A Federação Egípcia de Sindicatos Independentes emitiu neste mês uma carta pública na qual constam os principais princípios da Federação. Embora já tenha tido tentativas anteriores de união de sindicatos independentes durante a ditadura militar, quando somente sindicatos associados ao Estado e ligados ao Partido Nacional-democrático (o partido do regime) eram permitidos, somente após a revolução consolidou-se uma declaração constitucional de direito da existência de sindicatos e federações independentes. Os sindicatos que formam a Federação são oriundos dos mais diversos setores: de serviços, funcionalismo público, indústria, construção civil, camponês etc. No seu documento a Federação deixa claro a sua valorização da luta por justiça social, questão central da revolução, que também exige liberdades políticas, mas cujo fermento foi e tem sido a exclusão social da maioria da população, que vive em condições terríveis de desemprego, pobreza, fome, etc.
Entre os princípios da Federação destacam-se: “independência em relação a todos os partidos políticos, instituições e organizações oficiais, organizações de direitos humanos e indivíduos”; (2) “os sindicatos independentes [...] somente seguirão as vontades das assembléias gerais dos seus membros e que o princípio de independência é um princípio geral que se aplica a todos os membros sem exceção”; (3) rejeição “de todas as formas de cooperação com pessoas ou organização envolvidas em acordos”; (4) “Afirmamos também que uma das principais razões da nossa rejeição da antiga Federação dos Sindicatos Egípcios é a sua subserviência ao Estado e ao Partido Nacional-democrático”. (5) “Os sindicatos independentes dependem para o seu fundo de contribuições dos seus membros e não aceitará apoio financeiro de qualquer outra fonte, quer interna que estrangeira. As assembléias gerais têm total autoridade para supervisão financeira dos sindicatos. Afirmamos que este princípio de auto-financiamento e auto-suficiência é parte inseparável do princípio de independência sobre o qual os sindicatos estão fundados”.
Importante também de destacar é a oposição da Federação aos acordos entre o Estado de Israel e o Egito, tanto no que se refere a questões centrais para a geopolítica da região, como a questão Palestina, dando completo apoio à resistência palestina, quanto o repúdio a acordos econômicos, apoiados pela Federação Egípcia de Sindicatos, como a conhecida venda de gás para Israel: (1) “acompleto apoio aos direitos do povo palestino de criar um Estado independente em toda a Palestina, e ao seu direito de usar os meios de resistência para conquistar os seus direitos”; (2) rejeição “ao fracasso [da Federação Egípcia dos Sindicatos] em se opor [...] ao acordo de fornecimento de gás e outras políticas que por seu silencio ela apoiou enquanto o movimento dos trabalhadores egípcios as rejeitaram e resistiram a elas”.
Embora o foco da imprensa na sua maioria é sobre a formação de partidos políticos como possíveis expressões dos mais diversos setores da sociedade egípcia, o que também é importante, mas que não significa necessariamente que a população esteja participando verdadeiramente na formação e determinação dos programas dos partidos, a iniciativa de organização independente dos trabalhadores egípcios é sem dúvida o passo mais importante no processo revolucionário em curso no país. Sobretudo porque, ao contrário do que se veicula (com o mito das redes sociais e dos jovens bem formados e antenados), foram setores dos trabalhares egípcios, que vivem condições de trabalho extremamente precárias, com salários miseráveis, além de por décadas terem sofrido repressões sistemáticas e proibidos de se organizarem, que criaram as condições para os 18 dias de mobilizações que derrubaram Mubarak.
O inconformismo dos trabalhadores com suas condições era tamanho que em 2010 não houve um dia sequer no Egito em que trabalhadores de algum setor não estivessem em greve. Mais uma vez, independentemente da existência ou não de partidos com posicionamento real ou retórico de classe, os trabalhadores, por meio das suas formas de organização de resistência e de reivindicação de direitos, procuram, de forma independente, fazer luta e radicalizar o processo democrático mediante o conteúdo claramente de classe das suas demandas.
Toda solidariedade ao movimento dos trabalhadores que estão procurando consolidar uma Federação independente, que de fato seja controlada pelos próprios trabalhadores egípcios e que, por isso, expresse realmente suas demandas. Pois não há dúvida de que os caminhos que esta revolução em curso tomará dependerá em muito da capacidade de pressão da classe trabalhadora egípcia e da sua unidade na luta por uma radicalização classista do processo democrático.
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Referência:
* Declaração em inglês da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes:
http://www.zcommunications.org/egyptian-independent-union-federation-statement-by-egyptian-independent-union-federation
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Há 2 anos
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