O pronunciamento imediato dos países membros da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) condenando a tentativa de golpe de Estado no Equador demonstra o comprometimento da maioria dos governos latino-americanos com a democracia e também sinaliza que existe solidariedade entre os Estados contra o golpismo na região . Mesmo que a correlação de forças no Equador não tivesse pendido a favor do governo de Rafael Corrêa, e eventualmente as forças armadas e a polícia tivessem concretizado o golpe, como ocorreu em Honduras, o posicionamento dos países vizinhos, que às pressas se reuniram na Argentina e logo enviaram uma comitiva de chanceleres à Quito como apoio ao governo, teria ainda assim sido de grande significação e deixaria as forças golpistas equatorianas isoladas.
A importância central da solidariedade entre os Estados sul-americanos contra o golpismo e o imperialismo é que ela impulsiona e fortalece a solidariedade entre os movimentos sociais e partidos de esquerda em todo a região contra o fantasma dos golpes civil-militares. O apoio externo aos movimentos sociais do país sob ameaça aumenta a combatividade desses movimentos e aprofunda a experiência democrática, uma vez que aproxima e integra as bases sociais responsáveis pelas transformações que vêm ocorrendo na última década na América Latina. Dos 4 golpes arquitetados nos últimos dez anos, apenas o em Honduras se concretizou, apesar da mobilização e resistência da sociedade hondurenha. Na Venezuela em 2002, não fossem milhares de pessoas nas ruas e em frente ao Palácio de MiraFlores exigindo o retorno de Chávez, certamente que o golpe teria ocorrido. Também em 2008 a resistência popular e seu apoio ao governo de Evo Morales na Bolívia foram fundamentais para que parte da elite boliviana não desestabilizasse o governo com usas ameaças separatistas. Do mesmo modo no Equador na última quinta-feira, quando houve mobilização social contra a tentativa de golpe então em curso.
Cada vez mais o papel dos blocos regionais será de importância central para evitar que governos eleitos democraticamente e comprometidos com amplas reformas sociais ou até mesmo com um projeto de socialismo democrático, como no caso da Venezuela e Bolívia, sejam desestabilizados, ao ponto de caírem, por forças de direita internas em conluio com o imperialismo estadunidense. O fato da dificuldade de derrubar os atuais governos democráticos de esquerda na região mostra que já não é tão fácil arquitetar um golpe como em décadas anteriores, sem que os países vizinhos manifestem repúdio ao golpe e tomem conjuntamente algumas decisões estratégicas para conter a sua consolidação. Hoje os impactos de uma violação da legalidade democrática num país da América Latina logo se estendem para além das fronteiras da nação, e chamam a atenção da opinião pública, dos países membros dos blocos de integração regional e de órgãos internacionais. A atual correlação de forças, com a maioria dos países latino-americanos impulsionando uma maior unidade econômica entre si, e, como consequência, consolidando uma superação da tradicional submissão econômica e ideológica aos Estados Unidos e à sua intenção de consolidar o neoliberalismo aqui por meio de tratados unilaterais de livre-comércio norte-sul, evidencia cada vez mais que os países da região não aceitam mais o rótulo de quintal de Washington, e que, mesmo nos marcos do capitalismo, como no Brasil e Argentina, são capazes de, no cenário internacional, fazer valer os seus interesses como blocos integrados.
Contudo, os EUA não aceitam que estão perdendo terreno na região, e junto com forças golpistas latino-americanas, as mesmas por traz da onda de golpes que ocorreram entre as décadas de 60, 70 e 80 do século passado e as únicas que se beneficiam de um alinhamento de submissão com Washington, tentam desestabilizar a região para, sobretudo, derrubar os países que têm mostrado ser possível, democraticamente, construir condições materiais para uma transformação social profunda cujo horizonte seja o socialismo. Quer acreditemos ou não que isso seja possível, o fato é que esses países têm enraivecido Washington, que não vem medindo esforços para financiar e apoiar a desestabilização dos seus governos. Sabe-se que a tentativa frustrada de golpe na Venezuela e o golpe em Honduras tiveram apoio estadunidense, quer por meio de seus serviços de inteligência, quer pela USAID (sigla em inglês para Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que tem um histórico de financiamento de partidos e grupos dos países alvo que se opõem aos seus governos. Não é de se esperar cenário diferente no caso do Equador, onde setores da polícia e das forças armadas - os que tentaram dar o golpe - têm relações próximas com membros da embaixada norte-americana em Quito e com órgãos de inteligência estadunidenses. Quando Chávez diz que por traz das forças de direita nos países da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e das suas tentativas de golpe está os Estados Unidos, não é paranóia, e tampouco uma jogada política do governo venezuelano. A Venezuela é de fato o Estado sob mais ameaças retóricas e concretas de Washington. O país, que faz fronteira com a Colômbia - país em parte sob ocupação dos Estados Unidos - vem há anos sofrendo a infiltração em seu território de paramilitares financiados pelo governo Colombiano e pelos EUA, com o intuito de desestabilizar o governo Chávez e fazer da Venezuela a principal rota da internacionalização da droga produzida na Colômbia, fazendo o país passar por Estado que financia o narcotráfico. Com a soberania venezuelana sob ameaça concreta, as preocupações de Chávez são no mínimo razoáveis.
