917-03:00Transformação social no Egito: entre o imperialismo e a tirania.<div style="text-align: justify;"> As milhares de pessoas nas ruas das principais cidades do Egito marchando em mobilizações e protestos, não se juntam apenas para exigir a renúncia do ditador Hosni Mubarak, no poder desde 1981, e a convocação de eleições. Os protestantes, que no dia 1 de fevereiro somavam mais de 1 milhão de pessoas somente na capital do país, Cairo, demandam mudanças estruturais na sociedade egípcia, que há décadas vive sob governos ditatoriais corruptos que têm sequestrado, torturada, intimidado e assassinado opositores para se manterem no poder. <br />
O mar de manifestantes que acorrem às ruas principalmente nos últimos dias, talvez seja a maior na região desde a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, que levou aproximadamente 10 milhões de pessoas às ruas, e que derrubou uma ditadura instalada pelos Estados Unidos e Inglaterra em 1953. Mesmo as manifestações iranianas no ano passado contra o resultado das eleições, possivelmente fraudadas, que reelegeram Ahmadinejad, não se comparam nem em número nem em recorrência com o que está ocorrendo no Egito. Os protestantes são formados por vários setores da sociedade egípcia: favelados urbanos, camponeses e pequenos agricultores, trabalhadores empregados e desempregados, pessoas de classe média, estudantes, etc. As principais demandas são por questões internas. Além de exigirem a renúncia do ditador, são por mudanças econômicas (fim da corrupção, por emprego, educação, saúde, etc) e por respeito aos direitos humanos (liberação dos presos políticos, direito de protestar, etc). Mas o mais importante no que está ocorrendo é que a população tem demandado essas mudanças imediatas e prementes - num país em que a população está cansada de 30 anos de exclusão, empobrecimento e alheamento completamente da participação nas questões nacionais - como parte de um anseio maior de mudar as estruturas de governo do país. Ou seja, não são meramente mobilizações pró-reformas, mas sim um movimento de massa que demanda mais do que eleições. Os egípcios querem uma verdadeira democracia, i.e, com liberdade de expressão e participação popular. Revoltas populares, não na mesma dimensão, mas com objetivos e demandas semelhantes, têm ocorrido recentemente em outros países no Oriente Médio e Note da África, como Tunísia, Yemen, Jordânia, etc. As oligarquias e pseudo-democracias na região, a sua maioria aliadas dos Estados Unidos e subservientes aos seus interesses estratégicos, estão ao menos sendo desafiadas por esses processos de revolta popular. <br />
No Egito, epicentro de um movimento de massa, os protestos, que, no começo estavam transcorrendo relativamente de forma pacífica, começaram aficar mais violentos, sobretudo a partir dos acontecimentos de quarta-feira, em que defensores do ditador, entre eles policiais, entraram em confronto com os manifestantes no Cairo, ocasionando 13 mortes. Também há relatos de manifestantes de que em cidades como Alexandria e Suez, policiais tem acadado as manifestações. Em contrapartida, desde 25 de janeiro, quando do início das manifestações em massa, as Forças Armadas tem se recusado a enfrentar a população.<br />
<strong>Juventude nos protestos</strong><br />
Destaque deve ser dado à participação da juventude egípcia nesse movimento de massa. Participação que tem sido central. Inconformados com a falta de trabalho, oportunidades, liberdade e esperanças, os jovens formam grande parte dos dissidentes. Fato nada novo nos países árabes, onde a presença ativa e o papel de destaque da juventude nos processos de transformação social é muito comum. O que é singular no caso do Egito é o papel importante que, nos últimos anos, as comunidades de jovens ativistas blogeiros estão desempenhando no movimento de oposição. A repressão do governo está levando os jovens ao ativismo. E as redes sociais têm sido uma ferramenta não somente para expressar o descontentamento, mas um meio tanto de cobrir e noticiar os protestos quanto de conectar as pessoas no país convocando-as para atuar em solidariedade. Num país onde a censura nas mídias tradicionais é tão eficaz, a atuação descentralizada dos blogeiros vem conseguindo burlar as restrições sobre a liberdade de expressão. Eles estão usando as redes sociais para se expressar já que os espaços para contestação na mídia tradicional são quase nulos. Muitos blogeiros, entretanto, que não escondem sua identidade ou cuja identidade foi descoberta pelo governo, têm sido presos. <br />
Mas a repressão e brutalidade do governo com esses jovens escritores e documentaristas não é somente por causa do conteúdo do que escrevem e noticiam. O que incomoda o regime é que esses jovens se articulam via redes sociais para atuar nas ruas, articular manifestações e ir para a ação direta junto com o restante da população. Como observou um ativista e blogeiro preso pelo regime: "quebramos com a idéia de se escrever e não fazer nada. Não é somente palavra, é palavra e ação. E é isso que preocupa muito". Os blogeiros, como parte importante desse movimento de massa, além de facilitarem a conexão entre as pessoas na região, estão conectando as pessoas de outros países com as mobilizações que vêm ocorrendo. Ao noticiarem e opinarem sobre os fatos - quer estando nas ruas ou presos – e continuarem com a campanha pela liberação dos que ainda estão presos, os ativistas mantêm a comunidade internacional informada sobre os acontecimentos, contribuindo, com isso, para criar uma rede internacional de solidariedade à revolta popular e de repúdio à brutalidade do regime. <br />
<br />
<strong>Egito e seus principais aliados</strong><br />
Apesar de o movimento de massas no Egito ter por principais demandas questões internas, e não vermos imagens clássicas de protestos com queimas de bandeiras estadunidenses, não há dúvida de que a grande maioria dos egípcios que têm tomado as ruas do Cairo, Alexandria, Suez, etc., estão descontentes com a política externa do Estado egípcio de subserviência aos interesses imperiais de Washington. Certamente que se houvesse no Egito ainda que uma tênue responsabilidade democrática do Estado, a colaboração quase incondicional entre os dois Estados não seria possível. <br />
O começo do clientelismo dos governos egípcios tem data. Durante grande parte da Guerra Fria, o Egito era um país não alinhado com Washington, e com forte cultura de governos laicos. Temendo a aproximação do Egito com a União Soviética, em 1956, a Inglaterra e França, com apoio estadunidense, e a lançaram uma campanha militar - frustrada - com o objetivo de reassumir o controle do Canal de Suez, que tinha sido nacionalizado pelo governo de Gamal Abdel Nasser,principal líder político do pan-arabismo e opositor dos interesses dos Estados Unidos e de Israel. Contudo, somente na década de 1970, com a morte de Nasser, por um lado, e o enfraquecimento, por outro lado, do nacionalismo no país em parte por decorrência da derrota de Egito para Israel na guerra dos 6 dias em 1967,os Estados Unidos conseguiram atrair o maior país árabe para a sua órbita de influência. <br />
Desde então o país está alinhado com Washington e em colaboração com a ocupação israelense dos territórios palestinos. Principalmente da Faixa de Gaza, que faz fronteira com o Egito por meio da passagem de Farah, cujo bloqueio por parte do governo egípcio impede o fluxo livre de pessoas e comidas, condenando, junto com Israel, a população de Gaza - 1.5 milhões de pessoas - a um aprisionamento que já dura 5 anos. Desde 1979 - por causa do "tratado de paz" de Camp Davis, estabelecido entre Egito, Estados Unidos e Israel, primeiro tratado assinado entre um Estado árabe e Israel - o Egito passa a ser chave central para a doutrina de segurança israelense, uma vez que se posiciona como seu principal colaborador na região. Nessas últimas 3 décadas, e claro que não por coincidência, os Estados Unidos fornecem ao país, anualmente, 1.5 bilhões de dólares em ajuda militar. <br />
Mas afora a colaboração com Israel, o clientelismo do governo egípcio, como observa Phyllis Bennis, vem sendo central “para assegurar que o resto do mundo árabe [até a última década do século XX] permanecesse um bastião pró-USA". Em 1991, por exemplo, o Egito foi fundamental para que a Casa Branca conseguisse formar uma coalizão de países árabes para se juntar na guerra com Saddam, apesar da completa oposição da população egípcia. Para assegurar o comprometimento do ditador Mubarak, Washington perdoou 50% do débito que o país possuía com os EUA. E após a guerra ao “terror” lançada por Bush filho e os neoconservadores após 11 de setembro, o Egito permite que prisioneiros do governo norteamericano sejam interrogados em seu solo. <br />
As incertezas sobre o impacto que os acontecimentos no Egito terão sobre a "amigável "relação entre o país e Israel caso o regime de Mubarak caia - o que é quase inevitável - já preocupam o Estado israelense. Um ex-embaixador de Israel no Egito saiu em defesa aberta da ditadura de Mubarak, sustentando, sem o mínimo de escrúpulo, que "as únicas pessoas no Egito comprometidas com a paz são as pessoas no círculo de Mubarak, e se o próximo presidente não for um deles, nós [Israel] teremos problemas". A vice-primeira ministra Silvan Shalom foi ainda mais incisiva, e disse que "se regimes que fazem fronteira com Israel fossem substituídos por sistemas democráticos, a segurança nacional de Israel poderia ser significativamente ameaçada". <br />
Quanto aos pronunciamentos "pró-manifestantes" das principais autoridades estadunidenses, não nos iludamos, pois é próprio da política imperial dos Estados Unidos brincar com palavras duplas. Embora o presidente Barak Obama tenha manifestado aparente apoio ao estabelecimento de "um governo que responda às aspirações do povo egípcio", e a Secretária de Estado "pedido" por "uma mudança que responderá aos descontentamentos do povo egípcio", o fato é que o governo de Mubarak tem sido, como discorri, peça central da estratégia estadunidense para a região. Nos 30 anos de governo do ditador, foi com armas "made in USA" que Barak matou protestantes e dissidentes, e preservou a “estabilidade” interna, palavra tão cara aos presidentes norteamericanos. <br />
Pode ser que, em parte, a retórica de apoio aos protestos seja fruto da constatação do governo dos Estados Unidos de que as oligarquias e pseudo-democracias fantoches alinhadas com a Casa Branca estão mais enfraquecidas em função do recrudescimento das dissidências populares, e que, por isso, os interesses do império estadunidense na região podem estar ameaçados. Contudo não meçamos o posicionamento do império a partir de poucas frases. Em face das críticas ferrenhas das mesmas autoridades ao governo iraniano e à brutalidade contra as vozes dissidentes no país dos Ayatollahs, críticas essas que, como sabemos, em nada têm a ver com preocupações democráticas, e são simples retórica do governo estadunidense para manufaturar consenso contra governos que não seguem as ordens de Washington, cairia muito mal aos EUA se não se posicionassem publicamente de forma semelhante quanto ao que vem ocorrendo no Egito, dado a dimensão dos acontecimentos. Mas daí inferir que esse “apoio” ao descontentamento popular no Egito sugere que o império esteja mostrando sinais de reconhecimento do enfraquecimento da sua influência nos rumos dos acontecimentos políticos na região e que, além disso, aponta para o começo de uma revisão de uma estratégia que segue a mesma desde a Guerra Fria, soa inocente demais. Basta atentar para a presença militar estadunidense na região e as ameaças ao Irã para evitamos tal raciocínio. <br />
É muito mais provável que Washington tema que um movimento de massa dessa proporção sirva de exemplo e estímulo para a população de ditaduras na região alinhadas com a Casa Branca, como as monarquias saudita e jordanianas. Alguma dúvida de que os apoios públicos do rei saudita Abdullah e do rei jordaniano Abdullah II a Mubarak foram feitos sem o consentimento de Washington? Os receios diante da "instabilidade" que a situação política egípcia provoca na região, levaram até mesmo o presidente da Autoridade Palestina, segundo o Observatório dos Direitos Humanos, a autorizar que forças policiais em Ramallah, na Cisjordânia, rechaçassem uma passeata de palestinos em solidariedade ao levante popular no Egito. <br />
É muito cedo para dizer se a antiga ordem de alianças no Oriente Médio está acabando, e se, como consequência, os Estados Unidos estão dispostos a pensar novas estratégias de atuação na região. Os impactos das transformações em curso sobre o colaboracionismo entre Washington, Cairo e Tel Aviv podem, a médio prazo, forçar uma mudança na geopolítica da região. Repito, "podem". Mas é pouco provável que um governo de transição que venha a suceder a queda de Mubarak - mesmo que num primeiro momento, afrouxe os laços com Israel para atender as demandas da população - rompa com Washington . E isso basicamente por duas razões.<br />
Primeiro que, como já disse, as principais demandas da população estão voltadas para questões internas; e, segundo, que o governo interino e, depois, o futuro governo eleito - provavelmente formado por uma coalizão da atual oposição – estará ciente dos custos de um tal posicionamento de rompimento com Israel e a Casa Branca. Aos olhos das elites políticas oposicionistas, eles seriam muito maiores que os benefícios. O complexo militar egípcio depende, como já falamos, profundamente da ajuda militar estadunidense. Numa região de grande tensão como o Oriente Médio, sabemos quão importante é para um Estado com a influência regional do Egito estar bem preparado e equipado para conflitos. Além do mais, sempre que em um levante popular as Forças Armadas se recusam a enfrentar a população e defender o governo, o seu poder de barganha nas negociações com o governo que sucede a queda do anterior aumenta consideravelmente. Não me parece que os militares egípcios estarão dispostos a perder 1.5 bilhões em ajuda anual. Pois, caso seja mantido como condição para que o Egito continue recebendo essa ajuda a continuação da colaboração com Israel, é bem provável que os militares pressionem o novo governo a manter as boas relações com seu vizinho. Se depender das elites políticas, e falo também da elite oposicionista, mesmo um novo governo não quebrará as regras do jogo firmadas em Camp Davis. <br />
<br />
<br />
<strong>Poder popular</strong>. <br />
O que é claro até agora é que questões referentes à política externa são questões secundárias nas reivindicações dos manifestantes que ocupam as ruas e praças das cidades. Os protextos são fundamentalmente uma revolta por pão, trabalho e liberdade.<br />
Mas caso as demandas por uma mudança fundamental das estruturas de governo se concretizem, e o povo egípcio venha a ter uma participação incisiva nos rumos do Estado, as relações de subserviência do Estado egípcio com o imperialismo estadunidense e o colaboracionismo com Israel poderão, sim, ser afetadas. <br />
O que estamos vendo nas ruas do Egito, e de forma mais pulsante na sua capital, é a força de uma população cansada de viver, por gerações, sob a brutalidade de regimes despóticos, que excluíram por décadas a população de qualquer participação política. É um movimento de massa em batalha contra o governo. E nesta batalha o governo parece estar perdendo. Não é uma revolta popular isolada. Dissidências populares já surgiram em outros país. <br />
Se esses levantes serão capazes de criar poder popular forte e adquirir proporções que impulsionem uma trajetória revolucionária no Norte da África e Oriente Médio que fuja completamente ao controle dos governos e abalem os interesses imperialistas na região, somente os futuros desdobramentos dos acontecimentos nos dirão. Por hora, cabe a nós completa solidariedade com o povo na região que marcha e clama por liberdade e participação, e torcer para que o poder popular sufoque a tirania das minorias que governam. <br />
<br />
<br />
<br />
-----------------------------------<br />
<br />
<br />
<br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-90722892552950792872010-11-01T17:00:00.004-02:002010-11-03T00:35:57.613-02:00Assistam a esta série.<div style="text-align: justify;"> Compartilho com os frequentadores do blog uma série recente do canal de TV Aljazeera em inglês. A série, com cada episódio de aproximadamente 20 minutos, mostra trabalhos manuais extremamente pesados, que ainda ocorrem em vários lugares do mundo, apesar do atual estágio tecnológico do capitalismo. Cada capítulo da séria inicia com a seguinte pergunta: "em nossa era tecnológica, o trabalho manual pesado está desaparecendo ou apenas se tornando invisível?" Com essa pergunta somos levados a uma mina de carvão na Ucrânia, onde trabalhadores autônomos continuam, manualmente, explorando a mina que foi abandonada desde o fim do comunismo no país; a trabalhadores na Indonésia que sobrevivem extraindo rochas de ácido sulfúrico de um vulcão na ilha de Java; a um porto no Paquistão para onde navios velhos são enviados para serem desmontados e vendidos como sucata. Com quase nada de ajuda de maquinário, os trabalhadores desmontam o navio inteiro apenas com um maçarico em mãos, etc. </div><div style="text-align: justify;"> Aos que assistirem à série, peço que a divulguem, pois séries como essa, que confrontam a fabricação da invisibilidade da exploração do trabalho humano na sua forma mais tradicional, devem ser assistidas pelo maior número possível de pessoas. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><object height="410" width="680"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/vWgEzYefFYI" ></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src ="http://www.youtube.com/v/vWgEzYefFYI" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="680" height="410"></embed></object></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><object height="410" width="680"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/e4H4W0jiP2w" ></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src ="http://www.youtube.com/v/e4H4W0jiP2w" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="680" height="410"></embed></object> </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <object height="410" width="680"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/nlKrhndjF6k" ></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src ="http://www.youtube.com/v/nlKrhndjF6k" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="680" height="410"></embed></object> </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><object height="410" width="680"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/4Ch8zL2_oWk" ></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src ="http://www.youtube.com/v/4Ch8zL2_oWk" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="680" height="410"></embed></object> </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-32476681508910768252010-10-04T13:21:00.024-03:002011-02-04T11:11:55.087-02:00Solidariedade contra o golpismo na América Latina<div style="text-align: justify;"> O pronunciamento imediato dos países membros da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) condenando a tentativa de golpe de Estado no Equador demonstra o comprometimento da maioria dos governos latino-americanos com a democracia e também sinaliza que existe solidariedade entre os Estados contra o golpismo na região . Mesmo que a correlação de forças no Equador não tivesse pendido a favor do governo de Rafael Corrêa, e eventualmente as forças armadas e a polícia tivessem concretizado o golpe, como ocorreu em Honduras, o posicionamento dos países vizinhos, que às pressas se reuniram na Argentina e logo enviaram uma comitiva de chanceleres à Quito como apoio ao governo, teria ainda assim sido de grande significação e deixaria as forças golpistas equatorianas isoladas. <br />
A importância central da solidariedade entre os Estados sul-americanos contra o golpismo e o imperialismo é que ela impulsiona e fortalece a solidariedade entre os movimentos sociais e partidos de esquerda em todo a região contra o fantasma dos golpes civil-militares. O apoio externo aos movimentos sociais do país sob ameaça aumenta a combatividade desses movimentos e aprofunda a experiência democrática, uma vez que aproxima e integra as bases sociais responsáveis pelas transformações que vêm ocorrendo na última década na América Latina. Dos 4 golpes arquitetados nos últimos dez anos, apenas o em Honduras se concretizou, apesar da mobilização e resistência da sociedade hondurenha. Na Venezuela em 2002, não fossem milhares de pessoas nas ruas e em frente ao Palácio de MiraFlores exigindo o retorno de Chávez, certamente que o golpe teria ocorrido. Também em 2008 a resistência popular e seu apoio ao governo de Evo Morales na Bolívia foram fundamentais para que parte da elite boliviana não desestabilizasse o governo com usas ameaças separatistas. Do mesmo modo no Equador na última quinta-feira, quando houve mobilização social contra a tentativa de golpe então em curso. <br />
Cada vez mais o papel dos blocos regionais será de importância central para evitar que governos eleitos democraticamente e comprometidos com amplas reformas sociais ou até mesmo com um projeto de socialismo democrático, como no caso da Venezuela e Bolívia, sejam desestabilizados, ao ponto de caírem, por forças de direita internas em conluio com o imperialismo estadunidense. O fato da dificuldade de derrubar os atuais governos democráticos de esquerda na região mostra que já não é tão fácil arquitetar um golpe como em décadas anteriores, sem que os países vizinhos manifestem repúdio ao golpe e tomem conjuntamente algumas decisões estratégicas para conter a sua consolidação. Hoje os impactos de uma violação da legalidade democrática num país da América Latina logo se estendem para além das fronteiras da nação, e chamam a atenção da opinião pública, dos países membros dos blocos de integração regional e de órgãos internacionais. A atual correlação de forças, com a maioria dos países latino-americanos impulsionando uma maior unidade econômica entre si, e, como consequência, consolidando uma superação da tradicional submissão econômica e ideológica aos Estados Unidos e à sua intenção de consolidar o neoliberalismo aqui por meio de tratados unilaterais de livre-comércio norte-sul, evidencia cada vez mais que os países da região não aceitam mais o rótulo de quintal de Washington, e que, mesmo nos marcos do capitalismo, como no Brasil e Argentina, são capazes de, no cenário internacional, fazer valer os seus interesses como blocos integrados. <br />
Contudo, os EUA não aceitam que estão perdendo terreno na região, e junto com forças golpistas latino-americanas, as mesmas por traz da onda de golpes que ocorreram entre as décadas de 60, 70 e 80 do século passado e as únicas que se beneficiam de um alinhamento de submissão com Washington, tentam desestabilizar a região para, sobretudo, derrubar os países que têm mostrado ser possível, democraticamente, construir condições materiais para uma transformação social profunda cujo horizonte seja o socialismo. Quer acreditemos ou não que isso seja possível, o fato é que esses países têm enraivecido Washington, que não vem medindo esforços para financiar e apoiar a desestabilização dos seus governos. Sabe-se que a tentativa frustrada de golpe na Venezuela e o golpe em Honduras tiveram apoio estadunidense, quer por meio de seus serviços de inteligência, quer pela USAID (sigla em inglês para Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que tem um histórico de financiamento de partidos e grupos dos países alvo que se opõem aos seus governos. Não é de se esperar cenário diferente no caso do Equador, onde setores da polícia e das forças armadas - os que tentaram dar o golpe - têm relações próximas com membros da embaixada norte-americana em Quito e com órgãos de inteligência estadunidenses. Quando Chávez diz que por traz das forças de direita nos países da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e das suas tentativas de golpe está os Estados Unidos, não é paranóia, e tampouco uma jogada política do governo venezuelano. A Venezuela é de fato o Estado sob mais ameaças retóricas e concretas de Washington. O país, que faz fronteira com a Colômbia - país em parte sob ocupação dos Estados Unidos - vem há anos sofrendo a infiltração em seu território de paramilitares financiados pelo governo Colombiano e pelos EUA, com o intuito de desestabilizar o governo Chávez e fazer da Venezuela a principal rota da internacionalização da droga produzida na Colômbia, fazendo o país passar por Estado que financia o narcotráfico. Com a soberania venezuelana sob ameaça concreta, as preocupações de Chávez são no mínimo razoáveis. <br />
Por isso que quanto mais países progressistas houver na região maior serão as dificuldades de que o golpismo tome força novamente na América Latina. Sabemos que para os Estados Unidos a democracia só interessa em um país em sua área de influência se o governo desse país obedecer aos ditames de Washington. E que tão logo um governo eleito contesta seriamente essa submissão, o lema é: antes um regime autoritário que siga as ordens da Casa Branca. Tem sido assim desde a guerra fria e continua sendo até agora, basta atentar para os exemplos mais gritantes, que são as relações amigáveis dos EUA com ditaduras alinhadas no Oriente Médio. Para o imperialismo norte-americano na América Latina, qualquer proximidade entre democracia e autonomia sempre será uma ameaça. <br />
Quanto mais forte a integração entre os países e os povos na América Latina maior serão as dificuldades de que o golpismo se torne a regra e não a exceção. Se Honduras nos assombra com o reaparecimento dos horrores do autoritarismo e terrorismo de Estado, que à revelia de resistência popular, provoca perseguições, torturas, assassinatos e desaparecimentos, a Venezuela e o Equador, em contrapartida, mostram para o imperialismo que não aceitaremos a repetição dos horrores de regimes ditatoriais conduzidos ao poder sob supervisão de administrações republicanas e democratas. O continuado papel imperialista dos Estados Unidos na região mesmo após o fim do bloco socialista apenas torna mais escancarado os objetivos do império, uma vez que o discurso da ameaça comunista em seu quintal já não existe mais. O que os Estados Unidos não querem é que os rumos políticos e econômicos nos países da região se afastem do clientelismo e alinhamento estrito com Washington.<br />
Assim, a cada governo progressista eleito ou reeleito na região acresce um peso a mais na correlação de forças para o lado da autonomia e do aprofundamento da democracia na América Latina. O repúdio do presidente Lula à tentativa de golpe no Equador e o papel significativa do Brasil nos últimos oito anos para o fortalecimento da integração regional e respeito à soberania dos seus vizinhos, revela que, no plano internacional, o governo petista se diferenciou em muito do governo anterior. Basta lembrar que umas das críticas de Alckmin - quando candidato à presidência em 2006 - à política externa do governo Lula foi o fato de o Brasil não ter agido, segundo ele, duramente com a Bolívia em relação à crise do gás, quando o governo de Evo Morales nacionalizou os hidrocarbonetos. O governo brasileiro agiu como deveria agir, respeitando a soberania de um Estado vizinho e o seu direito de iniciar um projeto de desenvolvimento nacional para o qual os hidrocarbonetos têm papel central. Para Alckmin, o governo brasileiro deveria defender a qualquer custo os interesses das nossas empresas. Serra também criticou publicamente o apoio da embaixada brasileira ao presidente hondurenho deposto, quando o abrigou na embaixada, impedindo assim que ele tivesse sido capturado e assassinado pelos golpistas. E não é preciso imaginação para saber qual seria o posicionamento de um governo tucano em relação ao golpe de Estado no Equador. <br />
Em vista da atual conjuntura e do papel que o Estado brasileiro vem desempenhando na consolidação de uma maior integração regional, a vitória do governo petista nas eleições, com todos os erros que nele podemos identificar, será, por isso, decisiva para o fortalecimento da solidariedade entre os países latino-americanos, e para o impedimento de que o golpismo ganhe aval e, por isso, novamente força, na região. <br />
Fiquemos alerta, Honduras mostrou que a repetição do terrorismo de Estado é mais real do que aparentava ser. <br />
<br />
--------------------------<br />
<br />
Algumas fontes:<br />
1. <a href="http://www.brasildefato.com.br/node/2404">http://www.brasildefato.com.br/node/2404</a>;<br />
2. <a href="http://www.zcommunications.org/coup-attempt-in-ecuador-by-eva-golinger">http://www.zcommunications.org/coup-attempt-in-ecuador-by-eva-golinger</a>;<br />
3.<a href="http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79253-NN/se-mantiene-estado-de-excepcion-en-ecuador-mientras-regresa-la-calma-tras-golpe/">http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79253-NN/se-mantiene-estado-de-excepcion-en-ecuador-mientras-regresa-la-calma-tras-golpe/</a>;<br />
4.<a href="http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79236-NN/chavez-rechaza-intento-de-golpe-de-estado-en-ecuador-y-responsabiliza-a-eeuu/">http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79236-NN/chavez-rechaza-intento-de-golpe-de-estado-en-ecuador-y-responsabiliza-a-eeuu/</a>;<br />
5.<a href="http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79269-NN/cancilleres-de-la-unasur-arriban-a-quito-para-ratificar-respaldo-a-la-democracia/">http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79269-NN/cancilleres-de-la-unasur-arriban-a-quito-para-ratificar-respaldo-a-la-democracia/</a> ;<br />
6. <a href="http://www.telesurtv.net/noticias/contexto/2199/informe-confirmado-inteligencia-usa--penetro-a-fondo-la-policia-ecuatoriana/">http://www.telesurtv.net/noticias/contexto/2199/informe-confirmado-inteligencia-usa--penetro-a-fondo-la-policia-ecuatoriana/</a>.<br />
<br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-63159703861052748442010-09-21T23:39:00.004-03:002010-09-22T10:08:21.371-03:00Iraque: ilusões do fim da invasão.<div style="text-align: justify;"> A retirada das "tropas de combate" estadunidenses do Iraque, depois de 7 anos de uma invasão falaciosamente justificada pela administração Bush e que, em vez de democracia, levou para o povo iraquiano mais morte, estagnação econômica, sectarismo, conflito interno, etc., apesar ser vendida como o penúltimo passo para a retirada completa dos Estados Unidos do Iraque, a ser concluída em 2011, não condiz definitivamente com o que na realidade está ocorrendo. O contingente de 50.000 soldados "não-combatentes" que ainda permanece no Iraque, que segundo autoridades estadunidenses e iraquianas terá a função de "assessorar e assistir" as forças de segurança do país até o final do próximo ano, não é o que resta da presença norte-americana. O retorno das tropas abre passagem para a entrada de mais soldados de agências privadas de segurança e funcionários do Departamento de Estado, que permanecerão no país muito depois da retirada do último soldado das forças de coalizão, caso esta retirado de fato se conclua. </div><div style="text-align: justify;"> A conclusão, em 31 de agosto último, da retirada de 90.000 soldados - segunda etapa do acordo selado em 2008, no fim do governo de W. Bush - sinaliza o começo do novo papel que os EUA irão desempenhar no Iraque. De agora em diante é o Departamento de Estado, e não mais o Pentágono, que irá assumir as responsabilidades da presença norte-americana no país. E o departamento já iniciou negociações para a contratação em breve de mais 7.000 soldados privados, além de equipamentos como transportes blindados, helicópteros e aviões, etc., para "assessorar" o treinamento da polícia iraquiana. As guerras do Iraque e Afeganistão são as guerras da história contemporânea nas quais há a maior participação de empresas e contingentes privados de segurança. Em ambas tem havido casos recorrentes de abusos praticados (o assassinato de civis, por exemplo) por soldados funcionários dessas empresas, que em muitos casos são ex-soldados do exército norte-americanos, cujo novo trabalho, aliás mais lucrativo, é de serem mercenários. </div><div style="text-align: justify;"> Tudo indica que a nova etapa da ocupação estadunidense do Iraque seja quase uma completa passagem de operações de segurança, inteligência e combate das mãos do Estado para o setor privado. Em poucas palavras, uma privatização da invasão. E muitos são os benefícios, para os Estados Unidos, dessa transição.</div><div style="text-align: justify;"> O país ainda não se recuperou da pior crise econômica que tem enfrentado desde 1929, ainda sem previsão para ser completamente superada, e com um índice de desemprego de 10%. Na política externa, Obama aumentou a presença estadunidense no Afeganistão, estendendo a guerra para o Paquistão, aliás uma guerra sem previsões de vitória. Portanto, privatizar a invasão do Iraque significa diminuir os custos com uma guerra que já consumiu 700 bilhões de dólares do contribuinte norte-americano. </div><div style="text-align: justify;"> Os EUA já conseguiram, senão completamente, ao menos em grande parte, consolidar os objetivos em função dos quais empreendeu a invasão: controle sobre o petróleo do país, expansão do poder estadunidense na região e estabelecimento de mais bases militares no Oriente Médio. Agora há, só no Iraque, 100 bases estadunidenses e dos países da coalizão. O objetivo de repartir o petróleo iraquiano entre as corporações norte-americanas já foi concluído logo nos primeiros anos da invasão. A presença militar estadunidense no Oriente Médio jamais foi tão grande quanto agora e as bases no Iraque e países vizinhos nunca tão numerosas e ativas. De maneira que os objetivos estratégicos e econômicos norte-americanos foram alcançados. </div><div style="text-align: justify;"> A passagem da responsabilidade pela segurança do país ao setor privado, primeiro, como já dito, diminui os custos do Estado e, em segundo lugar, diminui a pressão da sociedade americana sobre o governo em relação à guerra, dado que, uma vez privatizado o serviço de segurança, o governo estadunidense não precisa mais prestar tantas contas aos seus cidadãos sobre os rumos do Iraque. No que se refere ao Estado iraquiano, as empresas privadas contratadas não são submetidas a suas leis, uma vez que são contratadas pelo Departamento de Estado norte-americano. E como muitos dos donos dessas empresas são militares aposentados do alto escalão das forças armadas, alguns deles inclusive ligados à indústria bélica, o Estado e as corporações se confundem, e, sobre o sofrimento da população iraquiana, os lucros são repartidos. </div><div style="text-align: justify;"> As condições sociais, políticas e econômicas do Iraque após 7 anos evidenciam o que muitos sabiam com base no que se pode esperar quando os Estados Unidos invadem um país prometendo democracia e liberdade. Afora o fato de o Iraque já estar há seis meses sem um governo, em função das eleições inconclusas para o Parlamento realizadas em março último, e de os integrantes do governo anterior, instalado pelos Estados Unidos, sofrerem ampla rejeição popular, o que mais causa sofrimento ao povo iraquiano é a ausência de infraestrutura básica e de políticas públicas mínimas. </div><div style="text-align: justify;"> Após anos de embargo econômico e invasão, segundo dados das Nações Unidas, 80% da água iraquiana não é tratada e somente um quarto das casas estão ligadas a uma rede de esgoto pública. Num país em que 50% da população é menor de 19 anos, somente na capital, Bagdá, o índice de desemprego entre o jovens está em 30%. O Iraque possui a segunda maior taxa de mortalidade infantil entre os países da região, e mais de 300.000 iraquianos jovens nunca foram para escola. Estima-se que um quarto dos iraquianos vive em completa pobreza. Energia só é disponível algumas horas do dia e, embora seus poços jorrem petróleo, a escassez de combustível é frequente. Sabe-se muito bem para onde eles vão.