Por isso que quanto mais países progressistas houver na região maior serão as dificuldades de que o golpismo tome força novamente na América Latina. Sabemos que para os Estados Unidos a democracia só interessa em um país em sua área de influência se o governo desse país obedecer aos ditames de Washington. E que tão logo um governo eleito contesta seriamente essa submissão, o lema é: antes um regime autoritário que siga as ordens da Casa Branca. Tem sido assim desde a guerra fria e continua sendo até agora, basta atentar para os exemplos mais gritantes, que são as relações amigáveis dos EUA com ditaduras alinhadas no Oriente Médio. Para o imperialismo norte-americano na América Latina, qualquer proximidade entre democracia e autonomia sempre será uma ameaça.
Quanto mais forte a integração entre os países e os povos na América Latina maior serão as dificuldades de que o golpismo se torne a regra e não a exceção. Se Honduras nos assombra com o reaparecimento dos horrores do autoritarismo e terrorismo de Estado, que à revelia de resistência popular, provoca perseguições, torturas, assassinatos e desaparecimentos, a Venezuela e o Equador, em contrapartida, mostram para o imperialismo que não aceitaremos a repetição dos horrores de regimes ditatoriais conduzidos ao poder sob supervisão de administrações republicanas e democratas. O continuado papel imperialista dos Estados Unidos na região mesmo após o fim do bloco socialista apenas torna mais escancarado os objetivos do império, uma vez que o discurso da ameaça comunista em seu quintal já não existe mais. O que os Estados Unidos não querem é que os rumos políticos e econômicos nos países da região se afastem do clientelismo e alinhamento estrito com Washington.
Assim, a cada governo progressista eleito ou reeleito na região acresce um peso a mais na correlação de forças para o lado da autonomia e do aprofundamento da democracia na América Latina. O repúdio do presidente Lula à tentativa de golpe no Equador e o papel significativa do Brasil nos últimos oito anos para o fortalecimento da integração regional e respeito à soberania dos seus vizinhos, revela que, no plano internacional, o governo petista se diferenciou em muito do governo anterior. Basta lembrar que umas das críticas de Alckmin - quando candidato à presidência em 2006 - à política externa do governo Lula foi o fato de o Brasil não ter agido, segundo ele, duramente com a Bolívia em relação à crise do gás, quando o governo de Evo Morales nacionalizou os hidrocarbonetos. O governo brasileiro agiu como deveria agir, respeitando a soberania de um Estado vizinho e o seu direito de iniciar um projeto de desenvolvimento nacional para o qual os hidrocarbonetos têm papel central. Para Alckmin, o governo brasileiro deveria defender a qualquer custo os interesses das nossas empresas. Serra também criticou publicamente o apoio da embaixada brasileira ao presidente hondurenho deposto, quando o abrigou na embaixada, impedindo assim que ele tivesse sido capturado e assassinado pelos golpistas. E não é preciso imaginação para saber qual seria o posicionamento de um governo tucano em relação ao golpe de Estado no Equador.
Em vista da atual conjuntura e do papel que o Estado brasileiro vem desempenhando na consolidação de uma maior integração regional, a vitória do governo petista nas eleições, com todos os erros que nele podemos identificar, será, por isso, decisiva para o fortalecimento da solidariedade entre os países latino-americanos, e para o impedimento de que o golpismo ganhe aval e, por isso, novamente força, na região.
Fiquemos alerta, Honduras mostrou que a repetição do terrorismo de Estado é mais real do que aparentava ser.
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Algumas fontes:
1. http://www.brasildefato.com.br/node/2404;
2. http://www.zcommunications.org/coup-attempt-in-ecuador-by-eva-golinger;
3.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79253-NN/se-mantiene-estado-de-excepcion-en-ecuador-mientras-regresa-la-calma-tras-golpe/;
4.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79236-NN/chavez-rechaza-intento-de-golpe-de-estado-en-ecuador-y-responsabiliza-a-eeuu/;
5.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79269-NN/cancilleres-de-la-unasur-arriban-a-quito-para-ratificar-respaldo-a-la-democracia/ ;
6. http://www.telesurtv.net/noticias/contexto/2199/informe-confirmado-inteligencia-usa--penetro-a-fondo-la-policia-ecuatoriana/.
A importância central da solidariedade entre os Estados sul-americanos contra o golpismo e o imperialismo é que ela impulsiona e fortalece a solidariedade entre os movimentos sociais e partidos de esquerda em todo a região contra o fantasma dos golpes civil-militares. O apoio externo aos movimentos sociais do país sob ameaça aumenta a combatividade desses movimentos e aprofunda a experiência democrática, uma vez que aproxima e integra as bases sociais responsáveis pelas transformações que vêm ocorrendo na última década na América Latina. Dos 4 golpes arquitetados nos últimos dez anos, apenas o em Honduras se concretizou, apesar da mobilização e resistência da sociedade hondurenha. Na Venezuela em 2002, não fossem milhares de pessoas nas ruas e em frente ao Palácio de MiraFlores exigindo o retorno de Chávez, certamente que o golpe teria ocorrido. Também em 2008 a resistência popular e seu apoio ao governo de Evo Morales na Bolívia foram fundamentais para que parte da elite boliviana não desestabilizasse o governo com usas ameaças separatistas. Do mesmo modo no Equador na última quinta-feira, quando houve mobilização social contra a tentativa de golpe então em curso.
Cada vez mais o papel dos blocos regionais será de importância central para evitar que governos eleitos democraticamente e comprometidos com amplas reformas sociais ou até mesmo com um projeto de socialismo democrático, como no caso da Venezuela e Bolívia, sejam desestabilizados, ao ponto de caírem, por forças de direita internas em conluio com o imperialismo estadunidense. O fato da dificuldade de derrubar os atuais governos democráticos de esquerda na região mostra que já não é tão fácil arquitetar um golpe como em décadas anteriores, sem que os países vizinhos manifestem repúdio ao golpe e tomem conjuntamente algumas decisões estratégicas para conter a sua consolidação. Hoje os impactos de uma violação da legalidade democrática num país da América Latina logo se estendem para além das fronteiras da nação, e chamam a atenção da opinião pública, dos países membros dos blocos de integração regional e de órgãos internacionais. A atual correlação de forças, com a maioria dos países latino-americanos impulsionando uma maior unidade econômica entre si, e, como consequência, consolidando uma superação da tradicional submissão econômica e ideológica aos Estados Unidos e à sua intenção de consolidar o neoliberalismo aqui por meio de tratados unilaterais de livre-comércio norte-sul, evidencia cada vez mais que os países da região não aceitam mais o rótulo de quintal de Washington, e que, mesmo nos marcos do capitalismo, como no Brasil e Argentina, são capazes de, no cenário internacional, fazer valer os seus interesses como blocos integrados.
Contudo, os EUA não aceitam que estão perdendo terreno na região, e junto com forças golpistas latino-americanas, as mesmas por traz da onda de golpes que ocorreram entre as décadas de 60, 70 e 80 do século passado e as únicas que se beneficiam de um alinhamento de submissão com Washington, tentam desestabilizar a região para, sobretudo, derrubar os países que têm mostrado ser possível, democraticamente, construir condições materiais para uma transformação social profunda cujo horizonte seja o socialismo. Quer acreditemos ou não que isso seja possível, o fato é que esses países têm enraivecido Washington, que não vem medindo esforços para financiar e apoiar a desestabilização dos seus governos. Sabe-se que a tentativa frustrada de golpe na Venezuela e o golpe em Honduras tiveram apoio estadunidense, quer por meio de seus serviços de inteligência, quer pela USAID (sigla em inglês para Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que tem um histórico de financiamento de partidos e grupos dos países alvo que se opõem aos seus governos. Não é de se esperar cenário diferente no caso do Equador, onde setores da polícia e das forças armadas - os que tentaram dar o golpe - têm relações próximas com membros da embaixada norte-americana em Quito e com órgãos de inteligência estadunidenses. Quando Chávez diz que por traz das forças de direita nos países da ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e das suas tentativas de golpe está os Estados Unidos, não é paranóia, e tampouco uma jogada política do governo venezuelano. A Venezuela é de fato o Estado sob mais ameaças retóricas e concretas de Washington. O país, que faz fronteira com a Colômbia - país em parte sob ocupação dos Estados Unidos - vem há anos sofrendo a infiltração em seu território de paramilitares financiados pelo governo Colombiano e pelos EUA, com o intuito de desestabilizar o governo Chávez e fazer da Venezuela a principal rota da internacionalização da droga produzida na Colômbia, fazendo o país passar por Estado que financia o narcotráfico. Com a soberania venezuelana sob ameaça concreta, as preocupações de Chávez são no mínimo razoáveis.