</div><div style="text-align: justify;"> O atual governo iraquiano depende dos Estados Unidos para a sua sobrevivência, e não é de se estranhar que funcionários do alto escalão e militares iraquianos temem a retirada das tropas estadunidenses e sustentem que as forças do país somente estarão prontas para atuar por conta própria em 2020. A população e os grupos insurgentes jamais aceitarão um regime submetido aos ditames de Washington, e cujos membros estão muito mais preocupados em se manter no poder e se beneficiar financeiramente da parceria com o invasor do que melhorar as condições de vida da população. As lideranças governamentais temem que a saída do EUA resulte no seu fim. Por isso veem com bons olhos o serviço prestado por soldados mercenários, um dos quais será o de proteger os membros do Parlamento. </div><div style="text-align: justify;"> Segundo dados oficiais do governo norte-americano e de organizações internacionais, em 7 anos foram mortos por consequência direta da guerra 100.000 iraquianos e 4.4000 soldados estadunidenses. Estima-se que aproximadamente 4.000.000 de iraquianos foram deslocados e 2.000.000 tenham deixado o país. Contudo, os números são muito maiores. A presença estadunidense no Iraque remonta a 1991, guerra empreendida por Bush pai, e desde então os Estados Unidos jamais deixaram de bombardear o país e conseguir que o Conselho de Segurança da ONU aprove sanções atrás de sanções. Como decorrência de 20 anos de invasões, guerras e sanções o número de iraquianos mortos ultrapassa de longe 1.000.000. </div><div style="text-align: justify;"> Sabemos que os crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Iraque jamais serão julgados, muito menos os seus principais arquitetos, Bush pai e Bush filho. Embora números sejam importantes para que a opinião pública tome certa dimensão dos horrores pelos quais gerações de iraquianos têm passado com a ocupação estadunidense, eles estão muito longe de fazer um pouco de justiça que seja ao sofrimento do povo iraquiano. A morte pode ser contabilizada, mas não existem dados e cálculos que meçam o medo, o desamparo e a falta de esperança que tomam conta de um povo submetido a um sofrimento forçado e sem perspectiva de término.</div><div style="text-align: justify;"> Os Estados Unidos não só deixam a responsabilidade da "segurança" do país para terceiros, mas também deixam que as funções humanitárias fiquem a cargo de órgãos das Nações Unidas e ONGs. "Terminada" a guerra, já aumentam os “porta-vozes internacionais” dos direitos humanos prometendo realizar um trabalho conjunto com o governo local e a sociedade com o objetivo de erradicar a pobreza, a fome, a mortalidade infantil, etc. Este filme já vimos várias vezes: privatização, assessorada pelas Nações Unidas, da "ajuda humanitária". O que significa que muita gente ainda vai lucrar com a filantropia no Iraque. </div><div style="text-align: justify;"> O envolvimento dos Estados Unidos no Iraque está muito longe de ter um fim. O general Ali Ghaidan, comandante em solo das forças iraquianas afirmou em entrevista que se precisarem de ajuda para manter "a segurança" a receberão dos Estados Unidos. E manter "a segurança" aqui significa, de forma velada, o que o presidente Barack Obama disse abertamente em pronunciamento para a nação estadunidense quando da retirada das tropas: "há ainda muito trabalho por fazer para garantir que o Iraque seja um efetivo parceiro nosso." Portanto, se os interesses de Washington forem ameaçados, tropas estadunidenses estarão prontas para atender os seus parceiros. </div><div style="text-align: justify;"> Os rumos internos da vida político-social do Iraque a partir do próximo ano irão dizer o quanto de força os Estados Unidos estarão dispostos a empregar para manter a estabilidade, na região, dos seus interesses e dos negócios das suas corporações. </div><div style="text-align: justify;"> </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-19258655874555081462010-08-23T01:28:00.011-03:002010-08-24T11:50:12.353-03:00A ditadura e o empresariado nacional.<div style="text-align: justify;"> Pouco ainda se sabe e se fala, por razões bem óbvias, da ligação do grande empresariado nacional com o regime militar. Contudo, é um fato real que o golpe de 1964 foi um golpe civil-militar, com forte suporte financeiro das elites industriais do país. Muitos empresários não somente apoiaram o golpe, mas também financiaram com grandes somas de dinheiro a repressão e a tortura. O caso mais conhecido é o da financiamento, por empresas paulistas, da Operação Bandeirantes (OBAN), criada em 1969 pelas forças armadas, em conjunto com as polícias civil e militar, para enfrentar a crescente resistência ao regime. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> A partir da implantação da OBAN, a ditadura aumentou, de forma sistemática e coordenada, a repressão e a tortura, causando a morte de várias pessoas que resistiam ao regime por meios armados ou não. Não somente dinheiro do empresariado nacional foi utilizado para aparelhar a OBAN, mas também de empresas multinacionais, como as automobilísticas FORD e General Motors. O temor do empresariado às possíveis reformas sociais prometidas pelo governo Goulart e apoiadas pela mobilização popular, na época vistas pelo próprio empresariado como “sindicalização do governo”, foi o fator central na articulação civil-militar do golpe. No decorrer dos anos de ditadura, tanto empresas nacionais quanto internacionais se beneficiaram da política econômica de "desenvolvimento" do regime. Os laços entre os generais e parte considerável do grande empresariado, sobretudo nos anos mais violentos do regime, eram tão grandes, que até o Ministro da Fazenda entre 1967 e 1974 (nos governos Costa e Silva e Médici), Delfim Neto, foi muitas vezes encarregado de lembrar o empresariado da importância do seu apoio financeiro à repressão. </div><div style="text-align: justify;"> O empresariado nacional financiou fortemente o golpe e a tortura. De maneira que pensar nos 20 anos de total repressão aos direitos civis e políticos, sistemáticas prisões, torturas, assassinatos, etc., como duas décadas de um regime apenas militar, sem uma participação deliberada de parte da burguesia, quando não inocente, é querer simplificar os fatos da nossa história política recente e forjar uma narrativa que exime de responsabilidade direta arquitetos centrais do golpe. <br />
Se nem sequer no Brasil ainda se tem acesso público aos documentos das forças armadas no período, e tampouco um único torturado foi punido, imaginem quão distantes estão de terem que prestar contas à sociedade empresários e empresas que financiaram o regime, muitos dois quais ainda em atividade e influenciando os rumos políticos e econômicos do país. Se muitos dos torturadores ainda não têm nome nem rosto, quanto menos esses empresários, que equiparam a tortura, mas não sujaram suas mãos com sangue. </div><div style="text-align: justify;"> Os ataques das elites dirigentes ao 3 Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH), produto de ampla discussão do Estado com a sociedade civil organizada e movimentos sociais, que propõe a criação de um comissão para averiguar os crimes cometidos pelo regime, e tornar muito do que está encoberto público, tem suas razões. E elas são nítidas. Nomes aparecerão, e personagens e empresas influentes contarão em alguma lista. </div><div style="text-align: justify;"> As elites brasileiras vão muito bem com a desmemória coletiva a respeito dos anos de chumbo, já que a anistia concedeu a liberdade de muitos continuarem impunes e influenciando os rumos do país. Ainda temos uma longa caminhada na luta contra o esquecimento deliberado que as elites, junto com os órgãos de mídia que elas mesmas controlam, alguns dos quais existem desde o regime, querem perpetuar. Um esquecimento que se traduz em impunidade e, por consequência, em repetição, com uma máscara democrática, de velhos hábitos. O silêncio imposto sempre foi uma grande arma das elites. E hoje a desinformação produzida pela mídia oligárquica, travestida de porta-voz do direito de voz, está comprometida com esse apagamento e distorção do que foi o regime e como ele foi arquitetado. Não é por coincidência que para a Folha de São Paulo a ditadura militar tenha parecido tão branda. O mesmo jornal emprestava seus carros para a OBAN usar como disfarce nas suas operações de captura e assassinato de membros da resistência.</div><div style="text-align: justify;"> A sociedade civil organizada e os movimentos sociais, todavia, cada vez mais têm demonstrado que querem ver os crimes da ditadura averiguados pelo Estado, os nomes dos torturadores e seus apadrinhadores publicados e a realização de seus julgamentos . Está muito claro o forte conteúdo de classe nessa oposição das elites a que se mexa no passado. E não tenham dúvidas de que quanto maior for a pressão da sociedade para que os responsaveis diretos pela tortura não fiquem impunes, maior será a contraofensiva das elites, pois o que está em jogo não é somente a memória, mas também as consequências da verdade tornada pública. </div><div style="text-align: justify;"> Por isso que se a sociedade brasileira conseguir que se torne público e que se punam os crimes da ditadura, será uma prova concreta da força da sociedade civil organizada no Brasil atual, e um prenúncio de novas conquistas que estarão por vir. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"> </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-82524941949948616382010-07-26T19:51:00.013-03:002010-09-18T06:14:18.396-03:00Após o Iraque, só falta o Irã.<div style="text-align: justify;"> A quarta rodada de sanções contra o Irã aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 9 de junho último, embora não tenha tido o impacto econômico que Washington desejava, nem por isso foi insignificante, como muitos analistas a definiram. A última resolução reafirma e amplia o escopo de sanções já aprovadas nas três resoluções anteriores. A resolução prevê punições a entidades estrangeiras que venham a vender petróleo refinado ao Irã, ou auxiliar a sua capacidade doméstica de refinamento. O que é uma medida significativa, dado que a maioria do petróleo refinado do Irã, embora o país possua a terceira maior reserva de petróleo do mundo, é importado de empresas estrangeiras. A República Islâmica não possui a tecnologia necessária para o refinamento do seu petróleo. Países estão proibidos também de permitir que o Irã invista em suas plantas de enriquecimento nuclear, minas de urânio e outras tecnologias nucleares relacionadas e de venderem equipamento militar pesado para o país, como tanques, aviões, sistemas de mísseis, etc. Outro alvo de impacto das resoluções é sobre negócios e transações financeiras feitas pelo corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, cujos membros possuem várias empresas no setor de energia. Aproximadamente 40 indivíduos estão banidos de viajar e estão com suas contas no exterior congeladas. A resolução também exige que países que mantém laços econômicos com o Irã inspecionem navios e aviões que tenham o Irã por destino ou que dele partam, caso suspeitem de que cargas proibidas estejam a bordo. 40 empresas estão na lista negra, o Banco Central Iraniano foi mencionado, seguido de um pedido para que os países “exercitem vigilância” ao negociar com ele, fato que sem dúvida dá bases legais para, num futuro imediato, estrangular as transações financeiras entre o Banco Central Iraniano e os bancos centrais dos outros países. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> Embora Pequim, como parceiro comercial do Irã e responsável por grandes obras de infraestrutura no país, como o metro de Teerã, tenha em certa medida frustrado as intenções de Washington de aprovar uma resolução final mais dura, o seu voto a favor no Conselho de Segurança, assim como o da Rússia, principal exportador de equipamento militar para o Irã, mostra que ao menos até agora ambos os países com poder de veto não estão dispostos a se contraporem aos Estados Unidos em relação aos seus objetivos na região. <br />
Mas a questão central do caso Irã é como novamente está se fabricando, como no caso do Iraque, a mentira de uma suposta ameaça militar. Toda a propaganda de que o Irã seria uma ameaça à estabilidade na região e estaria enriquecendo urânio com o propósito de desenvolver armas de destruição em massa é no mínimo ridícula. Mais um mecanismo utilizado pelo governo estadunidense e sua mídia corporativa para desinformar deliberadamente a sua população, e forjar uma justificativa civilizatória para a invasão, traduzida nas palavras de Robert Gates, atual Secretário de Defesa dos Estados Unidos, por "fazer os iranianos entenderem quais são os seus melhores interesses”.<br />
O Irã é um dos países na região com o menor orçamento militar, 7 bilhões de dólares ao ano. Israel investe anualmente 12 bilhões de dólares e a Arábia Saudita 25 bilhões. O Irã está longe de ser uma força militar na região. O país nunca realizou incursões militares além do seu território e o seu poder atual é gerado muito mais pela condição geopolítica do Oriente Médio , do que por uma postura do próprio Irã. As medidas iranianas são claramente defensivas. Ninguém deseja que o Irã desenvolva armas nucleares, o que ele parece estar muito longe de conseguir, mas uma coisa é certa, com a forte presença militar dos Estados Unidos e das forças de coalizão em países que fazem fronteira com o Irã - o Iraque a oeste e o Afeganistão a leste - e vendo a sua soberânia ameaçada, parece que a única alternativa que resta ao Irã, para impedir uma invasão futura dos país, é o desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins militares. </div><div style="text-align: justify;"> Washington está dando rigorosamente os mesmos passos que antecederam a invasão do Iraque. Com o propósito de forçar uma instabilidade interna no Irã, primeiro forja a propaganda de demonização do país, que vem se intensificando desde a administração Bush. Em seguida, empreende uma guerra econômica mediante a aprovação de resoluções no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com o propósito claro de estrangular economicamente o país. E, por fim, a invasão. </div><div style="text-align: justify;"> Nunca é demais lembrar que o Oriente Médio é a preocupação central do governo estadunidense no que se refere a sua política externa e aos seus interesses econômicos. As três maiores reservas de petróleo estão na Arábia Saudita, Iraque e Irã, respectivamente. </div><div style="text-align: justify;"> A Arábia Saudita, país mais anti-democrático na região, governado exclusivamente por uma família real, sempre foi um grande aliado de Washington, e é o regime ditatorial na região com o qual os Estados Unidos e suas companhias de petróleo mantém os negócios e parcerias mais consolidados. Já o Iraque, sob a ditadura de Saddam, foi por muito tempo um parceiro dos Estados Unidos, e com o apoio de Washington invadiu o Irã provocando uma guerra de quase uma década, que resultou na morte de aproximadamente 1 milhão de pessoas. Saddam usou até mesmo armas químicas contra populações civis no conflito. Quando Washington viu os seus interesses dificultados por Saddam, invadiu o país, e em quatro anos privatizou o petróleo iraquiano distribuindo-o entre suas corporações. Por meio da criação de uma lei chamada New Oil Law (<em>Nova Lei do Petróleo</em>), aprovada por um governo formado pelos Estados Unidos, o Iraque fechou contratos com as empresas estadunidenses, que repartiram entre si grande parte do bolo. Apesar da catástrofe humanitária, milhares de iraquianos mortos em decorrência de sanções e 7 anos de invasão, e 4.2 milhões de pessoas deslocadas pela guerra até 2007 (<em>Refugies International, August 2007</em>), a invasão tem se revelado um empreendimento altamente lucrativo para as companhias de petróleo estadunidenses, e geopoliticamente importante para o governo norte-americano. Ninguém tem dúvida de que controlar as principais fontes de petróleo do mundo garante um poder econômico sobre os países cuja economia depende fundamentalmente da exportação de petróleo e sobre países que precisam importar todo o seu petróleo. </div><div style="text-align: justify;"> Se a questão fosse a ameaça militar, certamente que o problema central seria Israel, único país no Oriente Médio que possui armas nucleares, e principal aliado de Washington na região. Israel, embora possua armas de destruição em massa, não é signatário do Tratado Internacional de Não-proliferação de Armas Nucleares, e não permite qualquer inspeção do seu território por órgãos internacionais. Tanto Israel, quanto Índia e Paquistão, outras duas potências nucleares não signatárias, desenvolveram armas nucleares com transferência de tecnologia estadunidense. </div><div style="text-align: justify;"> Talvez a evidência, para os que ainda preferem a propaganda do <em>establishment</em>, mais clara de que Washington tem outros interesses em relação ao Irã, foi o fato de os Estados Unidos desconsiderarem o acordo diplomático feito entre Brasil, Turquia e Irã, segundo o qual este se comprometeria a enviar parte do seu urânio não enriquecido para a Turquia e receber uma quantidade de urânia enriquecido para ser aplicado em tecnologia médica. Obama se opôs a esse acordo com o argumento de que ele já não contemplava o que era preciso ser feito, quando o próprio acordo foi proposto pelo governo estadunidense e considerado de grande importância numa carta enviada de Obama para Lula dias antes de iniciarem as reuniões em Teerã entre os três países. </div><div style="text-align: justify;"> Historicamente, Washington desempenhou um papel central de desestabilização política e econômica do Irã. Em 1953, um governo laico, parlamentar iraniano eleito democraticamente foi deposto por um golpe arquitetado pelos Estados Unidos e a Inglaterra, e no lugar foi posto o governo tirano e clientelista do Xá, que ficou no poder até 1979, quando derrubado pelo levante popular que ficou conhecido por Revolução Islâmica. </div><div style="text-align: justify;"> Motivo do golpe anglo-estadunidense: o governo iraniano havia nacionalizado o seu petróleo, então controlado por empresas britânicas e estadunidenses. Desde o fim da segundo guerra os Estados Unidos tem tido um papel determinante nos rearranjos geopolíticos da região, contribuído para a instabilidade na região e o fortalecimento de governos autoritários e de orientação fundamentalista. Independentemente da questão política interna do Irã, se seu atual governo viola direitos humanos e frauda eleições, “profana” Israel, e enriquece urânio com fins militares, essas não são as razões da guerra, até o momento, propagandística e econômica, iniciada na administração Bush, e aprofundada com Obama, contra o Irã. O que estamos a ver são os primeiros passos em direção a mais uma futura invasão. É quase certo que se os Estados Unidos não conseguirem desestabilizar o Irão ao ponto de provocar a queda do atual regime e a ascensão de um governo que não provoque a “instabilidade na região”, que, como Noam Chomsky muito bem observou, significa um governo que obedeça incondicionalmente às ordens de Washington, a invasão será inevitável.</div><div style="text-align: justify;"> Se nem um possível veto no Conselho de Segurança pode parar os Estados Unidos quando os seus interesses e de suas corporações estão em jogo no Oriente Médio - basta lembrar como Washington passou por cima do Conselho de Seguranças no caso do Iraque - somente mesmo um Irã nuclear para salvaguardar a sua soberania. Contudo, o país parece estar ainda longe de tal capacidade. A situação atual no Oriente Médio, já bastante tensa, tente a se agravar nos próximos anos. Resta saber se os Estados Unidos estará realmente disposto a arcar com o ônus de mais uma guerra, quando ainda atolado em duas há aproximadamente uma década. Creio que sim, afinal de contas para Washington a guerra sempre parece trazer muito mais lucro e poder do que gastos.<br />
<br />
____________________________________________________________<br />
<br />
Algumas Fontes:<br />
<br />
* The Iranian Threat, by Noam Chomsky <a href="http://www.zcommunications.org/the-iranian-threat-by-noam-chomsky-1">http://www.zcommunications.org/the-iranian-threat-by-noam-chomsky-1</a>;<br />
* Quarta Resolução de sanções contra o Irã <a href="http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N10/396/79/PDF/N1039679.pdf?OpenElement">http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N10/396/79/PDF/N1039679.pdf?OpenElement</a> ;<br />
* <strong>Iran is not the problem</strong>, documentário realizado por ativistas estadunidenses <a href="http://freedocumentaries.org/teatro.php?filmID=305&lan=en&size=big">http://freedocumentaries.org/teatro.php?filmID=305&lan=en&size=big</a> ;<br />
* Entrevista com o Secretário de Defesa do Governo dos Estados Unidos, Robert Gates: <a href="http://english.aljazeera.net/programmes/frostovertheworld/2010/06/201061091243602584.html">http://english.aljazeera.net/programmes/frostovertheworld/2010/06/201061091243602584.html</a> ;</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-67758241028513505312010-06-26T23:07:00.035-03:002010-07-02T00:41:02.577-03:00Colômbia: novo presidente, mesmo governo.<div style="text-align: justify;"> A vitória na eleição presidencial colombiana de Juan Manuel Santos, ex-ministro da defesa do governo Uribe, confirma o já esperado: a continuação, por mais quatro anos, das políticas do atual regime. Embora Santos tenha sido eleito com a esmagadora maioria dos votos, 70%, contra 27% do segundo colocado, o candidato pelo Partido Verde, Antanas Mockus, duas vezes prefeito de Bogotá, esses números são apenas parte da história. O outro lado é que 60% dos colombianos não foram às urnas e aproximadamente quinhentos mil votaram em branco. Ocorreram também relatos de que populações pobres de deslocados internos foram induzidas a votar para Santos sob ameaça de perderem os poucos auxílios sociais concedidos pelo governo Uribe. <br />
O que mostra a descrença de parte significativa da população em relação à situação política atual do país. Apesar de pesquisas de voto, antes do primeiro turno, terem apontado para um quase empate técnico entre Santos e Mockus, os resultados já do primeiro turno revelaram a falsidade de tais pesquisas. Gustavo Petro (PDA), candidato pelo Polo Democrático Alternativo, que ocupa 7,62% das cadeiras no Congresso colombiano, afirmou, após à vitória de Santos, que o establishment de Bogotá manipulou as pesquisas de opinião, apresentando o candidato do Partido Verde como próximo de Santos na pesquisa, de maneira a fazer com que aparentasse haver legitimidade em uma eleição que muitos cidadãos colombianos já davam como desde o começo definida, como as abstenções e votos nulos sugerem. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> Santos, quando ministro da defesa, esteve à frente da principal agenda dos oito anos do governo Uribe: a postura de solução unicamente militar, sob forte apoio financeiro dos Estados Unidos, para os conflitos da região. O futuro presidente, cuja família, junto com grupos espanhóis, controla parte da mídia corporativa do país, foi eleito à sombra de Uribe. Na verdade, Uribe só não foi candidato novamente, porque a Suprema Corte colombiana vetou uma proposta do governo de criação de uma emenda na Constituição que autorizasse que Uribe concorresse pela terceira vez. Como no Brasil, a constituição colombiana apenas permite dois mandatos consecutivos. <br />
O orgulho de Santos ao ver seu país ser descrito como Israel da América Latina, descrição sem o mínimo de fundamento na realidade, evidencia as suas crenças em relação ao papel regional e internacional da Colômbia como principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul, a sua disposição de continuar comprometido com os EUA e levar a cabo a postura intransigente do governo Uribe na região, como quando realizou incursões militares em solo equatoriano, e mais recentemente o acordo com Washington, sem consultar os países vizinhos, que autoriza que os EUA use 7 bases militares na Colômbia. </div><div style="text-align: justify;"> Uribe deixa para o seu fiel sucessor um país com o maior índice de homicídios do mundo, maiores índices de violação de direitos humanos no continente, 7 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, o segundo maior número de deslocados internos (mais de 4 milhões de seres humanos, metade dos quais apenas no governo Uribe, expulsos de suas terras por causa de lutas econômicas e políticas pelo controle de regiões, fato agravado ainda mais pelas fumigações, que, sob o pretexto do governo de combater as plantações de coca, envenenaram terras de vários camponeses, inviabilizando o seu cultivo), atrás apenas do Sudão, 13% de desemprego, 58% da força de trabalho no mercado informal, 5.000 civis assassinados nos últimos anos, grande parte por forças militares do governo, para aumentar os números do governo no desempenho da suposta guerra contra o narcotráfico e o terrorismo, etc. </div><div style="text-align: justify;"> A atual situação colombiana, com a duplicação do número de milhares de indígenas, afro-descendentes e campesinos expulsos de suas terras, 40 sindicalistas assassinados somente no ano passado, e neste ano já 31, está intimamente ligada ao Plano Colômbia, acordo de ajuda militar dos EUA à Colômbia como parte da "guerra" contra as drogas. Embora desde a década de 1990 a Colômbia tem sido o maior recipiente de ajuda e treinamento militar dos Estados Unidos, com o Plano Colômbia a ajuda em dinheiro aumentou consideravelmente. Como início do plano, a Colômbia recebeu, em 2000, 3.5 bilhões de dólares para usar no “combate” às drogas. Desde então, a cada ano, o país recebe de Washington uma quantia crescente por ano em ajuda militar. Mais detalhadamente, em 2002 foram 371.74 milhões, em 2003 605.1 milhões, em 2005 574,15 milhões, etc. </div><div style="text-align: justify;"> Vendido como um plano de combate ao narcotráfico, e após 11 de setembro, como também combate ao terrorismo, o Plano Colômbia é um componente de um objetivo maior de ampliar a presença militar estadunidense na região andina, de modo a garantir a proteção de recursos naturais de interesse dos Estados Unidos. As drogas e o terrorismo não são senão um meio de justificar a presença militar estadunidense na região. Ora, a Colômbia é o maior exportador de cocaína do mundo, e o Afeganistão o maior de heroína, e ambos estão sob presença militar há um bom tempo dos Estados Unidos, maior consumidor de drogas ilícitas do mundo. E nem por isso esses países deixaram de ser os maiores exportadores dessas drogas.</div><div style="text-align: justify;"> Somente em 2004 o número de colombianos deslocados pela violência foi de 280.000 pessoas. A retirada de camponeses das suas terras, que já não são muitas - pois na Colômbia 53% das terras estão em posse de 1.8 da população - tem por finalidade outras que não contra-atacar o narcotráfico. A fumigação de terras em zonas rurais, sobretudo no sul da Colômbia - região historicamente negligenciada e esquecida pelo poder central - feita por empresas de defesa privadas contratadas pelo Pentágono, tem destruído dezenas de hectares de plantações de alimentos, contaminando o solo, a água e o ar na região. As fumigações destroem a diversidade natural, tornando inviável a agricultura na região, expulsando assim os camponeses e preparando o terreno para expropriação dos recursos naturais por parte das transnacionais estadunidenses. </div><div style="text-align: justify;"> A privatização das operações militares na Colômbia, que vai desde serviços de inteligência e logística, aviões que fumigam com veneno as áreas rurais, até equipes de resgate, também faz parte de uma prática do governo estadunidense em todas as regiões em que está presente militarmente, principalmente Iraque e Afeganistão. A conseqüência disso é que não há um controle do congresso dos EUA sobre as atividades dessas empresas e a transparência das suas ações é quase zero, pois podem esconder informações sob o pretexto de preservar preocupações de ordem privada, etc. Com isso, a pressão da sociedade civil em relação às atrocidades cometidas que vazam para a opinião pública é diminuída, pois sempre se pode culpar a empresa contratada pelos erros, e não as forças armadas. A Dycorp Company, Northrop Grumman, Eagle Aviation, são apenas algumas das empresas atuando atualmente na Colômbia. </div><div style="text-align: justify;"> Os grupos paramilitares, com os quais já há uma longa história de colaboração por parte das forças de segurança governamentais (inclusive já vistos por muitos colombianos como o braço ilegal armado do Estado), assim como os grupos guerrilheiros, têm sido, em certa medida, um obstáculo à implementação dos acordos de livre comércio entre USA e Colômbia. Muitas empresas estadunidenses têm que pagar dinheiro a grupos militares ilegais para receber proteção. </div><div style="text-align: justify;"> A presença militar, sob o pretexto da guerra contra o terror e o narcotráfico, é um meio de assegurar o aprofundamento do projeto de livre mercado na região, que consiste na expropriação transnacional dos recursos naturais e a redução dos colombianos a meros consumidores de produtos estadunidenses subsidiados. Que é o mesmo que tem ocorrido com todos os países na América Latina que implementaram políticas econômicas de livre comércio com os Estados Unidos. Basta ver o México, que após o NAFTA, de grande produtor de milho, principal produto da dieta da população, sobretudo a do campo, virou importador de milho subsidiado estadunidense, acabando com o mercado interno de milho e lançando vários camponeses na miséria e na fome. O mesmo com o Haiti, que, durante a administração Clinton, passou a importar todo seu arroz dos Estados Unidos, causando a falência de vários agricultores haitianos cujo sustento vinha da plantação de arroz. Assim, em geral o que ocorre é que grande parte dessa população camponesa empobrecida migra para os grandes centros aumentando a população favelizada desses países. </div><div style="text-align: justify;"> A circulação descontrolada de capital nesses países, que é o feito, claro, da implementação de políticas econômicas neoliberais - políticas que têm, de algum modo, a sua contraparte militar, na Colômbia sendo mais forte e sistemática do que em outros países da região -, tem acelerado a expropriação de recursos naturais, o que aumenta a ambição pelas terras dos indígenas, afro-descendentes e camponeses em geral. </div><div style="text-align: justify;"> Uma outra questão, talvez a pior, que tem se intensificado desde o começo da implementação do neoliberalismo na Colômbia, é a perseguição e o assassinato de integrantes de movimentos sociais que tentam abrir espaço para uma oposição não violenta. Os sindicatos, que são uma das bases da organização social com mais poder de pressionar o estado e reivindicar direitos sociais, têm sido atacados por todos os lados, não somente pelo governo. Os paramilitares acusam vários líderes sindicais de ligação com as FARC, e, em contrapartida, as FARC os acusam de estarem com o governo por não apoiarem a luta armada. </div><div style="text-align: justify;"> A perseguição sistemática que, desde 1986, ano da criação da Central Única dos Trabalhadores Colombianos, resultou no assassinato de mais de 4.000 sindicalistas, levou não somente ao enfraquecimento, evidentemente, das organizações sindicais na Colômbia, mas também de qualquer movimento social organizado. O assassinato de pessoas que tentam agir democraticamente dentro dos espaços da democracia liberal alastra o medo, e afasta a população da arena política, sem a qual não existe exercício da democracia. Não há democracia quando é permitido que se fale, mas dependendo do que se fala você é assassinado ao virar as costas. </div><div style="text-align: justify;"> O acordo, sem consultar os países da região, para a transformação de bases militares colombianas em bases militares estadunidenses, é a expressão de mais um aprofundamento e expansão do Plano Colômbia para toda a região andina. Os oito anos de governo Uribe, certamente o governo mais clientelista pelo menos na história contemporânea da Colômbia, não somente foi extremamente prejudicial para a população colombiana, como também para segurança na região. Seria muita inocência acreditar que a propaganda de combate ao narcotráfico é verdadeira, quando ela parte de um governo cujo próprio presidente, hoje apresentado pelo governo estadunidense como parceiro chave na guerra contra as drogas, foi acusado de ter tido ligações com o narcotráfico. E o que é mais agravante: essa acusação foi feita em um documento secreto de 1991, da Agencia de Defesa dos Estados Unidos. O documento foi tornado público somente em 2004, pela The National Security Archive (Arquivo de Segurança Nacional), um instituto de pesquisa não governamental, localizado na Universidade George Washington, que coleta e torna de domínio público documentos liberados em decorrência do Ato de Liberdade de Informação. Nele Uribe é acusado de ligação com o cartel de Medellín. </div><div style="text-align: justify;"> Está claro que o Plano Colômbia tem se mostrado uma estratégia de guerra sob auspício dos Estados Unidos, e como tal, não respeita acordos sob as cúpulas das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos. As bases colocarão em risco a soberania dos estados vizinhos, num momento em que muitos países da América Latina buscam o estabelecimento de uma maior unidade comercial e cultural na região, menos dependência e mais diversificação nas parcerias econômicas. </div><div style="text-align: justify;"> Os quatro próximos anos de continuação das mesmas políticas serão catastróficos tanto para a situação doméstica da Colômbia quanto para a região. Apesar de um futuro próximo escuro para a Colômbia, ainda há, no país, muitas comunidades em resistência, movimentos sociais e organizações dispostas a buscar uma saída política para os problemas do país. Mas fica a pergunta: em face da violência que esses movimentos têm sofrido por parte do Estado, dos grupos paramilitares e guerrilheiros, será possível que eles cresçam ao ponto de congregarem forças para uma nova saída política para a Colômbia? Só a sociedade colombiana será capaz de nos dizer isso, mas, ao menos para os quatro próximos anos, não poderemos deixar de ser pessimistas sobre os prováveis desdobramentos da continuação das políticas arquitetadas pela administração Uribe. </div><br />
____________________________________________________________________ <br />
Algumas Fontes: <br />
<br />
1. Documento de 1991 da Agência de Defesa dos Estados Unidos, no qual Uribe é acusado de relação com o narcotráfico: <a href="http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB131/index.htm">http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB131/index.htm</a> ; <br />
2. Documento de 1997 da Agência de Defesa dos Estados Unidos, no qual são apresentadas evidências de relações de aliança do exército colombiano com grupos paramilitares: <a href="http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB166/index.htm#docs">http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB166/index.htm#docs</a> ;<br />
3. Colombia IDPs 'face vote abuse': <a href="http://english.aljazeera.net/focus/2010/05/20105251832686557.html">http://english.aljazeera.net/focus/2010/05/20105251832686557.html</a> ;<br />
4. Ex-defense chief wins Colombia Vote: <a href="http://english.aljazeera.net/news/americas/2010/06/2010620213922101559.html">http://english.aljazeera.net/news/americas/2010/06/2010620213922101559.html</a> ;<br />
5. Documentário sobre o Plano Colômbia: Empire in the Andes <a href="http://freedocumentaries.org/teatro.php?filmID=310&lan=en&size=big">http://freedocumentaries.org/teatro.php?filmID=310&lan=en&size=big</a> .Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-34024647566268859732010-06-15T00:23:00.034-03:002010-07-31T00:14:24.672-03:00Mais sobre a punição coletiva aos habitantes de Gaza.<div style="text-align: justify;"> O jornal McClaTchy expôs recentemente o conteúdo de um documento do governo israelense no qual ele admite que o bloqueio à Gaza não tem nada a ver com questões de segurança e o tráfico de armas para o território, mas sim consiste num método de "guerra econômica" com o propósito de pressionar o Hamas e a população de Gaza. O documento foi enviado ao grupo israelense de direitos humanos Gisha, como resposta a uma ação judicial do grupo contra Israel exigindo que o governo dê mais informações sobre o bloqueio. O Gisha passou o conteúdo do documento ao jornal. No documento Israel diz que "um país tem o direito de decidir escolher não se empenhar em relações econômicas ou dar assistência econômica à outra parte do conflito, [...] e operar utilizando 'guerra econômica'". </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> Desde setembro de 2007, quando do início do bloqueio, a organização israelense de direitos humanos Gisha, junto com outros organizações de Israel, pressionam o governo para que torne público os reais objetivos do bloqueio, para que divulgue exatamente quais têm sido as sanções impostas, o que é permitido entrar e sair da Faixa de Gaza, além de pressionar Israel para que suspenda o bloqueio. O grupo Gisha, na sua página na internet, tem apresentado, com dados precisos, como o estrangulamento econômico de Gaza não tem por objetivo senão punir coletivamente os 1.5 milhões de palestinos que vivem num território que cabe 61 vezes dentro de Israel - certamente, entre as razões principais, por terem eleito um governo “inimigo” do Estado israelense. <br />