Por isso que quanto mais países progressistas houver na região maior serão as dificuldades de que o golpismo tome força novamente na América Latina. Sabemos que para os Estados Unidos a democracia só interessa em um país em sua área de influência se o governo desse país obedecer aos ditames de Washington. E que tão logo um governo eleito contesta seriamente essa submissão, o lema é: antes um regime autoritário que siga as ordens da Casa Branca. Tem sido assim desde a guerra fria e continua sendo até agora, basta atentar para os exemplos mais gritantes, que são as relações amigáveis dos EUA com ditaduras alinhadas no Oriente Médio. Para o imperialismo norte-americano na América Latina, qualquer proximidade entre democracia e autonomia sempre será uma ameaça.
Quanto mais forte a integração entre os países e os povos na América Latina maior serão as dificuldades de que o golpismo se torne a regra e não a exceção. Se Honduras nos assombra com o reaparecimento dos horrores do autoritarismo e terrorismo de Estado, que à revelia de resistência popular, provoca perseguições, torturas, assassinatos e desaparecimentos, a Venezuela e o Equador, em contrapartida, mostram para o imperialismo que não aceitaremos a repetição dos horrores de regimes ditatoriais conduzidos ao poder sob supervisão de administrações republicanas e democratas. O continuado papel imperialista dos Estados Unidos na região mesmo após o fim do bloco socialista apenas torna mais escancarado os objetivos do império, uma vez que o discurso da ameaça comunista em seu quintal já não existe mais. O que os Estados Unidos não querem é que os rumos políticos e econômicos nos países da região se afastem do clientelismo e alinhamento estrito com Washington.
Assim, a cada governo progressista eleito ou reeleito na região acresce um peso a mais na correlação de forças para o lado da autonomia e do aprofundamento da democracia na América Latina. O repúdio do presidente Lula à tentativa de golpe no Equador e o papel significativa do Brasil nos últimos oito anos para o fortalecimento da integração regional e respeito à soberania dos seus vizinhos, revela que, no plano internacional, o governo petista se diferenciou em muito do governo anterior. Basta lembrar que umas das críticas de Alckmin - quando candidato à presidência em 2006 - à política externa do governo Lula foi o fato de o Brasil não ter agido, segundo ele, duramente com a Bolívia em relação à crise do gás, quando o governo de Evo Morales nacionalizou os hidrocarbonetos. O governo brasileiro agiu como deveria agir, respeitando a soberania de um Estado vizinho e o seu direito de iniciar um projeto de desenvolvimento nacional para o qual os hidrocarbonetos têm papel central. Para Alckmin, o governo brasileiro deveria defender a qualquer custo os interesses das nossas empresas. Serra também criticou publicamente o apoio da embaixada brasileira ao presidente hondurenho deposto, quando o abrigou na embaixada, impedindo assim que ele tivesse sido capturado e assassinado pelos golpistas. E não é preciso imaginação para saber qual seria o posicionamento de um governo tucano em relação ao golpe de Estado no Equador.
Em vista da atual conjuntura e do papel que o Estado brasileiro vem desempenhando na consolidação de uma maior integração regional, a vitória do governo petista nas eleições, com todos os erros que nele podemos identificar, será, por isso, decisiva para o fortalecimento da solidariedade entre os países latino-americanos, e para o impedimento de que o golpismo ganhe aval e, por isso, novamente força, na região.
Fiquemos alerta, Honduras mostrou que a repetição do terrorismo de Estado é mais real do que aparentava ser.
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Algumas fontes:
1. http://www.brasildefato.com.br/node/2404;
2. http://www.zcommunications.org/coup-attempt-in-ecuador-by-eva-golinger;
3.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79253-NN/se-mantiene-estado-de-excepcion-en-ecuador-mientras-regresa-la-calma-tras-golpe/;
4.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79236-NN/chavez-rechaza-intento-de-golpe-de-estado-en-ecuador-y-responsabiliza-a-eeuu/;
5.http://www.telesurtv.net/noticias/secciones/nota/79269-NN/cancilleres-de-la-unasur-arriban-a-quito-para-ratificar-respaldo-a-la-democracia/ ;
6. http://www.telesurtv.net/noticias/contexto/2199/informe-confirmado-inteligencia-usa--penetro-a-fondo-la-policia-ecuatoriana/.