<br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>1.Gaza em mais números</strong></div><div style="text-align: justify;"> A decisão, em 2007, do Gabinete de Segurança israelense autorizando a restrição do movimento de entrada e saída de mercadorias e pessoas na Faixa de Gaza, tem por alvo o controle sobre o direito de ir e vir dos palestinos de Gaza, o banimento de produtos essenciais (considerando alguns como “luxúria”, como o macarrão) para a sobrevivência da população e a inviabilização de qualquer atividade econômica(produção-exportação-importação). Segundo critérios do governo de Israel, vários produtos foram banidos porque não fazem parte do “mínimo” necessário para a sobrevivência, sendo rotulados de produtos de “luxúria”. Entre eles está o macarrão, por exemplo. Abaixo alguns dados sobre o bloqueio e suas consequências para a população de Gaza:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• são proibídos itens que Israel considera como de uso duplo (tanto para fins civis quanto militares): cimento, vidro, aço, papel, etc. Materiais hoje mais do que essências em Gaza, sobretudo após os bombardeios de 2008-2009, que destruiram quase toda a infraestrutura - já precária - de Gaza, como industrias e prédios governamentais. Estima-se que 20.000 palestinos de Gaza continuam desabrigados em decorrência dos ataques de 2008-2009, que, por causa da ausência de materiais de construção, estão impossibilitados de reconstruir suas casas. “A maioria dos materiais de construção não tem “uso duplo” – não há nada inerentemente perigoso sobre eles, e eles não são ‘compatíveis para uso militar’ de acordo com as linhas gerais do Ministério da Defesa. Por isso, o desejo de evitar a sua entrada está relacionado com a política total de pressão e prevenção de que haja uma ‘vida normal’”, argumenta a Gisha;<br />
<br />
</div><div style="text-align: justify;">• a entrada de produtos em Gaza está limitada a aproximadamente 70 itens, entre produtos alimentícios e de outras necessidades (detergente, sabonete), medicamentos, etc. Tais mercadorias entram via coordenação com o Ministério Palestino de Economia Nacional, organizações internacionais e importadores privados;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• até segunda-feira última não era permitido a entrada em Gaza de geléia, lâmina de barbear (até onde sei uma lâmina de barbear não faz parte do arsenal de um exército nem de um grupo terrorista), etc. A permissão da entrada de alguns itens decorre da repercussão internacional do ataque à frota de ativistas que levavam ajuda humanitária à população de Gaza, que resultou na morte de 9 ativistas. Israel disse que também permitirá a entrada de alimentos complementares, como coentro e bolachas;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• Israel continua proibindo a entrada de itens puramente de finalidade civil, como tecidos, varas de pescar, embrulhos de alimentos, etc. Abaixo uma lista parcial de produtos permitidos e proibidos de entrarem em Gaza:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Proibidos </strong></div><div style="text-align: justify;">Gengibre, frutas em conserva,chocolate, geléia (acaba de ser permitida), vinagre, frutas secas, carnes frescas, cesso, sementes e castanhas, madeira, cimento, sal industrial, plástico, tetal, várias redes de peixe, tecidos, margarina industrial, cordas para pesca, papel A4, cadernos, máquinas de costura, aquecedores, cavalos, burros, jornais, brinquedos, etc.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Permitidos</strong></div><div style="text-align: justify;">Fermento, açúcar, adoçante, arroz, sal, óleo de cozinha, massas, feijão, lentilha, leite em pó, laticínios, carne, peixe e vegetais congelados, medicamentos, produtos para higiene feminino, papel higiênico, shampoo, condicionador e sabonete, pasta de dente, carne enlatada, esponja para limpar a louça, canela, latas de lixo, velas, fósforos, vassouras, camomila, etc.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• matérias primas como margarina industrial (como visto nos itens da tabela) e glicose são proibidas, claramente como um método de evitar que os residentes de Gaza produzam suas próprias bolachas e recomecem uma atividade econômica que está parada há 3 anos. Contudo, é permitido que Gaza compre bolachas produzidas em Israel;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• desde o fechamento das fronteiras de Gaza, 259 caminhões deixaram o território. Uma média de 70 caminhões por dia deixavam Gaza em 2005. Em 3 anos, Israel permitiu que Gaza exportasse menos do que era acostumado exportar em 4 dias. Para se ter uma ideia do que isso significa, uma única empresa de alimentos em Israel (Tnuava) envia uma média de 400 caminhões de sua fábrica todos os dias para vários locais no país;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• a passagem de Rafah está fechada há três anos. Uma média de 3,192 pessoas passam por essa fronteira todos os meses. Antes do bloqueio a média era de 40.000. Só no aeroporto de Tel Aviv uma média de 910.000 pessoas transitam mensalmente;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• mais de 90% da água de Gaza está poluída;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• 86.000 unidades de moradia precisam ser construídas para suprir as necessidades da população (devido sobretudo a destruição causada pelos bombardeios israelenses);</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• 3.956.000 toneladas de cimento, 653.600 de ferro e 129 milhões de metros de cabos de eletricidade são necessários;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">• Israel tem sempre dado respostas vagas a grupos de direitos humanos que têm exigido que o governo defina o que considera por itens “humanitários”;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">•as forças armadas israelenses se recusam a tornar público documentos que, segundo o Gisha, contêm cálculos feitos pelas forças armadas sobre as necessidades calóricas da população de Gaza. O grupo está preocupado com a “aparente prática das forças armadas ao determinar um mínimo de padrão ao qual reduz o 1.5 milhões de moradores de Gaza”;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>2. Punição coletiva</strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Não há dúvidas de que o bloqueio ilegal da Faixa de Gaza tem por intuito inviabilizar qualquer possibilidade de uma atividade econômica mínima no território. A retórica dominante das autoridades israelenses de que o cerco é uma questão de segurança interna do Estado de Israel, não só é refutada pelas condições inumanas e a tragédia humanitária de Gaza, como também por declarações do próprio governo, como o documento enviado ao grupo de direitos humanos israelense. </div><div style="text-align: justify;"> Israel fechou todas as principais linhas comerciais em Gaza (Karni, a mais importante, seguido do fechamento de Sufa e Nahal Oz), transferindo a rota de entrada e saída de produtos para uma passagem alternativa menor que as anteriores. Cairo sempre contribuiu com esse bloqueio, pois, até o acontecimento da frota humanitária, havia mantido a sua fronteira com Gaza também fechada. As importações atualmente estão em 25% do que Gaza precisa. Antes do cerco, o território recebia aproximadamente 10.400 carregamentos de caminhão ao mês, e, desde 2007, Israel tem permitido apenas a entrada de 2.500 caminhões. </div><div style="text-align: justify;"> Um governo que controla até a entrada de produtos alimentícios com base no que ele postula como nutricionalmente suficiente para cada morador de Gaza, quer ter controle sobre o que há de mais elementar e fundamental para manter a vida dos palestinos: alimentação. Com isso Israel controla a vida e, consequentemente, a morte dos palestinos de Gaza. 80% dos habitantes do território precisam de ajuda humanitária para se alimentar. Se isso não é punição coletiva, o que é então? </div><div style="text-align: justify;"> E enquanto essa retórica de Israel de que o cerco é uma questão de segurança de Estado receber respaldo e apoio de Washington e dos principais países europeus, Israel continuará a política de estrangulamento econômico e punição coletiva dos habitantes de Gaza e a colonização de mais territórios palestinos na Cisjordânia. Embora Obama tenha realizado pronunciamentos afirmando que a questão humanitária em Gaza está insustentável, e pedido para que Israel alivie o bloqueio, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, em entrevista concedida a Robert Frost, entrevistador da Aljazeera em inglês, manteve apoio incondicional ao bloqueio. Quando perguntado sobre o bloqueio e a morte dos 9 ativistas, Gates, em uníssono com as autoridades israelenses, respondeu: “parte do problema que Israel tem tido é que o Hamas usou doações humanitárias no passado principalmente para fortalecer a sua capacidade militar em Gaza. Materiais de construção não foram enviados para construção de casas, eles foram para bunkers. E clara que milhares de foguetes foram lançados de Gaza em Israel [...] de modo que os israelenses têm realmente um problema de segurança com Gaza e penso que essa é a razão em primeiro lugar para o bloqueio”. </div><div style="text-align: justify;"> Na resposta de Gates não há sequer uma referência ao sofrimento dos palestinos de Gaza. Tampouco, é claro, aos acordos de não agressão mútua entre o Hamas e Israel (que tinham como exigência para sua permanência que o bloqueio fosse suspenso), mas que não foram cumpridos por Israel, e a colonização ininterrupta de territórios palestinos na Cisjordânia, que só aumentam o conflito e a insegurança na região. A fala do secretário apenas reproduz o discurso israelense de perigo à segurança interna, e demonstra, como já esperado, que Washington continuará dando suporte ao bloqueio ilegal de Gaza. </div><div style="text-align: justify;"> Com a intensificação da crise humanitária em Gaza a partir de 2007, cada vez mais os grupos de direitos humanos e os cidadãos israelenses e também de outros países - sobretudo dos EUA - solidários aos palestinos, devem aumentar os protestos contra o cerco, exigindo que Israel permita a livre saída e entrada de mercadorias no território. Somente a pressão da sociedade civil organizada nesses países poderá pressionar os seus governos para que exijam, em instâncias internacionais, que Israel ponha um fim ao bloqueio e permita a livre distribuição das doações internacionais. <br />
Os palestinos de Gaza e de todos os territórios ocupados e tomados têm o direito fundamental de viver uma vida normal, com dignidade, o direito de empreenderem sua atividade econômica, sem a qual evidentemente nenhum povo consegue sobreviver, e de elegerem, democraticamente, seu próprio governo, sem que por isso sejam punidos. <br />
<br />
--------------------------------------------------------------------------------------------- <br />
Fontes:<br />
<br />
1. Website do grupo israelense de direitos humanos, Gisha: <a href="http://www.gisha.org/index.php?intLanguage=2&intSiteSN=113&intItemId=1809">http://www.gisha.org/index.php?intLanguage=2&intSiteSN=113&intItemId=1809</a> ;<br />
2. O jornal online Mcclatchy : <a href="http://www.mcclatchydc.com/2010/06/09/95621/israeli-document-gaza-blockade.html">http://www.mcclatchydc.com/2010/06/09/95621/israeli-document-gaza-blockade.html</a> ;<br />
3.www.media-ocracy.com;<br />
4. Entrevista com o Secretário de Defesa do Governo dos Estados Unidos, Robert Gates: <a href="http://english.aljazeera.net/programmes/frostovertheworld/2010/06/201061091243602584.html">http://english.aljazeera.net/programmes/frostovertheworld/2010/06/201061091243602584.html</a> </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-78875326261713729002010-06-07T18:03:00.024-03:002010-07-31T00:16:40.554-03:00O Bloqueio à Faixa de Gaza: cerco ilegal.<div style="text-align: justify;"> O ataque militar israelense em mares internacionais ao comboio de ativistas de várias nacionalidades que levavam ajuda humanitária aos moradores de Gaza revela novamente a displicência do Estado de Israel em relação a tratados internacionais humanitários e a resoluções das Nações Unidas. Obviamente que uma frota cujos conteúdos eram comida, água, suprimentos médicos e materiais de construção não podem ser uma ameaça a um Estado que possui o 5º exército mais bem aparelhado do mundo. O argumento de Israel de que os soldados que invadiram os navios foram agredidos pelos ativistas e que essa foi a causa do conflito que levou à morte de 9 ativistas e à detenção de aproximadamente 660 tripulantes é expressão da ausência de argumentos em face dos fatos. A verdade é que o bloqueio ilegal de Gaza e os controles do seu espaço aéreo e marítimo, o que significa controle total do que pode e não pode entrar no território, tem sido o método do Estado de Israel para punir coletivamente os aproximadamente 1.5 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza. Desde 2005, quando Israel "desocupou" militarmente a região, Gaza está cercada por todos os lados e o governo de Israel controla tudo o que entra e sai, inclusive o direito dos seus moradores deixarem e voltarem ao território. Até mesmo o Egito, afora Israel, único país que faz fronteira com Gaza, mantinha sua fronteira fechada até o dia 31 de maio, então aberta em decorrência do ataque ao comboio de ativistas.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> Esse cerco é ilegal, sendo reprovado até pelo Conselho de Segurança da ONU, na resolução 1860, que o reconhece como um cerco que pune coletivamente os moradores de Gaza. A resolução exige o "desimpedimento das provisões e a distribuição de assistência humanitária em todo o território de Gaza, incluindo comida, combustível e tratamento médico" (<a href="http://www.zcommunications.org/rogue-state-politics-erasing-international-law-in-israel-s-attack-on-gaza-by-anthony-dimaggio">http://www.zcommunications.org/rogue-state-politics-erasing-international-law-in-israel-s-attack-on-gaza-by-anthony-dimaggio</a> ). Com a eleição do Hamas em 2007, o bloqueio tem se intensificado, tornando a vida dos moradores de Gaza ainda mais difícil. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Gaza em dados</strong></div><div style="text-align: justify;"> Para se ter uma ideia de quão insustentável tem se tornado as condições de vida no território, aqui vão alguns dados (<a href="http://english.pnn.ps/index.php?option=com_content&task=view&id=8283&Itemid=58">http://english.pnn.ps/index.php?option=com_content&task=view&id=8283&Itemid=58</a> ): </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">1) em Gaza 8 em cada 10 moradores dependem de ajuda humanitária para sobreviverem; <br />
<br />
(2) Gaza precisa, diariamente, de aproximadamente 400 caminhões para suprir as condições nutricionais básicas dos seus moradores. Contudo, Israel tem permitido a entrada de em média 170 caminhões por semana; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">3) recentemente, roupas que ficaram armazenadas no porto de Ashod por um ano foram entregues mofadas À população; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">4) 95% da água em Gaza é considerada pela Organização Mundial da Saúde como imprópria para consumo; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">5) 48% das crianças com menos de 5 anos estão anêmicas; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">6) 75 milhões de litros de esgoto não tratado são despejados no mar Mediterrâneo todos os dias por falta de sistemas de canalização apropriados e materiais de reposição.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Durante os bombardeios de 2008-2009 - que Israel justificou como uma reação de represália ao fato de o Hamas ter "quebrado" o acordo de não agressão mútua lançando mísseis contra território israelense, quando, na verdade, foi Israel que não cumpriu o acordo uma vez que uma das condições fundamentais para sua consolidação era que Israel suspendesse o bloqueio -</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">7) mais de 120.000 trabalhos foram perdidos porque a já precária zona industrial de Gaza foi completamente destruída; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">8) 15.000 casas e apartamentos foram afetados ou destruídos; </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">9) um terço das escolas foram destruídas. E o pior é que nada pode ser reconstruído, pois Israel não permite a entrada de materiais para construção. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Diante de dados como esses, que são apenas uma parte das evidências de como as condições mínimas para uma vida de “sobrevivência precária” têm sido negadas à população de Gaza, é claro que o argumento das autoridades de Israel de que o bloqueio tem por intuito evitar que armas sejam contrabandeadas para o Hamas e, portanto, combater o terrorismo contra o Estado de Israel, não se sustenta. O estrangulamento econômico de Gaza é parte de uma política que o Estado israelense vem, sobretudo na última década, intensificando de modo a tornar cada vez mais inviável a formação de um Estado palestino na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. A intensificação da expansão das colônias judaicas na Cisjordânia, a construção, em curso, do muro de 400 quilômetros que não somente está separando palestinos de palestinos e palestinos de israelenses, mas também em vários pontos tomando mais territórios palestinos, os check points, nos quais os palestinos têm de apresentar documentação para adquirir permissão de locomoção, a prisão de ativistas palestinos como terroristas, etc., são também parte dessa política de apartheid da população palestina. <br />
Os integrantes do batalhão Atlacatl, do exército salvadorenho - treinado e financiado pelos Estados Unidos - que, em 13 de dezembro de 1981, cometeu um dos maiores massacres da história recente da America Latina, quando todos os moradores do vilarejo de El Mozote, que ficava em território controlado pela guerrilha, foram assassinados com métodos cruéis, repetiam um jargão que era o seguinte: “secar o rio para evitar que os peixes crescam”. Guardadas as diferenças de tempo, território e nações, o bloqueio de Israel à Gaza parece se assemelhar em mentalidade: quanto mais inviável a vida em Gaza menor as chances de luta contra o controle de Israel sobre a vida dos palestinos e por um Estado palestino. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Até onde vão as justificativas</strong></div><div style="text-align: justify;"> Um outro argumento das autoridades de Israel é que, enquanto o Hamas não reconhecer o direito à existência do Estado de Israel, as negociações a respeito da possibilidade da implantação de um Estado palestino continuarão estagnadas. Várias vezes o Hamas já propôs um cessar-fogo sob a condição de que Israel suspendesse o bloqueio, e embora Israel tenha muitas vezes efetivado o acordo, ele não o cumpriu. O reconhecimento do Estado de Israel será uma consequência do estabelecimento de negociações justas com as autoridades palestinas, incluindo o Hamas, e da implantação de um Estado palestino ao menos nos marcos de antes de 1967. Hoje é o Hamas o grupo palestino escolhido como inimigo número um pelo governo israelense, mas vale lembrar que nos anos 70 e 80 o inimigo era a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e seu principal lider Yasser Arafat e mais tarde o Fatah. Há evidências de que o Estado israelense apoiou financeiramente o Hamas quando do seu crescimento para fortalecê-lo como contraponto às outras organizações palestinas, de maneira a estimular a conflito entre suas lideranças e dificultar, assim, a unidade política entre os palestinos. Hoje o Hamas - que agora tem recebido ajuda financeira do Irã, para as autoridades israelenses a principal ameaça externo na região - é considerado o grande inimigo palestino e a Autoridade Palestina é que é apresentada como único representante do povo palestino com quem Israel se dispõe a negociar. </div><div style="text-align: justify;"> Tamanho desprezo de Israel às leis internacionais e a forte oposição da comunidade internacional ao bloqueio de Gaza, e de mentiras atrás de mentiras a que as autoridades israelenses recorrem para justificar a punição coletiva aos moradores de Gaza e dos outros territórios ocupados, somente perduram, sem maiores consequências para Israel, em parte porque o seu principal aliado é os Estados Unidos, que sempre bloqueia, no Conselho de Segurança, com o apoio de vários países europeus, qualquer tentativa de impor punições a Israel. O governo estadunidense não se opõe ao bloqueio e quando, como no caso do ataque ao comboio de ativistas no dia 31 de maio, Israel sofre forte represália da comunidade internacional, o governo estadunidense apenas solicita que o próprio governo israelense investigue as razões de um suposto erro nas ações militares. Como se o que ocorreu dia 31, por exemplo, não seja o resultado de medidas deliberadas, mas de falhas no comando. Os Estados Unidos, mais do que ninguém, sabe disso, e utiliza-se dessa retórica apenas para satisfazer as exigências do teatro diplomático. Washington sempre esteve com Israel, devido a sua importância estratégica para os interesses econômicos e geopolíticos do governo norteamericano. Seria ingenuidade esperar que com a Administração Obama - apesar de alguns pronunciamentos que tenham causado a impressão de serem mais ríspidos em relação ao comportamento de Israel - a relação EUA-Israel tomaria uma nova direção. </div><div style="text-align: justify;"> O bloqueio de Gaza - uma ação deliberada com o fim de intensificar o empobrecimento da população palestina na região como um meio de punição coletiva - viola vários artigos da Quarta Convenção de Genebra, que exige que os estados tomem, quando em guerra, todos os meios possíveis para protegerem não combatentes, proíbe qualquer ação que ameace vidas individuais e que civis sejam feitos reféns para propósitos políticos e militares. Mas fundamentalmente, essa punição coletiva através do cerco a Gaza fere a razão principal por trás das Convenções de Genebra e dos princípios legais nelas formulados: proibir que os estados se utilizem de punição coletiva contra civis em momentos de conflito. O agravante ainda de tudo isso, que torna mais gritante a violação de Israel à carta das Convenções de Genebra, é o fato de Israel não ser um Estado que esteja em guerra. </div><div style="text-align: justify;"> Apesar de a grande mídia internacional, reproduzindo o pensamento dominante na mídia estadunidense, jamais fazer fortes críticas ao comportamento ilegal do Estado de Israel, não expondo de fato as reais condições do povo palestino, a opinião internacional tem cada vez mais não se deixado iludir pelo silêncio deliberado em face das violações sistemáticas das leis internacionais praticadas por Israel, já que suas ações, como a morte dos 9 ativistas, tem cada vez mais se sobreposto ao discurso das suas autoridades. Também as redes de informações e notícias estabelecidas entre jornalistas, ativistas, movimentos sociais, mídias independentes têm sido um mecanismo de quebra do bloqueio do discurso hegemônico sobre o que ocorre nos territórios ocupados. </div><div style="text-align: justify;"> As ações de Israel têm cada vez mais contribuído para a insegurança da sua população, a instabilidade na região e a crescente oposição internacional. O ataque ao comboio humanitário em 31 de maio põe mais uma vez em evidência dois fatos inegáveis: o bloqueio à Gaza, ao não permitir a entrada de ajuda humanitária e com ela artigos de necessidade básica, está causando deliberadamente fome em massa no território; e a transformação em inimigo de Estado qualquer um que tente, de algum modo, amenizar o sofrimento da população palestina na Faixa de Gaza. Com essas medidas, o Estado israelense tende cada vez mais a ficar isolado e a ameaçar também a segurança dos seus próprios cidadãos. </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-80781615946574661042010-05-31T01:43:00.027-03:002010-07-01T00:57:48.258-03:00A criminalização dos movimentos sociais.<div style="text-align: justify;"> A criminalização dos movimentos sociais é uma tática historicamente reaplicada pelas elites brasileiras quando, na sua leitura, elas sentem que seus privilégios políticos e econômicos, principalmente o aumento irrestrito da propriedade privada, estão sob ameaça. Na verdade, não tem havido um período na história do Brasil em que as elites não utilizaram instâncias do Estado para manter e aumentar seus privilégios. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"> A intensificação, nos últimos anos, dessa tática tem sido estendida para todos os setores da sociedade brasileira onde quer que haja luta por direitos sociais previstos na Constituição. Essas elites utilizam todos os meios possíveis para incriminar os movimentos sociais, desde a utilização do Judiciário e do Congresso, passando pela mídia corporativa, até o meio repressivo mais recorrente, a polícia. Processos judiciais, prisões, CPMIs, infiltrações nos movimentos, ordens de despejo, difamações repetidas à exaustão pelos meios de comunicação corporativos, são os mecanismos à mão das elites brasileiras para barrar lutas que, numa sociedade realmente democrática, são constitucionalmente legítimas. </div><div style="text-align: justify;"> E claro que quanto mais forte um movimento, quanto mais ampla e consistente a sua base social de mobilização, maiores serão as tentativas de desmoralizá-lo e desmobilizá-lo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) - que surge durante a redemocratização do país, em 1984 - por causa da sua força social, pois é o movimento popular com uma das maiores bases sociais, não somente da America Latina, mas também do mundo, tem sido o principal alvo dessa campanha difamatória e repressiva. Ao ponto de a direita no Congresso aprovar, em 2009, a criação de uma CPMI para investigar supostas verbas públicas destinadas ao movimento. O MST nunca teve problemas com prestação de contas com o Estado, e quando há recursos públicos destinados ao movimento são para projetos apresentados por cooperativas e organizações de assentados. Para quem conhece cooperativas e assentamentos do movimento, sabe quão séria é a organização coletiva dos seus membros e quão grande é a atenção com tesouraria e a prestação de contas. </div><div style="text-align: justify;"> Agora imagine se fosse criada uma CPMI para investigar o repasse de verba pública para o meio rural do agronegócio, e os convênios firmados com cooperativas e associações de grandes empresários rurais, muitos deles certamente compondo a bancada ruralista no Congresso. Quanta má aplicação de verba pública não seria descoberta. </div><div style="text-align: justify;"> A perseguição a vários integrantes do movimento também vem aumentando. Como na cidade de Iaras, São Paulo, onde, em 2009, 9 integrantes do movimento foram presos por participarem da ocupação de uma terra pertencente à União, mas grilada pela Cutrale, empresa produtora e exportadora de suco de laranja.</div><div style="text-align: justify;"> Contudo, a tentativa de criminalizar movimentos sociais se estende também a movimentos pequenos e muito recentes, sobretudo nas grandes cidades, assim como a etnias indígenas que lutam tanto por reconhecimento, por parte do Estado, de suas identidades, quanto pelo direito às terras que lhes foram roubadas. O caso mais em destaque atualmente é a luta da etnia Tupinambá, no estado da Bahia, que tem tanto sofrido repressão constante - com inclusive prisão de seus líderes acusados sem provas pela própria Política Federal de serem criminosos formadores de quadrilhas - quanto difamações na mídia, como na revista Época, que por meio de reportagem claramente de conteúdo racista, questionou a identidade dos índios, simplesmente julgando, sem critério algum, que o traço de seus rostos apresentam "mais ascendência negra do que indígena" (<a href="http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI105789-15223,00-O+LAMPIAO+TUPINAMBA.html">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI105789-15223,00-O+LAMPIAO+TUPINAMBA.html</a>) . Ou seja, para ser índio, além de ter que estar pelado e morando no meio da mata, tem que apresentar determinados traços que a jornalista se julgou capaz de atribuir como constitutivos da morfologia facial de um índio “puro”. Como se também critérios de mestiçagem, tão comum em nosso país, fossem a justificativa para deslegitimizar a luta dos Tupinambás, e de todas as etnias que vêem sua terras serem usurpadas pela concentração fundiária. </div><div style="text-align: justify;"> Não somente os movimentos, mas também sindicatos, professores e funcionários de escolas e universidades públicas brasileiras têm sofrido sistemática repressão. Como da última greve dos professores das escolas públicas da cidade de São Paulo, que, além de não conseguirem que nenhuma de suas reivindicações fossem atendidas, sofreram forte repressão policial e ataque constante da mídia corporativa. As principais reivindicações eram: reajuste salarial de 34,3%, incorporação de gratificações cortadas, plano de cargos e salários, garantia de emprego, validade de atestado médico, não descriminação mediante categorias, etc. Reivindicações mais do que legítimas num estado que, embora sendo o mais rico do país, paga um professor do ensino fundamental um salário miserável de 785, 50 reais e fixa o piso salarial de um professor do ensino médio em 909,30 reais, podendo chegar no final da carreira a um salário de pouco mais de 1.100,00 reais.<br />
Vários foram os casos de mentiras forjadas pela mídia e pelo governo paulista a respeito da greve. O número de manifestantes nas passeatas foi sempre maior do que o divulgado nos jornais, a farça anunciada de que poucos professores aderiram à greve, o destaque ao transtorno que as passeatas causaram ao transito paulista em detrimento de qualquer apresentação mais séria sobre a greve, o silêncio sobre as agressões que os professores sofreram da repressão policial, supostos "educadores" de renome deslegitimizando, em artigos em jornalões, a luta dos professores - já de decadas - contra a precarização não somente das suas condições de trabalho mas de toda a ede pública de ensino, etc. </div><div style="text-align: justify;"> Um dos mecanismos que mais tem comprometido o cumprimento da Constituição de 1988, e, portanto, o aprofundamento real da democracia no Brasil, consiste no fato de o Poder Judiciário brasileiro ter sido usado como principal ferramenta para criminalizar os movimentos sociais, de maneira a respaldar judicialmente a violência policial contra eles. Como argumentou a juíza de direito da 16º vara criminal de São Paulo e secretária do conselho executivo da Associação para a Democracia-Brasil, Kenarik Boujikian Felippe, em artigo na revista Caros Amigos (edição especial, número 49, abril de 2010), o Judiciário tem sido usado sistematicamente para transformar em delito as lutas por direitos sociais e os sujeitos que empreendem essas lutas em delinquentes. Para a juíza, “a criminalização é usada para atender o mais rápido possível os detentores do poder, de modo a transmitir falsamente a idéia de solução de um problema de conotação social. A criminalização, apresentada em caráter individual, objetiva reprimir o exercício de luta pelas transformações sociais”. </div><div style="text-align: justify;"> Esse uso sistemático e indiscriminado, pelas elites, do Judiciário e dos Órgãos de Segurança Pública, esses últimos ainda empregando ex-torturadores do regime Militar, sem dúvida é uma perpetuação de práticas repressivas do Estado contra seus cidadãos que pouco foram alteradas com a redemocratização do país. A impunidade contra os crimes cometidos nos 20 anos de autoritarismo militar é de longe a principal razão para que o Judiciário e a polícia continuem sendo tão facilmente utilizados para reprimir as lutas democráticas por um país menos desigual. Os ataques por parte dos setores conservadores, por meio da mídia a seu serviço, à conjectura de se reanalisar a Lei de Anistia e ao III Programa Nacional dos Direitos Humanos, resultado da organização dos movimentos sociais e da sociedade civil brasileira, demonstra que as elites desse pais estão muito conscientes de que rever o passado aprofundará a democracia popular e, consequentemente, diminuirá sua concentração de poder.</div><div style="text-align: justify;"> Sabemos que a Constituição de 1988 foi uma conquista de anos de luta da sociedade civil brasileira, representada nos movimentos sociais, sindicatos, estudantes, trabalhadores, professores, intelectuais, etc. As lutas sociais que vemos atualmente no Brasil levantam a bandeira comum de que a Constituição seja de fato aplicada para que de fato o Brasil aprofunde a sua experiência democrática. A criminalização dos movimentos sociais é a tentativa de barrar, no jogo de forças da sociedade brasileira, o aumento do poder das classes populares, que é uma decorrência direta do aumento da sua organização. O medo dessas elites não é de que se cumpra a Constituição liberal do Estado Brasileiro, mas do que pode resultar do seu cumprimento: a possibilidade de que as classes populares, à medida que verem a constituição sair do papel em decorrência de suas lutas, queiram dar um passo a mais, e tornar bandeira de luta comum a superação da democracia burguesa representativa, por uma democracia popular, de participação direta. O medo das elites brasileiras já conhecemos, é o medo de que as classes populares se organizem. <br />
-----------------------------------------------------<br />
<br />
OBS: para reportagens sérias sobre a luta dos Tupinambá no sul da Bahia, recomendo a leitura das reportagens escritas no jornal Brasil de Fato (<a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/search?SearchableText=tupinamba">http://www.brasildefato.com.br/v01/search?SearchableText=tupinamba</a> ).</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-35107548971344648232010-05-22T10:58:00.017-03:002010-06-11T10:51:01.884-03:00O Irã: bode expiatório da questão das armas nucleares.<div style="text-align: justify;">Enquanto o Irã, em função do seu programa de enriquecimento de urânio, é apresentado pelo governo dos Estados Unidos como uma ameaça à "paz" mundial, países que realmente possuem armas nucleares, como Israel, Paquistão e Índia, definitivamente não sofrem a mesma pressão. Esses três países não são signatários do TNP (Tratado de Não proliferação de Armas Nucleares), ratificado em 25 de março de 1970, e Israel sempre se recusou a autorizar a realização de inspeções aos seus sistemas nucleares, atitude que nunca recebeu críticas por parte de Washington, dado que Israel é seu principal aliado na região. Se de fato a preocupação fosse com a ameaça que é países possuírem ou buscarem possuir tecnologia nuclear para fins militares, e a insegurança geopolítica que disso decorre, o principal perigo, no caso do Oriente Médio, seria Israel, único país na região que possui armas nucleares, e o país que mais tem empreendido incursões militares contra seus vizinhos. A única incursão agressiva do Irã fora de suas fronteiras foi durante o governo do Xá na década de 1970, quando, com apoio dos Estados Unidos (vale lembra que este governo ascendeu ao poder por um golpe de Estado com apoio de Washington nos anos 50, que derrubou um governo laico democraticamente eleito), invadiu duas ilhas árabes(<a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16537">http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16537</a> ).<br />
A questão também não é o fato de o regime atual no Irã ser abominável, ter fraudado as últimas eleições, etc. Em matéria de violação de Direitos Humanos e regimes ditatoriais, a Arábia Saudita e o Egito de longe superam o Irã, mas nem por isso recebem a mesma atenção, e a razão disso é clara: são aliados estratégicos dos EUA. Toda vezes em que a ONU tentou aprovar uma resolução que exigisse que Israel assinasse o TNP e permitisse as inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), os EUA, por meu do seu poder de veto no Conselho de Segurança, bloqueou a resolução.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Não tirando a importância e a legitimidade do TNP como acordo de valor internacional que contribui, por um lado, para o controle do desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins militares e, por outro, para a ampliação de zonas desnuclearizadas, é certo que ele é usado também como um dispositivo que assegura o monopólio dessa tecnologia pelos países que a possuem. Ninguém tem dúvida que possuir tecnologia militar nuclear é um grande instrumento de poder. Se há algum país que deve temer alguém é o próprio Irã, que se vê cercado pela presença militar norte-americana por todos os lados: a oeste, o Iraque ocupado e, a leste, o Afeganistão. As ameaças com palavras do governo dos EUA, inclusive de uma possível invasão, somente tendem a aumentar a insegurança do Irã, o que leva seus líderes a cada vez mais acreditarem ser indispensável o desenvolvimento de armas nucleares para impedir a invasão do país. Que outro meio, senão armas nucleares podem barrar os Estados Unidos quando ele decide invadir um país? De fato, ninguém deseja que o Irã ou qualquer outro país possuam armas nucleares, mas um olhar mais objetivo sobre toda a querela atual e a pressão sobre o Irã mostra a hipocrisia dessa propaganda que tenta demonizar esse país. Já sabemos que para justificar a invasão do Iraque os EUA, com apoio da sua mídia, e parte da mídia internacional, forjou a mentira de que Saddam possuía armas nucleares, quando o que o Iraque tinha de mais moderno em termos militares eram tanques vendidos ao país pelo Brasil na década de 80. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Verdadeiros Objetivos</strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Se a intenção fosse de fato desmilitarizar o máximo possível o mundo, os Estados Unidos, por exemplo, deveria começar pela sua própria casa. O orçamento militar, mesmo na atual crise econômica, dos EUA é maior, pasmem, que a soma do orçamento militar de todos os países do mundo juntos. Obama também acabou de autorizar o Congresso norte-americano a ampliar o orçamento militar. Uma das primeiras medidas de Obama quando assumiu o poder, foi a de intensificar a guerra no Afeganistão, aumentando em mais de 30 mil o número de soldados na região, e estendendo a guerra para além das fronteiras afegãs, com incursões militares em solo paquistanês. Assim, qual país seria mais perigoso para a paz mundial: os EUA, que estende uma guerra a um país que não somente detém armas nucleares cuja tecnologia para o seu desenvolvimento foi transferida a ele pelo próprio EUA, mas que também está há décadas em guerra com o seu vizinho, a Índia, que também possui armas nucleares? Ou um país como o Irã, que até o presente momento tem procurado desenvolver tecnologia de enriquecimento de urânio? E isso não é tudo. Em 2006, os EUA assinaram com a Índia, país que além de possuir armas nucleares e estar em guerra com seu vizinho jamais assinou o TNP, um acordo de cooperação nuclear. Isso mesmo. E pergunto ao leitor: alguma vez Washington cogitou em exigir que a ONU aplicasse sanções econômicas contra a Índia, como tem feito em relação ao Irã?</div><div style="text-align: justify;">Em vista de tudo isso, não podemos deixar de pensar que os Estados Unidos estejam preparando o terreno para a sua próxima incursão militar, embora esteja atolado em duas guerras sem previsões de acabar e apesar da crise econômica. A invasão do Irã concretizaria um objetivo de controlar as principais fontes de petróleo: Arábia Saudita, aliado econômico de longo tempo, e Iraque e Irã, ambos pela força. Mas creio que, no caso do Irã, as coisas parecem mais difíceis, pois o país tem como principal parceiro econômico a China, de maneira que o impacto e importância global de uma possível invasão do Irã é maior; além do mais, o Irã é um país de 60 milhões de habitantes. Ao menos a China, como membro permanente, pode vetar a autorização de uma guerra pelo Conselho de Segurança. Contudo, como ficou evidenciado mais uma vez no caso do Iraque, os EUA não costumam levam muito a sério a legitimidade do Conselho de Segurança quando ele se torna um entrave aos seus objetivos econômicos e geopolíticos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>O Brasil em cena</strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ao contrário do que a grande mídia brasileira tem forjado a respeito do papel diplomático que o Brasil, junto à Turquia, tem exercido como intermediador entre o Irã e os países que fazem coro à pressão dos EUA, tanto o Brasil quanto a Turquia, ou qualquer outro países que estivesse no lugar deles, estão desempenhando, como países soberanos, um papel importante para que haja um equilíbrio de forças na esfera diplomática. E é prova de que parte significativa da comunidade internacional vê como legítimo o direito de o Irã enriquecer urânio para pesquisas de fins pacíficos, como a geração de energia e desenvolvimentos de tecnologia na area médica. Esse contraponto também pode contribuir para barrar as tentativas de estrangular economicamente o Irã por meio de sanções. O acordo assinado pelo Irã segunda-feira última, intermediado por Brasil e Turquia, segundo o qual o Irã se compromete a transportar parte do seu urânio de baixo enriquecimento para ser armazenado na Turquia, em troca de combustível nuclear para pesquisas na área médica, pode ser muito positivo para a salvaguarda da soberania do Estado iraniano, sob ameaça constante por parte da maior potência militar do mundo. Mais detalhadamente, o acordo obriga o Irã a enviar 1.2 toneladas de urânio, o que é aproximadamente metade do que ele possui, para a Turquia, sob supervisão da AIEA, a partir do mês que vem. Em troca, o Irã receberá, dentro de um ano, 120kg de combustível altamente enriquecido dos países do grupo de Viena (dentre eles, EUA, Rússia e França).</div><div style="text-align: justify;">Embora os EUA tenha sido um dos incentivadores dessa proposta, assim que o acordo foi efetivado Washington declarou ceticismo em relação a sua eficácia. O que prova que os interesses estadunidenses de pressão sobre o Irã não se reduzem à questão nuclear. No site da revista on-line Carta Maior, saiu trecho de uma carta que Obama enviou ao presidente Lula aproximadamente duas semanas atrás, na qual ele demonstra estar de total acordo com a proposta e ciente da sua importância. No entanto, assim que ela se tornou uma realidade, o presidente norte-americano anunciou publicamente a sua descrença em relação ao acordo e manteve as exigências de novos sanções ao Irã. </div><div style="text-align: justify;">Os desdobramentos dessa pressão podem ser muito negativos para a paz no Oriente Médio, e só tendem a provocar mais instabilidade na região, sempre sob a discurso falacioso de que a preocupação é justamente a “estabilidade” internacional. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-45535769465409145302010-05-16T00:22:00.012-03:002010-05-22T14:04:22.563-03:00A crise na Grécia: uma crise nos países da União Européia?<div style="text-align: justify;">Em 7 de maio, os líderes dos países membros da União Européia, com apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional), aprovaram um pacote de ajuda de 110.000 bilhões de euros para a Grécia, país europeu que mais tem sofrido com a crise, estando inclusive sub ameaça de falência. O débito grego atingiu mais de 13% do PIB no ano passado e a taxa de desemprego subiu para 12,1% em fevereiro último, o que significa que em um país com uma população de 10,5 milhões de habitantes, e apenas 4,9 milhões de pessoas economicamente ativas, 605 mil trabalhadores estão desempregados. Como de se esperar, este empréstimo - 80 milhões de euros a cargo dos países da zona européia e 30 a cargo do FMI - somente foi aprovado porque a o governo grego se comprometeu a cumprir as metas de austeridade fiscal impostas como condição para o empréstimo. Os congressistas gregos votaram a favor da aprovação (172 votos contra 121) do corte do salário do setor público em 10%, das pensões (públicas e privadas) em 14%, e claro, aumento nos impostos.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Novamente é a população que deverá arcar com o ônus. E o Estado, bem, sempre a mesma solução neoliberal: menos Estado. Com a possibilidade de que a crise do débito se estenda para outros países da União Européia, primeiramente atingindo os mais fracos, como Espanha e Portugal, o que afetará fortemente o euro, os líderes dos principais países, como a Alemanha, que arcará com 1/3 do empréstimo, foram rápidos para justificar a suas populações a necessidade desse pacote de ajuda. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que o futuro da União Européia está em jogo, e que o parlamento alemão deveria aprovar o mais rápido possível o empréstimo ( http://www.rferl.org/articleprintview/2033134.html ).</div><div style="text-align: justify;">Além do pacote grego, dia 10 de maio foi anunciado pela União Européia um outro pacote de empréstimo e garantias, também com apoio do FMI. O pacote será de aproximadamente 750 bilhões de euros, e será um fundo para um plano de três anos de "estabilização" econômica da União Européia, com os 16 países membros responsáveis pelo empréstimo de 440 bilhões para os países mais endividados - Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, etc. 60 billões ficará a cargo da Comissão Européia, e o restante, 250 bilhões será fornecido pelo FMI. </div><div style="text-align: justify;">Está bem, este é o cenário das medidas econômicas para “acalmar” o mercado e tentar ao menos estancar uma crise cujo primeiro grande efeito tem sido a ameaça de falência de um estado europeu e a possibilidade de adquirir um efeito dominó, atingindo do mesmo modo outros estados.</div><div style="text-align: justify;">No entanto, e a população, fortemente afetada pela crise? Na Grécia, desde o ano passado, tem havido fortes e numerosos protestos, greves, boicotes e confrontos com a polícia. A morte, pela polícia, de um jovem em 2008, foi apenas a faísca que desencadeou mobilizações em todo o país, sobretudo na capital Atenas, contra o atual governo do primeiro ministro George Papandreou, mas que é a expressão de uma insatisfação com as medidas político-econômicas de sucessivos governos que, um após o outro, vêm aprofundando medidas neoliberais e aumentando o desemprego. O último plano de austeridade fiscal, votado em 7 de maio, consiste num plano mais drástico de enxugamento do Estado, ao modo do que Naomi Klein chama de doutrina do chock, que não é senão levar a cabo medidas neoliberais que, em momentos mais estáveis, seriam difíceis de ser aprovadas e implementadas com tanta rapidez. Entre os protestantes nas ruas das principais cidades gregas, estão estudantes, desempregados, movimentos sociais, sindicatos, etc., ou seja, parte significativa da sociedade civil, que se vê tendo que arcar com o ônus de uma crise desencadeada pela especulação financeira, por um sistema que se sustenta, independentemente do país, sobre débito crescente e desemprego estrutural, e que, quando necessário, como saídas para crises, usa o Estado como um meio para punir a população pelo o que ela não cometeu. A repressão tem aumentado à proporção que as manifestações crescem. Os confrontos têm ocorrido principalmente nas ruas dos centros das grandes cidades e na frente do parlamento em Atenas, como quando da votação de cortes com os gastos públicos. Tal cenário só tende a se agravar, e o Estado grego já está exercendo a principal função que se espera de um Estado, sobretudo em momentos de crise, em uma economia neoliberal: repressão policial sobre a população insatisfeita, controle social mediante o uso direto da força. </div><div style="text-align: justify;">Diante do contexto grego, em particular, e da União Européia, em geral, qual direção a relação entre capital e trabalho está tomando na Europa? Seria a Grécia a primeira evidência do que está por vir? </div><div style="text-align: justify;">Não acredito em grandes previsões, pois a dinamicidade da história não permite tal ingenuidade, mas uma coisa é certa, e isso é o que está ocorrendo: o que sempre foi uma exigência feita pelos países desenvolvidos e suas organizações financeiras para o emprétimo de dinheiro aos países em desenvolvimento, a saber, o enxugamento do Estado, princípio central da implementação do neoliberalismo nos países periféricos, está se tornando cada vez mais um “universal categórico” para os próprios países que estiveram na dianteira da ordem global que gerou a crise atual. Se o primeiro país europeu, na atual crise, a receber uma soma considerével de empréstimo teve que tomar as mediadas de reajuste estrutural de que falei, o mesmo pode se esperar dos outros países que venham a receber empréstimos. Começando pelos mais fracos evidentemente. </div><div style="text-align: justify;">Quando muitos acreditavam que a crise atual estava pondo em cheque 30 anos do dogmatismo neoliberal, e até mesmo trazendo à tona novamente discursos keynesianos, o que estamos vendo na prática é um aprofundamento das políticas econômicas neoliberais em solo europeu. As palavras de Olli Rehn, o comissário europeu para questões monetárias e econômicas, não deixam dúvidas quanto a isso: “...os esforços fiscais dos estados membros da União Européia, a assistência financeira realizada pela comissão e estados membros, e as ações tomadas pelo Banco Central Europeu, provam que devemos defender o euro – seja o que for preciso” </div><div style="text-align: justify;">Se já bem antes da crise, benefícios à população assegurados pelo capitalismo de Estado dos governos social-democratas (o que ficou conhecido por Estado de bem-estar social) já vinham sendo progressivamente eliminados, com essa crise parece que o que até então havia restado das conquistas do pós-guerra está nos seus últimos dias. Essa crise veio para acabar definitivamente com o que ainda sobrava do capitalismo de bem-estar social. A resposta dos próprios estados a atual crise está consistindo na concretização "definitiva" do neoliberalismo. </div><div style="text-align: justify;">Em contrapartida, qual será a resposta dos trabalhadores dos outros países europeus à mediada que verem em seus países o mesmo ataque tão forte ao Estado e ao trabalho que estamos vendo na Grécia? As populações desses países mostrarão a mesma insatisfação grega? O cenário fortificará a relação entre os movimentos sociais, os trabalhadores? Será condição para uma maior internacionalização, em solo europeu, da luta contra o neoliberalismo e anti-capitalista? Ou veremos um crescimento de discursos de extrema direita, mais conflitos étnicos, xenofobia, cujos resultados são o aumento do sectarismo e da violência da população contra si mesma?</div><div style="text-align: justify;">Como todo momento crítico, as respostas para ele podem ser plurais, mas as atitudes de união que a população grega vem tomando podem não apenas servir de exemplo da consciência que o inimigo não é o seu vizinho, mas também um prenúncio de um ressurgimento de um forte conflito entre capital e trabalho nos países europeus. Os desdobramentos da mobilização popular na Grécia, que continua cada vez mais forte, apenas começaram, e ainda não sabemos se a violência do Estado acabará por conter a insatisfação, ou se, no país onde se criou a democracia, os excluídos da Pólis, que agora são os próprios gregos, conseguirão fortalecer-se e inspirar seus vizinhos na luta por uma democracia um pouco mais universal. </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-69311234551617730602010-04-25T00:06:00.009-03:002010-05-01T22:28:01.927-03:00Recrudesce a violência contra imigrantes em países europeus<div style="text-align: justify;">Os sentimentos de insegurança e medo entre os imigrantes ilegais nos países europeus de economia “forte” têm se agravado com a crise iniciada em 2008. A verdade é que em períodos de crescimento econômico esses países sempre precisaram de mão-de-obra barata de imigrantes oriundos principalmente dos países antes colônias, que deixam a sua nação de origem evidentemente pela dificuldade de sobrevivência e com a esperança de, apesar das adversidades de uma vida clandestina na Europa, melhorar sua condição e poder ajudar seus familiares. Em decorrência da crise atual, com muitos países estagnados economicamente, os índices de desemprego têm disparado; na Espanha, por exemplo, há estimativas de que o desemprego pode atingir 20% este ano. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Os partidos de extrema direita, como de se esperar, vêm se utilizando desse cenário para transformar os imigrantes em bodes expiatórios. O discurso simplista e martelado é o que já conhecemos: os imigrantes estão roubando o emprego dos europeus, eles são os culpados do desemprego! Com essa falácia racista e xenófoba tais líderes têm fortalecido sua representação política e muitos sido eleitos pela população. É evidente que usam essa linguagem de <em>slogans</em> fascistas, inventando um inimigo próximo, culpando o mais fraco, para através da repetição de um discurso de teor fanático, pautado na aversão ao diferente e na associação de um problema econômico a fatores raciais, adquirirem força política novamente. Não é de hoje que parte da força da extrema direita consiste na capacidade de em momentos de crise incutir em parte da população que um grupo social minoritário é a razão das suas mazelas. Já sabemos muito bem, e os exemplos históricos no continente não são poucos, o que ocorre quando tal linguagem convence a população e acaba por direcionar o seu comportamento. </div><div style="text-align: justify;">As leis de imigração têm endurecido em vários países. Jornalistas e grupos de direitos humanos europeus vêm denunciando violações e maus tratos que imigrantes estão sofrendo nesses países. Na Espanha, um imigrante ilegal, se pego, pode ficar encarcerado por até 40 dias, antes de ser deportado, em um presídio para imigrantes junto com pessoas que cometeram furtos e homicídios. O que vem ocorrendo é uma criminalização geral do imigrante ilegal, uma não distinção intencionada entre trabalhador e criminoso. O imigrante que consegue legalizar a sua situação tem que sempre que abordado por autoridades apresentar um cartão que comprova a sua legalidade. Há relatos de maus tratos por parte da polícia com trabalhadores que, por alguma razão, não apresentaram a identificação quando solicitados. A própria situação nos força a traçar paralelos com os momentos históricos de Estados autoritários e xenófobos na Europa. </div><div style="text-align: justify;">O crescimento, em andamento, da direita européia terá por tendências dois fenômenos, hoje, profundamente relacionados: a intensificação da violência contra o imigrante e a solidificação de uma propaganda irracional - nada nova - que aponta causas raciais para problemas econômicos. E é certo que esses são o meios usados pela extrema direita para se justificar no poder e se impor como única alternativa de solução. <br />
Estaria sendo dada atenção crítica suficiente ao recrudescimento de discursos e medidas claramente de teor fascista na Europa em face da crise atual?<br />
Nuvens sombrias pairam sobre o continente europeu...</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-53622265201492251342010-04-09T01:03:00.018-03:002010-05-11T23:33:59.230-03:00Por onde anda Keynes?<div align="justify">O fato de na crise econômica atual os governos dos países desenvolvidos terem despendido grandes somas de dinheiro para salvar o mercado não significa que estamos no começo de um novo keynesianismo. Um pacote de estímulo, como os 780 bilhões de dólares gastos pelo governo dos Estados Unidos para impedir a falência de alguns dos seus principais bancos e empresas, não é o suficiente para considerar essa intervenção estatal como uma medida classicamente keynesiana, como evidência de que a política econômica de livre mercado, desregulamentação e fluxo de capitais implementada sobretudo a partir do início da década de 80 começa, em função das dimensões da atual crise, a ser revista e desacreditada pelos próprios países que arquitetaram o neoliberalismo. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Keynes sabia que qualquer equilíbrio que o mercado encontre entre oferta e procura se dá sempre às custas do pleno emprego. Por isso a necessidade de intervenção do Estado não somente com dinheiro, mas com investimento em infraestrutura e regulação forte do mercado financeiro para, estimulando a economia, gerar emprego em massa e, consequentemente, a demanda por consumo. Em contrapartida, o que estamos vendo atualmente, com exceção da China, é que os países estão dando dinheiro para o mercado sem exigirem grande coisa como contrapartida, tampouco parecem apontar para a direção de estabelecer leis nacionais e internacionais de controle forte sobre as transações financeiras. </div><div align="justify">A China não sofreu recessão com a crise, continuando a crescer mais de 8% em 2009 em grande parte porque, sendo um Estado dono do seu sistema bancário, pôde empreender facilmente um plano maciço de aumento dos gastos públicos e exigir que os bancos aumentassem o crédito. Mas não vemos a Europa e Estados Unidos apontarem para a mesma direção. Por exemplo, países economicamente fracos da União Européia, como a Grécia, que já atingiu 10% de desemprego em 2010, estão sofrendo pressões da própria Comissão Européia, e portanto dos países europeus ricos, para controlar seus déficits através de cortes dos gastos públicos, sob ameaças de não mais receberem empréstimos. O que é um absurdo como medida para se sair de uma crise, e nada keynesiano. Na verdade, os países ricos sempre puderam aumentar o seu déficit orçamentário para sair de uma recessão. Ao contrário dos países pobres, que sempre sofrem pressão das instituições financeiras, como o FMI, para reduzir os gastos públicos e seus déficits. </div><div align="justify">Notem também que com a globalização da economia, e o fenômeno de desindustrialização dos países ricos, cujas empresas transferem a produção para os países em desenvolvimento em busca de mão-de-obra barata, incentivos fiscais, flexibilidade das leis trabalhistas e ambientais, etc., o investimento maciço por parte do Estado na economia não significa necessariamente grande geração de emprego e dinheiro na mão do consumidor, pois a maioria da mão de obra das empresas dos países desenvolvidos está nos países periféricos. E mesmo que seja aumentado o poder de consumo da sua população isso não significa que o mercado interno será aquecido e a geração de emprego aumentará consideravelmente. </div><div align="justify">O que o neoliberalismo criou, e não existia na época de Keynes, foram países em desenvolvimento industrial que crescem às custas de uma exploração da mão de obra barata e cuja produção abastece mercados em várias partes do globo, e países ricos cujas empresas transferem maciçamente seus complexos industriais, em busca de diminuição dos custos, para os países de economia em desenvolvimento. Vale lembrar que Keynes escreveu nos anos 30, e que em seus escritos procurou encontrar uma saída da recessão que a crise de 29 havia provocada, sobretudo nos Estados Unidos e Europa. Os países periféricos, muitos dentre eles ainda colônias então, não eram uma preocupação no modelo de capitalismo de Estado proposto por Keynes</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">IMPASSE ECOLÓGICO: O GRANDE OBSTÁCULO AO MODELO KEYNESIANO</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A lógica do capital de superprodução e super-acumulação nos levou ao impasse ambiental atual ao transformar tudo o que é vivo em mercadoria morta. Em face dos impactos ambientais resultantes do nosso modo de produção, falar meramente em desenvolvimento para sair da crise é estar cego para o fato de que a crise atual não é apenas econômica, e que portanto não exige apenas medidas econômicas para ser superada. Tornar mais e mais pessoas consumidores como os estadunidenses além de absurdo, dado serem os países desenvolvidos, em grande parte por causa do seu padrão de consumo, os que mais poluíram e afetaram o ecossistema, é também uma irresponsabilidade imensurável.</div><div align="justify">A crise é de modelo porque não é apenas interna, mas do impacto do modelo sobre o que lhe é externo. Os recursos naturais não são uma fonte infinita de material para a acumulação “ad infinitum” de capital. O impasse ambiental põe em cheque o próprio modelo capitalista, inclusive até para aqueles que não consideram o desemprego estrutural e o abismo crescente entre ricos e pobres como problemas insuperáveis nos marcos da economia capitalista.</div><div align="justify">Certamente, em função da sua própria lógica interna, no pós-guerra, com uma Europa destruída, a melhor saída para a economia capitalista superar a recessão foi o investimento na reconstrução da infraestrutura dos Estados. E quando na década de 70, o Estado de bem-estar-social, cuja origem remonta à políticas econômicas keynesianas iniciadas no pós-guerra, não foi mais interessante para a economia dos países ricos, o que vimos foi uma desmantelação do Estado e dos benefícios que ele criou, de maneira a não frear a acumulação de capital. O contexto atual de desenvolvimento das forças produtivas, de aprofundamento da crise internacional, de desilusão em face do fracasso de outros modelos de produção, como a economia planificada dos países comunistas, chama, como observa o economista filipino Walden Bello, "por uma regulação do mercado financeiro assim como dos mercados de <em>commodities</em>, e um gasto maciço por parte dos governos. Contudo, as necessidades do nosso tempo vão além de medidas keynesianas para abarcar uma distribuição maciça de renda, ataque à pobreza, uma radical transformação das relações de classes, desglobalização, e talvez - mas eu diria necessariamente - uma transcendência do capitalismo sob a ameaça de um cataclisma ambiental". </div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-63797475890258313102010-03-26T22:15:00.007-03:002010-05-11T23:35:15.750-03:00Informações sobre o capitalismo do desastre no Haiti<div style="text-align: justify;">Passados dois meses do terremoto no Haiti, milhares de haitianos afetados pela catástrofe nem sequer receberam tendas sob as quais possam encontrar um abrigo provisório. Dias atrás o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que hoje, junto com Bush filho, gerencia a busca de recursos privados para o Haiti - pasmem - pediu desculpas pelo fato de, durante o seu governo, os EUA terem tido uma papel determinante para que o Haiti importasse arroz norte-americano subsidiado, o que desde os anos 80 tem acabado com a agricultura do país, empobrecendo milhares de camponezes produtores de arroz, e fomentando a migração em massa do campo para Porto Príncipe (ver o texto 2 deste blog). </div><div style="text-align: justify;"><strong>Mais um dado sobre o espólio da ilha</strong>: a empresa privada estadunidense Chemonics, "que recebeu vários contratos totalizando dezenas de milhões de dólares fornecidos pela USAID, é uma subsidiária da ERLY Industries, que também é a empresa controladora da American Rice Corporation (Corporação Americana de Arroz), uma das principais beneficiárias das políticas pelas quais Clinton pediu desculpas" (<a href="http://www.zcommunications.org/thousands-of-haitians-will-die-unless-u-s-beefs-up-relief-efforts-by-mark-weisbrot">http://www.zcommunications.org/thousands-of-haitians-will-die-unless-u-s-beefs-up-relief-efforts-by-mark-weisbrot</a>). </div><div style="text-align: justify;">A ocupação do Haiti continua - com os Estados Unidos e a ONU, tendo o Brasil à frente, dividindo a intensificação de uma tragédia que já não interessa mais como espetáculo midiático - a prolongar o sofrimento e a fome de uma população já há muito tempo privada do direito de escolher o seu próprio destino. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-7614842799329583192010-03-15T02:32:00.024-03:002010-03-21T23:41:58.526-03:00Da sanitização da guerra<div style="text-align: justify;">A sanitização das imagens de guerra tem sido uma preocupação dos governos que empreendem a guerra. Se o público tivesse acesso de fato às imagens e relatos das atrocidades que ocorrem com civis, sobretudo crianças e mulheres, os governos sabem que grande parte do apoio que recebem de sua população seria perdido. E não somente acesso a imagens de morte e destruição, que são algumas das inevitáveis consequências desumanizadoras mais impactantes da guerra, mas também o acesso aos relatos de civis que, no seu dia-a-dia, sofrem diretamente os efeitos da barbárie da guerra e da ocupação estrangeira. <br />
Na atual guerra do Iraque, que completa 7 anos, quais redes de TV, exceto algumas árabes, dão voz e visibilidade ao depoimento daqueles que verdadeiramente sofrem com a ocupação da coalizão guiada pelo Estados Unidos? Somado ao fato de que quando imagens nos chegam elas são "purificadas", editadas para o telespectador digeri-las sem mal-estar na sua sala de TV, há a dificuldade - na verdade a atual impossibilidade - que os jornalistas estrangeiros, em função da violência cada vez mais crescente no pais, e dos riscos de sequestros e assassinatos, estão tendo de, por exemplo, entrar na conhecida área vermelha, que é a área não militarizada pela força de ocupação, e que é onde vive a população da capital Bagdá. A maioria dos jornalistas ficam na zona verde, região onde está o antigo palácio do governo de Saddam, e onde as embaixadas estadunidenses e britânicas estão instaladas, assim como bases militares e bases de empresas privadas militares e de logística contratadas pelos países ocupantes, em uma guerra que é a mais privatizada de todas as guerras da história contemporânea. <br />
Evidentemente que para receberem proteção os jornalistas que estão na zona verde sofrem um controle sobre o que podem reportar e somente recebem as informações que as forças de ocupação decidem transmitir. A maioria dos jornalistas sequer saem dessa fortaleza amplamente militarizada, e quando saem são escoltados por soldados ou mercenários fortemente armados que os levam, em carros blindados, a um "passeio" fora da fortaleza. E claro que os textos e imagens que nos chegam da guerra do Iraque, são aqueles produzidos por esse jornalistas, na sua maioria são funcionários das grandes redes de jornalismo mundial. <br />
Hoje, para ter acessa ao que ocorre para além dos portões da zona verde, somente através de informações tanto de jornalistas profissionais iraquianos quanto de cidadãos comuns que decidiram relatar em blogs a vida sob a ocupação. Esses iraquianos sofrem riscos de vida todos os dias, pois, uma vez que não estão comprometidos nem com as forças insurgentes e tampouco com as forças de ocupação, não recebem nenhuma forma de proteção e são alvos a todo momento. <br />
Sanitizar a guerra é uma estratégia dos governos, mas as grandes redes de jornalismo dos países ocupantes cumprem um papel central para essa higienização do horror. O que é, para o jornalismo da grande mídia dos países ocupantes, mais uma criança iraquiana que morre por ausência de medicamentos básicos, num hospital onde nem seringas existem, ou de uma pai que é assassinado por um soldado ocupante a caminho da casa de sua mãe, ou de parentes e amigos coletando o que restou dos corpos de conhecidos por ocasião de um carro bomba que explodiu em uma rua movimentada? A morte não noticiada de um iraquiano, pobre, antes privado de qualquer direito e liberdade, é o último estágio de um esquecimento imposto. Mostrar tais realidades, tão cotidianas hoje no Iraque, seria por em xeque a falsa legitimidade da guerra feita pelos governos ocupantes e apresentada, senão como justa, então como mal necessário, pelas mídias corporativas desses países. Essas mesmas mídias que fabricaram, junto a seus governos, as razões que justificaram a invasão, sem dúvida não estarão comprometidas com o povo iraquiano.<br />
Nas guerras televisivas do final do século XX e começo do XXI, de imagens que fabricam a mentira de supostos "bombardeios cirúrgicos", com o "mínimo de efeitos colaterais" (termos que enojam pela frieza de sua dissimulação e pelo significado implícito que escondem), o que interessa é a ação dos primeiros dias de invasão, o espetáculo da derrubada de um regime, o roteiro de ação. A população são números contabilizados, que, na maioria das vezes, não são nem os números reais. <br />
Mas muitos iraquianos sabem, melhor do que ninguém, que, sob o horror e o sofrimento de viver sob essa ocupação militar imperialista, quando ouvidos, é porque muito fizeram para resistir ao silêncio imposto. Resistência que tem sido feita tanto pelas armas, quanto pelo testemunho pessoal da tragédia através da internet ( http://aliveinbaghdad.org/), sem a filtragem e manipulação das imagens por parte das redes de TV ocidentais. <br />
<br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4944164197981667703.post-11424896792270909572010-02-27T17:20:00.007-03:002010-05-03T02:17:24.345-03:00Capitalismo e Estado pluriétnico<div style="text-align: justify;">No centro da luta dos povos indígenas da América Latina está a busca pela autonomia dos seus territórios. Autonomia cuja concretização somente se dá mediante a consolidação de territórios com sua própria organização socioeconômica, sistema jurídico e valores culturais. É evidente que um modelo de Estado dentro do qual há de fato territórios autônomos é uma alternativa ao modelo colonial de um Estado-nação. <br />
Um Estado Plurinacional, no contexto latinoamericano, não seria somente uma reformulação do antigo, mas uma superação deste. Porque quando se fala em plurinacionalismo se está falando de um Estado que, em função da sua diversidade econômica, social e cultural, rompe com a própria natureza do Estado burguês, no qual sobretudo uma única política econômica, quer desenvolvimentista quer neoliberal, é aplicada a toda a nação, independentemente da sua diversidade social e étnica. <br />
Os povos milenares do nosso continente sabem muito bem que apenas liberdade em exercer e valorizar seus costumes dentro dos marcos de um Estado burguês não altera praticamente em nada a estrutura de opressão, pois não toca na questão central para a hegemonia dos povos indígenas: a autonomia econômica dos seus territórios e o controle sobre seus próprios recursos naturais. Por isso, a luta indígena é uma luta contra o modelo capitalista de apropriação dos recursos naturais, contra a lógica do capital de acumulação irrefreável. A filosofia de vida dos povos indígenas, cujos princípios fundamentais são o respeito à natureza, democracia comunitária e vigência dos seus costumes e valores, sempre foram na contramão da expansão capitalista. <br />
Estados que aprovaram constituições pluriétnicas, como a Bolívia, estão frente a um desafio imenso, pois ao mesmo tempo em que afirmam um Estado plurieconômico, procuram também, mediante políticas desenvolvimentistas, diversificar a estrutura produtiva do país, tão dependente de exportações de produtos primários. Um modelo de produção desenvolvimentista, que impulsiona a industrialização de matérias-primas para mudar o modelo econômico, sem dúvida é muito mais comprometido com o enriquecimento do país do que um modelo de economia desregulada, pautada na privatização do setor público, exportação de matéria-prima e importação em massa, que só tem causado mais empobrecimento e desigualdades em países tão pobres como a Bolívia. <br />
Contudo, o problema é que um Estado em processo de industrialização aumenta o uso dos seus recursos naturais, e é aí que está o desafio. Num Estado plurinacional, em função das autonomias dos territórios sobre os seus recursos naturais, políticas econômicas desenvolvimentistas vindas de cima para baixo certamente encontrariam limites institucionais. Não estou dizendo que um Estado plurfinacional e descolonizado não pode se industrializar, mas que um capitalismo desenvolvimentista também é um modelo econômico incompatível com um modelo de Estado plurinacional. <br />
Não há receita para o modo mais adequado de se impulsionar a industrialização e a geração de melhores condições de vida para a população nos marcos de um Estado pluriétnico. O segundo mandato do governo Evo Morales na Bolívia, por exemplo, terá que enfrentar esse dilema, e a solução mais adequada somente virá de fato se houver ampla consulta popular, fortalecimento da democracia direta, participativa, respeito à autonomia econômica dos territórios indígenas, e subordinação do desenvolvimento econômico às necessidades da população. Somente assim será possível continuar, no caso da Bolívia, no caminho de refundação de um novo Estado. <br />
<br />
</div>Latinoamericano.http://www.blogger.com/profile/08815126457184492679noreply@blogger.com1